Na cozinha da Casa do Povo de Manique do Intendente, a azáfama começa cedo e não abranda ao longo do dia. Há tachos ao lume, alguidar a rodar de mão em mão e um entra e sai constante que obriga a uma coreografia afinada. Aqui, todos são poucos para dar resposta às encomendas dos Fritos Tradicionais de Natal, uma tradição que a instituição mantém desde 2017 e que voltou este ano a mobilizar funcionários em pleno horário de trabalho.
O ambiente é de concentração, mas também de boa disposição. Entre fornadas, contam-se histórias, trocam-se impressões e ajustam-se tempos. Cada detalhe conta para que os fritos saiam no ponto certo, iguais aos que a memória guarda. O esforço é coletivo e exige organização, porque, enquanto se frita, a Casa do Povo continua a assegurar os apoios domiciliários, a distribuição de refeições e o funcionamento normal da instituição.

“Escolhemos sempre um único dia, o mais próximo possível do Natal”, explica Pedro Moita, presidente da Casa do Povo de Manique do Intendente. “Em contexto de trabalho é impossível estarmos com este extra durante vários dias. Temos de garantir os apoios às pessoas e o trabalho diário não pode parar.”
Apesar dessas limitações, a procura voltou, uma vez mais, a superar as expectativas. Só neste dia foram produzidos 289 Fritos Tradicionais de Natal, um número apurado com rigor, alguidar a alguidar, e que rapidamente encontrou destino. “Nunca conseguimos fazer que chegue para tantos pedidos, o que é bom sinal, porque são bons”, resume Pedro Moita.

As encomendas chegam em quantidade. Há quem leve dez ou quinze fritos de uma só vez, muitos para congelar e guardar para a consoada. Outros acabam por não conseguir comprar, confirmando que, se houvesse mais, também se venderiam. Para a instituição, além do sabor e da tradição, esta iniciativa representa uma importante forma de angariação de fundos, ajudando a reforçar a sustentabilidade financeira da Casa do Povo.
Vendidos à unidade e com um tamanho semelhante, os Fritos Tradicionais de Natal seguem um método que se repete ano após ano, afinado pela experiência e pela prática. A designação escolhida evita discussões de nomes e mantém o foco no essencial: o produto e a tradição que lhe está associada.
E se o calendário aponta para dezembro, a verdade é que em Manique do Intendente os fritos não se fazem apenas no Natal. A tradição repete-se no Dia de Reis, em fevereiro, associada às celebrações locais, e mais tarde em abril, durante as Tasquinhas. “É o nosso forte, é aquilo que vendemos melhor, é aquilo que as pessoas mais nos pedem”, sublinha o presidente da instituição.

Desde que a atual direção entrou em funções, em 2017, e começou a participar ativamente nas Tasquinhas de Manique do Intendente, a procura pelos Fritos Tradicionais de Natal conheceu um crescimento significativo. O sucesso foi tal que a tradição se manteve e consolidou, passando a marcar várias datas ao longo do ano.
Mais do que um doce associado a uma época específica, os Fritos Tradicionais de Natal tornaram-se um símbolo de partilha e identidade local. Na Casa do Povo de Manique do Intendente, são também reflexo de um espírito coletivo feito de trabalho, entreajuda e ligação à comunidade, uma receita que continua a juntar pessoas dentro e fora da cozinha.








