O novo concessionário do Páteo do Valverde, a empresa Prime Alecrim Events, do empresário da área da restauração, Luís Espírito Santo, acusa o construtor Joaquim Mesquita, da empresa Léguas Nítidas, com sede em Azambuja, de estar de forma deliberada a atrasar a abertura do restaurante, propriedade da Câmara de Azambuja, cuja exploração foi entregue através desta nova concessão em inícios de 2022. Passados dois anos o restaurante, considerado como vital para o alavancar do turismo no concelho face à escassa oferta neste segmento, permanece de portas fechadas. Numa visita ao local, o Valor Local percebe que todo o interior do edifício foi alvo de uma reformulação completa a nível de esgotos, eletricidade, água, cozinhas e demais valências. Numa das paredes de destaque do restaurante encontra-se já uma garrafeira construída em madeira que vai do chão até ao teto que será uma montra dos vinhos do concelho e arredores. Mas no restante, o Valverde encontra-se ainda em completo estado de estaleiro. Luís Espírito Santo diz que tem vivido tempos agonizantes com a “falta de palavra” do construtor, a quem adiantou do seu bolso 10 mil euros para obras nas fachadas, alumínios e portas, mas a equipa do construtor esteve a trabalhar durante um dia e nunca mais apareceu.
Desde que a concessão foi parar às mãos da Prime Alecrim Events & Food Experience que sucessivamente e em períodos de seis meses, Espírito Santo tem vindo a pedir a prorrogação dos prazos junto da Câmara de Azambuja. Foi por sugestão do município que contratou a Léguas Nítidas para as obras respeitantes às fachadas traseiras do restaurante. “Tendo em conta que essa empresa já tinha estado a fazer as obras das fachadas da frente para a Câmara, achei que seria uma boa ideia seguir a indicação dos técnicos municipais”. Contudo o contacto com Mesquita nunca foi fácil. Dificilmente lhe atendeu o telefone ao longo deste processo. Chegou a existir uma reunião em setembro de 2023 onde esteve presente o vice-presidente da Câmara, António José Matos, Luís Espírito Santos e Joaquim Mesquita que ficou de agendar uma data com a Prime Alecrim para recomeçar os trabalhos, “mas uma vez mais não voltaram a acontecer”.
Luís Espírito Santo refere à nossa reportagem que não consegue prosseguir com os demais trabalhos enquanto não estiverem concretizados os assumidos por Mesquita respeitantes às portas, fachadas e soleiras, sendo que acusa o construtor de ter executado de forma errada alguns desses trabalhos e quando o valor orçamentado de 20 mil euros (já pagou 10 mil) “é demasiado elevado para uma obra destas”. “Estamos na presença de uma pessoa que não tem palavra, com um comportamento indigno, é o mínimo que se pode dizer para não ir mais longe”.
O empresário enviou à Câmara uma descrição exaustiva do histórico com a Léguas Nítidas, tendo até ao momento recebido a solidariedade de todos os elementos do executivo e oposição. Luís Espírito Santo pediu em exposição enviada ao município por escrito a 8 de janeiro que lhe seja concedida uma nova prorrogação, agora de um ano (tendo em conta todas as incidências deste processo) com vista à abertura ao público, bem como a possibilidade de lhe serem descontado estes dois anos, que podem vir a ser três, no contrato de 10 anos por não ter tido a porta aberta ao público. O empresário solicita ainda o não pagamento das rendas ao longo de 2024 até que abra portas, porque pode necessitar à partida de mais um ano para terminar as obras, se se mantiver o impasse. Contudo assegura que tem efetuado o pagamento das rendas todos os meses desde a assinatura do contrato, mas que a situação se torna cada vez “mais ingrata” e tendo em conta os avultados investimentos que já fez no interior do restaurante. Questionámos acerca desse valor mas preferiu não quantificar.
Ouvido Silvino Lúcio, presidente da Câmara de Azambuja, pelo Valor Local, este afirma que está a ver todo o cenário de forma “muito pessimista”. O autarca não compreende a falta de entendimento entre as partes, referindo que pretende prorrogar o prazo por mais seis meses. “Não sei se vamos conseguir dar mais um ano”, dá conta. Certo é que a Léguas Nítidas é um dos parceiros comerciais do município tendo acumulado com o município adjudicações desde 2019 num total de 615 mil 486 mil euros de acordo com o portal dos contratos base. Questionado quanto à atitude da empresa de construção na obra do Valverde que é propriedade do município, diz que quem tem de dar explicações são as duas partes em contenda. Silvino Lúcio diz apenas que nas demais obras da Câmara não tem razões de queixa da Léguas Nítidas.
Entrámos em contacto com Joaquim Mesquita que aconselha Espírito Santo a avançar para tribunal, dizendo-se de consciência limpa. “Não sei por que anda a meter jornalistas nisto, mas se fosse uma pessoa decente… Estive lá a fazer a obra, mas ele andou atrás dos meus funcionários a desfazer o trabalho que eles fizeram. Se calhar queria que andássemos lá durante meses para atrasar isto tudo. Sou um senhor da construção em Azambuja e não estou para andar nestes andarilhos! Já lhe disse que ia fazer a obra por especial favor à Câmara. Por respeito à Câmara e não a ele!”, resume.
1 Comment
Existem sempre pelo menos duas versões. O que é facto é que a obra continua sem estar concluída.
Há erros em obra que não são toleráveis e não podem sem os empreiteiros a decidir a forma como fazem a obra em total revelia e sem respeitar a vontade do dono de Obra