Iniciaram-se ainda em fevereiro no Centro de Saúde do Forte da Casa as teleconsultas, uma solução de recurso face à falta de médicos de família, mas que tem estado a resultar para a população, segundo o que o Valor Local percebeu numa reportagem in loco. Mais de 2000 pessoas já foram atendidas neste regime. À distância, o utente fala com o médico através de um ecrã que é colocado no consultório. Mas o processo de cada doente é antecedido por um atendimento prévio por parte do enfermeiro em que é medida a tensão arterial do paciente, este é também pesado e é realizado um pequeno questionário. Djeissy Santos, uma utente brasileira, gostou da forma como tudo se processou, e não estranhou que a consulta tenha sido realizada através de um ecrã.
O médico João Miguel Rocha, que dá consultas fisicamente apenas no norte do país, foi um dos clínicos contratados para este efeito pela Unidade Local de Saúde (ULS) do Estuário do Tejo. No dia da nossa reportagem, tirou umas horas da parte da manhã para atender à distância os utentes do Forte da Casa. Apesar da teleconsulta poder causar de início alguma estranheza, sobretudo junto dos utentes mais idosos, o clínico revela que tem conhecido uma boa aceitação por parte dos doentes, e nalguns casos “saem do consultório bastante aliviados”.
Também satisfeitas com o encaminhamento dos seus casos estavam as utentes ouvidas pelo Valor Local: Fátima Lachica, de Alhandra, e Adelina Landeau, de Alverca. A primeira refere que no mesmo dia em que pediu a consulta, esta foi-lhe marcada para o Forte da Casa. Quando a abordámos, encontrava-se na sala de espera a aguardar que o médico a chamasse. Já passara pelo atendimento de enfermagem, onde lhe mediram a tensão e os níveis de diabetes. “Vamos ver se corre bem a consulta. É a primeira vez”. Também sem médico de família, Adelina Landeau afirmava-se expectante para a consulta. Para já “estou admirada. Ontem fui ao centro de saúde marcar e chamaram-me logo para vir aqui”. A aguardar também pelo momento em que vai entrar no consultório, sublinha “a rapidez” do processo em que começou a ser atendida pelo enfermeiro à hora marcada. Nesta altura, é possível obter uma teleconsulta no Forte da Casa no espaço de dois dias. Durante todo o dia há médicos a dar consultas neste tipo de plataforma online.
Para Carlos Andrade Costa, presidente da ULS, em entrevista ao Valor Local, era ponto de honra começar a proporcionar consultas aos utentes sem médico de família. Isso começou logo a ser gizado, conta, a partir de novembro quando entraram em velocidade de cruzeiro os procedimentos tendo em vista esta reforma administrativa que levou à criação das ULS em que a gestão dos cuidados de saúde primários nos centros de saúde está sob a mesma direção do Hospital de Vila Franca de Xira, neste caso.
A ULS foi beber à experiência dos tempos de pandemia em que as novas tecnologias estiveram ao serviço das consultas, enfatizando ainda a importância de os utentes passarem antes pela consulta de enfermagem que é composta de vários procedimentos: medição da tensão arterial; pesagem; consulta do boletim de vacinas.
As consultas iniciaram-se no dia 19 de fevereiro, e no dia 12 de março, data da nossa reportagem, “já temos utentes com uma segunda consulta, que vêm mostrar as suas análises e os seus exames ao médico”. “Vamos procurar intensificar e tornar ainda mais perfeito este método para que as pessoas possam aderir com a maior das naturalidades”. O responsável denota que a população mais idosa não se sente desconfortável com estas consultas, “sobretudo porque passam primeiro pelo enfermeiro e assim ganham mais confiança”.
O responsável conta que os processos nesta ULS estão mais adiantados de certa forma em comparação com as demais que foram criadas recentemente porque “tivemos a colaboração do doutor Pedro Casado Espanhol que esteve vários meses à frente do Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo e que possibilitou prepararmos esta mudança de forma mais consistente e com vários meses de avanço”.
Nesta altura, a ULS ainda está a estabilizar a carteira de clínicos afetos às unidades de saúde, com cerca de cinco a sete médicos disponíveis para teleconsulta. “Possivelmente mais profissionais vão aderir à medida para que mais utentes também se disponibilizem para este modelo”. O objetivo também passa pelo doente poder ser atendido de futuro pelo mesmo clínico que o consultou previamente, numa espécie de médico de família informal. “Até ao momento ainda é um pouco aleatório, mas é o que pretendemos, de forma que se estabeleça uma relação de proximidade entre o utente e o médico”.
Nas consultas em que é necessário que o médico toque fisicamente no doente, ou tenha de ver algo mais em pormenor que não é possível através do ecrã, o utente é enviado para as consultas presenciais de atendimento complementar que, nesta altura, estão a funcionar no Centro de Saúde de Vila Franca de Xira, “onde mais de 5000 pessoas sem médico de família já foram atendidas desde o início do ano”.
Ana Cristina Pereira, presidente da União de Freguesias de Póvoa-Forte, ouvida pela nossa reportagem, também vê como importante esta nova valência de consultas no Forte da Casa que, recorde-se, não prestava consultas há largos meses, existindo apenas uma médica prestadora de serviços para o efeito, insuficiente para os vários milhares de utentes de freguesia. “As pessoas estão bastante contentes com a teleconsulta face ao facto de não terem médico de família”, sublinha a autarca, enfatizando que os cidadãos mais idosos da freguesia “não têm sentido problemas nestas consultas”. No centro de saúde do Forte da Casa seriam necessários seis médicos de família.
(Reportagem em vídeo brevemente)