O Banco de Portugal realiza todos os anos quatro grandes projeções (março, junho, outubro e dezembro) da economia portuguesa para o ano corrente e para os dois anos seguintes. Desta forma, fechamos o mês de março com as previsões macroeconómicas do Banco de Portugal para três anos (2024-2026), onde as previsões se podem definir como mais otimistas quando comparadas com as que foram realizadas no mês de dezembro de 2023.
O Banco de Portugal prevê que o nosso país cresça 2% em 2024, são 0,8 pontos percentuais acima da previsão realizada em dezembro último. Segundo a mesma previsão, esta revisão do crescimento é assente num aumento do Consumo Privado, das Exportações, mas principalmente por um maior crescimento por parte do Investimento. É mesmo o Investimento o motor do crescimento económico até 2026.
Para além do crescimento económico, o boletim do Banco de Portugal faz previsões de um conjunto diversificado de indicadores, como a variação do Emprego, da Taxa de Desemprego, Índice de Preços ou a Balança de Pagamentos. Sendo este último indicador tão ou mais importante que o crescimento económico, sabendo todos que na economia está tudo interligado.
“Uma economia, que passa décadas a ver sair mais dinheiro do que aquele que entra não pode ser uma economia sustentável. E a Balança de Pagamentos continua a ser um indicador esquecido pela comunicação social e por consequência, muito pouco discutido pela sociedade.”
A Balança de Pagamentos é o indicador que regista todas as transações entre Portugal e o exterior. De uma forma prática, regista todo o dinheiro que entra e que sai numa economia, como são exemplos: as exportações e as importações de bens, o turismo, as remessas dos emigrantes/ imigrantes, entre outras transações. É um dos indicadores tão importantes que foi uma das causas, se não a maior, de termos chamado a Troika em 2011.
“Alguém já se imaginou estar a trabalhar 18 meses e todo o dinheiro ganho servir para pagar uma dívida?”
Portugal é uma economia historicamente deficitária na Balança de Pagamentos, ou seja, ao longo da história sempre saiu mais dinheiro do país do que aquele que entrou. Desde 1974, tivemos 17 anos positivos, dos quais 10 ocorreram desde 2012. De tal forma, que nesse mesmo ano atingimos uma dívida externa (definida como a dívida de um país, sejam as famílias, empresas, Estado ou outros, para com o exterior) de 236% do PIB, tendo paulatinamente diminuído até aos 150% em 2023. Esta descida não deixa de ser um feito notável, que saiu do suor dos portugueses, mas 150% ainda são quase 400 mil milhões de euros em dívida externa. 150% significa 18 meses de rendimento gerado no nosso país canalizado para o pagamento dessa mesma dívida (sem existir a possibilidade de realizarmos qualquer gasto).
Alguém já se imaginou estar a trabalhar 18 meses e todo o dinheiro ganho servir para pagar uma dívida?
Uma economia, que passa décadas a ver sair mais dinheiro do que aquele que entra não pode ser uma economia sustentável. E a Balança de Pagamentos continua a ser um indicador esquecido pela comunicação social e por consequência, muito pouco discutido pela sociedade.
No boletim económico, o Banco de Portugal prevê que as balanças comercial e de capital (as duas maiores rubricas da Balança de Pagamentos) não só são positivas entre 2024 e 2026, como têm valores superiores aos alguma vez registados na economia portuguesa durante a democracia. Ainda não podemos concluir que é uma mudança estrutural da economia portuguesa, porque vivemos um período de entradas volumosas de fundos comunitários o que desvirtua o indicador económico, mas não deixa de ajudar na criação de uma pausa na saída de fundos da economia portuguesa.
A Balança de Pagamentos é mesmo o indicador que nos demonstra que a necessidade de uma cultura de poupança na sociedade portuguesa é fundamental para que todos possamos enfrentar as fases descendentes dos ciclos económicos. Não existe crescimento infinito, nem recessões eternas, mas precisamos de ter estruturas económicas e financeiras sólidas para as enfrentar.