Desde o início do ano que mais de 5000 pessoas já foram atendidas no centro de saúde de Vila Franca de Xira (à data da nossa reportagem com vista à nossa edição impressa de março). Recorde-se que no final do ano passado mais de 80 mil pessoas não tinham médico de família em todo o concelho. Também aqui a ULS Estuário do Tejo na impossibilidade de alcançar o ótimo com a colocação de médicos de famílias nos centros e extensões de saúde do concelho, recorreu à contratação de clínicos em atendimento complementar no centro de saúde de Vila Franca de Xira. Às segundas, terças, quintas e sextas das 18h00 às 22h00; às quartas, sábados e domingos das 8h00 às 20h00. Carlos Andrade Costa, presidente do Conselho de Administração da ULS, salienta que já foi possível dar consulta a milhares de pessoas que estavam impedidas de aceder ao Serviço Nacional de Saúde face à falta de médicos através deste modelo. Estas consultas na sede de concelho não abrangem a totalidade do município, apenas Castanheira, Vila Franca, Alverca e Alhandra, mas a adesão tem sido “muito positiva”, salienta o responsável à nossa reportagem. A ideia é que progressivamente este modelo seja replicado a todos os concelhos da ULS, e dá um exemplo – “Eu posso morar em Benavente, mas dar-me mais jeito ter uma consulta em Vila Franca porque trabalho neste concelho, e consigo ter vaga mais cedo”, “Todos somos uma mesma comunidade de saúde e esse projeto da livre circulação também o queremos implementar”. Carlos Andrade Costa também não descarta que no futuro o utente possa ter uma teleconsulta no seu domicílio sem necessidade de deslocação ao centro de saúde, mas este é um modelo ainda muito embrionário no nosso país.
Já na Póvoa de Santa Iria, e de forma a acabar com o flagelo das filas de espera e das horas intermináveis a aguardar consulta, nesta altura o utente tem de ligar primeiro e apenas em caso de urgência para a Saúde 24, que informa sobre as diretrizes a seguir. Normalmente e nos casos em que não é sugerida uma ida imediata ao hospital, o utente aguarda ser contactado pelos serviços de saúde da ULS com sugestão de data e hora. “No máximo esse contacto demora entre um a dois dias”. “Era ponto de honra acabar com o que existia antes. Não queremos que o SNS funcione assim, e em duas semanas acabou-se com aquele cenário. Não há filas de espera, porque não é preciso”.
O Programa Bata Branca em Azambuja, Alenquer e Benavente
A ULS firmou mais recentemente protocolos com as misericórdias de Alenquer e Benavente que lhes permita contratar médicos para o programa Bata Branca, num regime de prestação de serviços por parte dos médicos em horário pós-laboral nos centros de saúde que tenham falta de médicos de família. O único concelho neste momento que tem tido sucesso com a implementação do Bata Branca é Azambuja, onde já prestam serviço 12 clínicos. Azambuja conseguiu ir buscar médicos que trabalham na área do Estuário do Tejo, num entendimento que supostamente extrapola a lei, que salvaguarda que não podem ser contratados clínicos da mesma unidade local de saúde. Sendo certo que foi dada luz verde por parte da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo à época. Contudo a ULS não tem ainda jurisdição sobre o caso de Azambuja, que passa para já pela Administração Central, e Carlos Andrade Costa prefere não comentar o modus operandi neste concelho.
Saúde oral reforçada na região
Ainda durante o primeiro mandato de António Costa, foram introduzidas as consultas de saúde oral na região, mas apenas em Azambuja, Alenquer e Arruda dos Vinhos. Com a entrada em funcionamento da nova ULS essas consultas começaram há poucas semanas na Unidade de Saúde Familiar de Samora Correia. Serão estendidas, entretanto, a Benavente, e ao concelho de Vila Franca de Xira. “Nestes dois meses de ULS aumentámos em 175 o número de horas na saúde oral com reforço de consultas nos concelhos”. A aposta passa ainda pela componente dos higienistas orais. (O Valor Local apurou junto de uma dentista que integra agora a ULS Estuário do Tejo que a nova entidade paga acima da média de outras congéneres no país).
E mais médicos de família?
Carlos Andrade Costa quando confrontado com a necessidade máxima de mais médicos de família, diz que há que ser realista. “Não podemos prometer o céu. Aquilo que lhe posso dizer é que o caminho faz-se caminhando. Neste momento e dada circunstâncias mais importantes do que garantir um médico de família, é permitir que as pessoas tenham acesso aos cuidados de saúde. Esta é a primeira imagem de vitalidade da nossa ULS, permitir que o cidadão possa ser servido pelo SNS”. Perguntamos a Carlos Andrade Costa como foi possível trazer estas novidades em apenas dois meses, ao contrário da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo que deixou grande parte dos problemas arrastar-se. “Não quero fazer autópsias. Não me interessa dissecar isso, nem quero ser descortês com ninguém. No nosso caso, foi preciso trabalhar muitos sábados e domingos para colocar isto de pé e fazer tanto em dois meses. Muito se deve também a Pedro Casado Espanhol, (diretor do Departamento de Planeamento e Serviço ao Utente do Hospital de Vila Franca de Xira), que preparou o caminho durante cinco meses no antigo ACES para que isto fosse uma realidade. Temos um grande espírito de equipa e excelentes profissionais nos centros de saúde e no hospital, e só assim é possível proporcionar esta lufada de ar fresco”.