Ana Catarina Necho, investigadora em História, residente no concelho de Vila Franca de Xira, editou em 2006 a obra “A Melancolia do Poder: Representações e Imagens de D. Maria I, a Piedosa (1734-1799)”. O objetivo da autora, que começou por interessar-se por esta rainha ainda durante a faculdade, neste livro, incidiu sobretudo no retrato psicológico da monarca, a primeira rainha regente, também chamada de “A Louca”. Através do contributo de especialistas em saúde mental tentou perceber o que estava na origem do seu estado mental com a caracterização da doença psiquiátrica a espaços descrita na bibliografia relativa à rainha. Conseguiu-se perceber que estávamos perante uma rainha com crises de epilepsia, uma doença da qual pouco se sabia à época.
Ana Catarina Necho define-se como uma apaixonada por esta rainha e pela obra que deixou que vai desde a Basílica da Estrela, passando pela Casa Pia, e Biblioteca Nacional. Era uma rainha querida do povo que libertou os que foram feitos prisioneiros durante o tempo de governação do Marquês de Pombal, que, muitos acreditam, ofuscou o reinado do pai desta rainha, D. José I. A também professora de História acredita que o estigma das doenças mentais vem desde há longos séculos e ainda hoje permanece. Durante todo o tempo que governou, de 1777 a 1815 sofreu a influência da corte para que fosse destituída.
A equipa de especialistas com as quais trabalhou neste livro é composta por Manuela Correia, psiquiatra, e Marta Pietra, psicóloga, que concluíram que “a rainha não era louca” mas tinha “várias comorbilidades” entre as quais “estados depressivos, epilepsia e erisipela”. São descritos “quadros de histerismo”, “convulsões, espasmos e rigidez” e “descargas elétricas na cabeça” relacionados com a epilepsia. Todas as doenças mentais eram associadas à “possessão pelo demónio”. “Foi no século XVIII que se institucionalizou a loucura e o seu estudo. Portugal teve o primeiro hospital de alienados no século XIX em 1848”.
Dona Maria I “era muito propensa a tristezas e melancolia, aquilo que hoje chamamos de estado depressivo, e isso via-se nas cartas que escrevia ao tio Carlos III e ao primo Carlos IV”. Um estado de espírito que logo à época fez com que a categorizassem como sofrendo de loucura. Como era rainha regente não era suposto ter essas fragilidades. A morte da mãe, do marido e dos filhos que estavam em Espanha “deixou-a extremamente débil”. A própria Revolução Francesa de 1789 “perturbou-a imenso”. Em 1792 “é chamada uma Junta Médica para a avaliar” composta pelo Doutor Willis, psiquiatra e médico do Rei de Inglaterra que também “enlouquecera” durante o seu mandato.
Dona Maria I “padecia de frenesim, e não dormia, e quando chegou aos 60 e 70 anos, tinha demência”. A monarca faleceu com 86 anos sempre com “muitas aflições nervosas e grandes perturbações. Para se curar desses males “ia às termas e fazia sangrias” que consistia na retirada de sangue na tentativa de uma expurgação. O sangue, e outros fluídos corporais, eram vistos como “humores” que tinham de ser mantidos em equilíbrio para que o corpo se mantivesse saudável.
Neste seu livro, Ana Catarina Necho recorreu a fontes de informação na Torre do Tombo, Academia de Ciências, bibliotecas de Coimbra e de Madrid, e Arquivo Geral de Simancas, Espanha. Quem desejar adquirir a obra pode fazê-lo entrando em contacto com a autora anacatarinanecho@gmail.com e através das suas redes sociais no Facebook e Instagram.