A candidata do Bloco de Esquerda (BE) à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Catarina Lourenço, médica de família, não escondeu, entrevista na Rádio Valor Local que “o desafio do partido não é pequeno”, depois de ter perdido o vereador nas eleições de 2021. Para estas autárquicas, marca como prioridades habitação, cultura e ambiente. Na entrevista à Rádio Valor Local, considerou “um erro” o regresso do Hospital de Vila Franca ao modelo de parceria público-privada (PPP), recordando que “muita coisa do tempo da gestão Mello foi atirada para debaixo do tapete”.
A candidata considera “preocupante” a existência de cerca de 47 mil utentes sem médico de família. Para os centros de saúde, defende “mais diálogo com os profissionais e sindicatos” para perceber por que é possível atrair médicos para Alverca e não para zonas vizinhas como Póvoa de Santa Iria ou Castanheira. Mostra reservas quanto às novas Unidades de Saúde Familiar de tipo C: “Ninguém sabe como vão funcionar. Se forem uma parceria público-privada, não é o caminho certo.”
A habitação surge como outra frente central. “Em dois anos, o preço do metro quadrado subiu 27%. Precisamos de construção pública a custos controlados e de recuperar bairros operários”, sublinha. Critica projetos como o Vila Rio, que “aumentam a pressão sobre serviços de saúde e mobilidade”, e alerta para o risco de “imobiliário de luxo” em terrenos estratégicos, como o da antiga escola da Armada.
No plano económico, quer “diversificar” a atividade do concelho, dominada pela logística, e atrair “empresas de base tecnológica e ambientalmente responsáveis”, criando emprego qualificado. Na cultura, propõe rever o PAMA, descentralizar apoios e reaproveitar espaços como o Teatro Salvador Marques, sem financiar atividades tauromáquicas: “Não hostilizamos ninguém, mas não é prioridade gastar verbas públicas em violência animal.”
(Ouça a entrevista na íntegra a Catarina Lourenço, candidata do BE à Câmara de Vila Franca)
A candidata também defende mais transparência na Câmara: “Muitas perguntas ficam sem resposta e a informação devia estar acessível de forma clara e gratuita.” Questionada sobre a eventual criação de uma polícia municipal, não fecha a porta, mas quer “avaliar necessidades com base em dados” — lembrando que a criminalidade violenta caiu 5% no último ano.
Para Catarina Lourenço, Vila Franca de Xira precisa de “planeamento, participação cívica e investimento público” para responder a desafios na saúde, habitação e ambiente, evitando, conclui, “decisões apressadas que beneficiem interesses privados em detrimento do bem comum”.
Partido apresentou candidatos
Em comunicado, o BE apresentou também os primeiros cabeças de lista às Assembleias de Freguesia, mas não concorrerá a todo o concelho, limitando-se a quatro das seis freguesias: Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, Alverca do Ribatejo e Sobralinho, Alhandra/São João dos Montes e Calhandriz, e Vila Franca de Xira.
Na Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, o cabeça de lista é Rodrigo Silva, 29 anos, dirigente sindical, que quer “uma União de Freguesias que não seja apenas um local de repouso, mas também de convívio e de comunidade”.
Para a União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho, o BE escolheu Catarina Neto, 27 anos, investigadora em História Contemporânea. Defende “mais e melhores caminhos pedonais e transportes públicos, a criação de espaços verdes e o fomento do comércio local”, dando continuidade ao trabalho que iniciou como substituta na Assembleia de Freguesia e na Assembleia Municipal.
A União de Freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz terá como primeira candidata Carolina Alves, 25 anos, estudante de Ciências Farmacêuticas e membro da Comissão de Saúde e Ação Social local, que pretende “defender o direito à habitação, o direito à saúde e transportes públicos de qualidade”.
Por sua vez, Patrícia Lavareda, 43 anos, vilafranquense, lidera a candidatura à Freguesia de Vila Franca de Xira, comprometendo-se com “soluções concretas para problemas reais”, destacando habitação acessível, transportes dignos e envelhecimento com qualidade.
O BE afirma que estas candidaturas representam a continuidade de “um trabalho de diálogo, proposta e escrutínio sério” nos órgãos autárquicos, mas a escolha de apresentar listas apenas em parte das freguesias evidencia também os limites da estrutura local.









Não colocaram o audio da entrevista. Onde se pode ouvir?