A companhia de teatro Cegada prepara-se para estrear em Alverca uma das suas produções mais ambiciosas: “Os Transparentes”, adaptação do romance homónimo de Ondjaki, publicado em 2012 e distinguido com o Prémio José Saramago. O espetáculo sobe ao palco do Teatro Estúdio Ildefonso Valério de 31 de outubro a 16 de novembro de 2025, com sessões às 21h00 de quinta a sábado e 16h00 ao domingo.
Durante os ensaios, a companhia recebeu o escritor angolano, num encontro que trouxe um diálogo vivo entre a palavra escrita e a criação cénica. Ondjaki partilhou impressões e desafiou a equipa a captar, em cena, a pulsação de Luanda que atravessa cada página do livro. “Foi um momento de grande inspiração, que reforçou a ligação entre literatura e teatro”, sublinha a encenadora Manuela Paulo.
O romance transporta o público para uma Luanda de contrastes, onde a riqueza convive com a pobreza, a energia com a desordem, a beleza com a poluição. Com humor, lirismo e sarcasmo, a narrativa aborda desigualdades, abusos de poder, amor, ganância e resistência. “A obra convoca-nos a refletir sobre a cidade, mas também sobre o nosso próprio futuro coletivo”, refere Marta Dias, responsável pela dramaturgia.
Ao escolher “Os Transparentes”, a Cegada reafirma a aposta em textos de forte relevância social e política, aproximando literatura e cena contemporânea. A equipa de intérpretes – Anílson Eugénio, Eduarda Oliveira, Kássia Laureano e Kévin Cassule – prepara-se para dar corpo a um retrato multifacetado da capital angolana, num palco que conjuga cenografia de Marta Fernandes da Silva e figurinos de Simone Rodrigues.
A carreira de Ondjaki reforça o peso desta criação. O autor, traduzido em várias línguas, soma distinções como o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, o Prémio Jabuti, o Prémio Bissaya Barreto e o Prémio Vergílio Ferreira, revelando uma obra que atravessa romance, conto, poesia e literatura infantojuvenil.
Com direção artística de Rui Dionísio e produção de Vladimiro Cruz, “Os Transparentes” promete um teatro de proximidade e reflexão, fiel à identidade da Cegada e ao universo literário de Ondjaki. Uma oportunidade rara para ver, ouvir e sentir a cidade de Luanda ganhar vida em Alverca.