O país ficou orgulhoso com o sucesso de atletas que até então eram perfeitamente desconhecidos do grande público. O ouro olímpico português nos Jogos de Paris 2024 chegou pela mão (e pela bicicleta) de Iuri Leitão e Rui Oliveira na modalidade de velocidade em pista indoor (Madison) naquela que é a maior vitória de sempre do ciclismo nacional.
Este mérito é em primeiro lugar dos atletas, treinadores e restante staff, da federação e do comité olímpico de Portugal.
Mas é também uma vitória política num país que teima em apostar pouco numa política desportiva estratégica. Quando no ciclo de 2005-2009 o Governo (PS) e nomeadamente o Secretário de Estado do Desporto Laurentino Dias, com arrojo e com a colaboração do poder local “construiu” o velódromo de Sangalhos/Anadia sabia bem o que estava a fazer, não obstante a incompreensão dos “velhos do restelo” (que sempre aparecem nestas situações).
Efetivamente um país com cerca de 10 milhões de habitantes tem de potenciar o rendimento dos atletas que se destaquem. O centro de alto rendimento de Sangalhos é apenas um exemplo de entre os mais de uma dezena que já existem em Portugal. Sangalhos veio provar que a estratégia seguida pelo Governo PS nesta matéria, não só fez sentido como deve ter continuidade até porque já tem resultados para apresentar.
Lamentavelmente a partir de 2011 esta estratégia de criação de centros de alto rendimento foi interrompida, no Governo liderado por Pedro Passos Coelho, também esta estratégia não foi imune aos “cortes cegos”, e o Governo comunicou à Comissão Europeia que Portugal não precisava de mais investimento em instalações desportivas e como tal, o desenvolvimento dos centros de alto rendimento ficou claramente comprometido por falta de financiamento. Como é sabido, o líder parlamentar do PSD na altura, era o atual Primeiro-Ministro Luís Montenegro e não se lhe foi conhecida nenhuma posição contrária à decisão do Governo de Passos Coelho de corte nesta estratégia.
Talvez agora, em que o Primeiro-Ministro se vestiu a rigor para ir a Paris, e bem, apoiar os atletas portugueses tenha “bebido” do espírito olímpico e perceba que a estratégia do Governo PS de investimento em centros de alto rendimento deve ser continuada. Foi uma pena que o Primeiro-Ministro não tivesse tido oportunidade (convenientemente) de reconhecer também o trabalho do Governo anterior que aumentou o apoio do Estado à missão olímpica portuguesa de 18 milhões de euros em 2020 nos Jogos Olímpicos de Tóquio (realizados em 2021 por causa da pandemia) para 22 milhões de euros em Paris 2024 (um aumento de mais de 20 por cento num país em que se dizia que não havia investimento no desporto digamos que não é despiciendo e não podemos deixar de assinalar o mérito do Governo anterior e do seu então Secretário de Estado do Desporto João Paulo Correia, e do Presidente do Comité Olímpico de Portugal José Manuel Constantino a quem lhe é mais do que devida uma palavra de justa homenagem pública a título póstumo (infelizmente).
Esperemos que a conveniência de aparecer equipado a rigor para celebrar as medalhas seja acompanhada de ação política do Primeiro-Ministro já na sua proposta de lei de Orçamento de Estado para 2025 dando novo impulso a esta estratégia desportiva. Os atletas portugueses já provaram que estarão à altura!