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Cidadãos de Vila Franca debatem ondas de calor… mas também estão preocupados com as cheias e inundações

A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira levou a cabo uma Assembleia de Cidadãos para o Clima 2024 nos dias 25 e 26 de outubro. No final foram escolhidas 10 propostas com o objetivo de fazer face às ondas de calor no concelho, fruto das alterações climáticas. Cinquenta cidadãos do concelho deram diversas achegas nesta ação englobada no Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas de Vila Franca de Xira.

Presidente da Câmara considera que as propostas vão dar trabalho, mas são um desafio

As propostas apresentadas pela Assembleia de Cidadãos para o Clima 2024 foram as seguintes: Criação de um sistema de alerta de calor excessivo, com informação sobre as medidas de proteção; Implementação de um plano de emergência municipal para ondas de calor; Criação de um gabinete de apoio verde com o intuito de incentivar a autoprodução de energia (painéis solares, substituição de janelas/portas) e prestar a devida informação sobre concursos existentes. A assembleia decidiu ainda pela criação de sistemas de reaproveitamento de água, através da reutilização de águas de lavar mãos/banho para água da sanita ou reaproveitar águas da chuva para regas/arrefecimento. Os munícipes que compareceram a esta chamada do município, lançaram ainda a ideia para a realização de um concurso para promover varandas verdes e hortas verticais, mas também a criação de ações de formação com foco nos grupos populacionais de maior risco, por exemplo em lares ou escolas, sobre os comportamentos a adotar em dias de calor excessivo. Criar refúgios climáticos (em cada uma das freguesias, disponibilizar a pessoas que não tem condições habitacionais e urbanas o acesso a espaços públicos para fugir do calor) é outra das medidas. Os habitantes do concelho querem ainda que seja colocado alcatrão apropriado nas vias e outros pavimentos refletores de calor; bem como condicionar o trânsito e estacionamento no centro da cidade. Por último: implementar coberturas verdes nas infraestruturas públicas e/ou novas licenças para privados que tentem adaptar os edifícios com vegetação, por forma a amenizar o clima contra o calor.

 “São propostas muito interessantes e muito transversais. Vão dar algum trabalho aos técnicos que vão olhar para elas com muita atenção”, afirmou Fernando Paulo Ferreira, presidente da Câmara, no final da assembleia aos presentes. O autarca deduziu que as propostas selecionadas que serão agora colocadas em prática “vão dar trabalho”, mas também “estamos cá para isso”. O presidente da Câmara deu conta ao Valor Local de vários projetos em marcha no combate às alterações climáticas com incidência nesta matéria das ondas de calor e que  se relaciona co a plantação de 400 árvores, e 200 arbustos no Forte da Casa. Foi uma candidatura no âmbito do programa REACT-EU (Assistência à Recuperação para a Coesão e os Territórios da Europa) com financiamento de 60 mil 252 euros. Outro dos projetos passa pela reposição dos ecossistemas ribeirinhos. Nesta altura estão a ser monitorizadas pelo município 32 mil árvores.

Munícipes deram os seus contributos

Mário Correia foi um dos munícipes participantes. A sua proposta estava relacionada com a do reaproveitamento da água. Morador em S. João dos Montes refere que este tipo de eventos “têm sempre muito interesse”. “Antes da sessão tentei atualizar-me e recolher bibliografia. Foi importante também para conhecer a sensibilidade e o grau de conhecimento das pessoas para as temáticas ambientais”. O munícipe está preocupado com o calor excessivo, mas acredita que o combate às alterações climáticas também se faz no sentido da deslocalização de alguma indústria poluente no concelho. Mário Correia acredita ainda que seria boa ideia fazer com que os camiões saíssem das estradas nacionais, “porque para além de causarem calor, trazem sobretudo engarrafamentos no trânsito”.

A fazer um mestrado em Ecologia e Gestão Ambiental, Salomé Santos considera que este tipo de iniciativas fazem todo o sentido. A munícipe que vive em Vila Franca de Xira é uma das entusiastas quanto à possibilidade de a Câmara instalar um gabinete verde. A arborização do concelho é para si também algo importante e que merece uma aposta séria por parte da Câmara bem como a criação de sistemas de alerta para a população mais vulnerável com menor capacidade de resistência às ondas de calor. Uma das grandes preocupações no concelho prende-se, ainda, de acordo com as palavras desta munícipe, com as cheias rápidas e inundações até porque são muitas as ocorrências relacionadas com o galgar do Tejo para as margens ao longo da cidade.

Cristina Domingos também vive na cidade de Vila Franca de Xira. Subscreveu as propostas relacionadas com as varandas verdes e hortas verticais bem como a criação do gabinete verde. Para esta munícipe esta foi uma iniciativa de saudar “porque quando se juntam várias pessoas com diferentes experiências podemos ter um debate rico, e de facto foi uma iniciativa com muita interatividade com pistas e sugestões para as propostas. Como tal acho que foi muito positivo”. As inundações e as cheias são também temas que considera prementes a nível das alterações climáticas no concelho. “O aumento do nível médio da água do mar faz-nos pensar. Já vivi mais perto do Tejo. Hoje resido em Santa Sofia, onde tenho também uma ribeira a passar à porta. Quando chove com mais intensidade também temos inundações. Sabemos que a tendência é para a ocorrência de episódios de precipitação mais espaçados, mas mais intensos e que trazem o fenómeno das cheias rápidas”. Um estudo do Centro de Estudos e Geografia e Ordenamento do Território sustenta que cerca de 7843 indivíduos residem em zona inundável e afetada pela subida do nível médio das águas do mar no concelho de Vila Franca. 5507 edifícios estão também expostos a esta consequência. Já quanto ao calor, que era o mote da assembleia – “Chegámos aqui à conclusão que temos de ter mais zonas de sombreamento, com mais plantação de árvores”.

José Ascensão, também morador na cidade de Vila Franca, começa por elogiar o trabalho desenvolvido pela Câmara tendo em conta o tema que durante o fim de semana trouxe várias dezenas de pessoas ao debate – “Trata-se de um assunto premente que interessa a todos”. Durante a iniciativa deu o seu contributo para diversas das soluções apresentadas, nomeadamente, quanto ao aproveitamento das águas da chuva; alterações quanto aos materiais usados na pavimentação de ruas. Em casa, diz adotar muitas das sugestões adiantadas durante o debate –“Tudo o que seja possível para irmos a tempo de salvar o planeta”

A Assembleia de Cidadãos para o Clima decorre de um projeto da Câmara vencedor no Concurso “Ação Climática e Participação Pública” da Fundação Calouste Gulbenkian. Vai ser desenvolvido até março de 2025, em parceria com o Fórum dos Cidadãos, e com o contributo de Roberto Falanga, Investigador Auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

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