Nos últimos anos, a política portuguesa tem passado por uma transformação curiosa: o debate público está cada vez mais parecido com um espetáculo mediático. Em vez de discussões aprofundadas e propostas concretas, assistimos a performances pensadas para gerar manchetes e viralizar nas redes sociais. O Parlamento tornou-se, por vezes, um palco onde a encenação parece rivalizar com a substância.
As sessões da Assembleia da República, antes vistas como um espaço de discussão séria e formal, tornaram-se terreno fértil para discursos inflamados e trocas de acusações que, em poucos minutos, circulam por toda a internet. Deputados de diferentes partidos usam frases de efeito como arma política, sabendo que, em tempos de redes sociais, uma intervenção bem ensaiada pode ter mais impacto do que horas de negociação silenciosa nos bastidores.
O político tradicional, focado na articulação discreta e no trabalho de gabinete, começa a ceder espaço a figuras que dominam a linguagem digital e a comunicação instantânea. O sucesso político já não se mede apenas em votos ou na qualidade legislativa, mas também em visualizações, partilhas e seguidores.
Este fenómeno não se limita a Portugal. Na vizinha Espanha, figuras como Santiago Abascal, do Vox, usam as redes sociais para mobilizar as bases, enquanto em França, Jean-Luc Mélenchon aposta em transmissões ao vivo para dialogar com o eleitorado jovem. Em Portugal, partidos como a Iniciativa Liberal e o Chega têm usado as plataformas digitais com especial eficácia, moldando a narrativa pública e ocupando espaço mediático com estratégias ousadas.
O Futuro da Política: Debate ou Espetáculo?
A grande questão que se coloca é: até que ponto esta “espetacularização” da política beneficia a democracia? Por um lado, a proximidade com o eleitorado aumenta, e temas antes ignorados ganham visibilidade. Por outro, corre-se o risco de reduzir a política a uma guerra de slogans, onde o ruído mediático se sobrepõe à discussão de soluções reais.
Seja como for, uma coisa é certa: em Portugal, o Parlamento já não é apenas um lugar de debate legislativo – é também um palco onde cada intervenção conta não só para o Diário da República, mas para o tribunal da opinião pública digital. E, no novo cenário político, quem não sabe atuar arrisca-se a sair de cena.