O município de Azambuja, conforme o Valor Local deu conta no passado mês de outubro, quer certificar o torricado, prato tradicional, a nível europeu. Para isso, o torricado tem de ser consagrado como Especialidade Tradicional Garantida. Azambuja que estava a liderar esse dossier no âmbito da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo, viu de um momento para o outro ser puxado o tapete com a existência de um contrato entre aquele organismo do Estado e uma empresa privada, tendo em vista a certificação do torricado, mas como produto ribatejano e não do concelho de Azambuja, ao arrepio daquelas que terão sido as intenções e promessas iniciais em todo o processo. Recorde-se que o município registou a marca do torricado como sua num processo à parte no anterior mandato autárquico.
O Valor Local sabe que o município “teve de pôr os pés ao caminho” para tentar perceber qual o objetivo da entidade de turismo. O Turismo do Alentejo e Ribatejo contratou a empresa Terraprojectos – Consultoria Agrária, Agro-Alimentar e Ambiental para elaborar a certificação do torricado do Ribatejo, num custo total de 19 mil 990 euros. O contrato foi assinado em dezembro último e o trabalho a desenvolver tem de ser apresentado em maio próximo. Quando confrontado com o estado de coisas, o vice-presidente da Câmara, António José Matos, dá conta que “depois de o município ter analisado o contrato, e de termos conversado bastante, dando a conhecer que é aqui que existe um maior número de registos acerca do torricado, este será certificado como de Azambuja”. O autarca garante que tem “a garantia por escrito da ERT” neste domínio, até porque é o município “com mais informação” acerca deste prato típico.
Já a oposição dá a entender que o município pode estar a ser ingénuo neste processo “porque obviamente há mais terras no Ribatejo com torricado, e como é evidente a entidade de turismo não vai olhar para a exclusividade de Azambuja, mas para dimensão regional daquele produto”, diz Rui Corça, vereador do PSD, ao Valor Local. O autarca considera que o município já devia ter arrepiado caminho e feito essa certificação sozinho. Já a vereadora do Chega, Inês Louro, é da opinião que o município tem feito um “trabalho muito positivo” na divulgação do Torricado sobretudo através do evento “Terras do Torricado”, mas prefere não comentar o processo de certificação em causa por não ter informação sobre o assunto. O Valor Local contactou a entidade de turismo para prestar declarações, mas o nosso contacto foi ignorado.
O trabalho da ERT no concelho de Azambuja
“Azambuja devia estar numa grande região de turismo do Médio Tejo, Lezíria e Oeste”
O vice-presidente da Câmara de Azambuja considera positivo o trabalho do presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, José Santos. “É uma pessoa bastante dinâmica e o facto de terem um vice-presidente em Santarém é também um ponto a favor. A entidade tem ajudado bastante”. Contudo, o autarca seria favorável à criação de uma região de turismo de acordo com o desenho da nova NUT 2 que inclui na mesma nomenclatura de unidade territorial o Médio Tejo, a Lezíria do Tejo e o Oeste. “Não quero hostilizar a atual região de turismo que faz o que pode, mas não cumpre naquilo que são as ambições do Ribatejo e Oeste”.
Já o vereador do PSD, Rui Corça, refere que não tem opinião formada sobre o trabalho da ERT em concreto no concelho de Azambuja, para além daquilo que é a participação em feiras em conjunto com outros municípios. Esta é uma entidade que gasta milhões de euros em publicidade e divulgação anualmente, “mas não é do meu conhecimento, e posso até estar a ser muito injusto, sobre benefícios em concreto no concelho de Azambuja”