Os últimos anos foram marcados por um conjunto de choques, que levaram à alteração estrutural dos nossos padrões económicos. Após a pandemia da Covid-19, a guerra na Ucrânia provocou uma espiral inflacionista como não era visível há 30 anos e hoje vivemos uma governação protecionista vinda da maior economia do mundo, os Estados Unidos. A alteração do panorama internacional, está a obrigar a Europa a uma reflexão do seu papel no mundo. Um papel que será com certeza diferente do que se exigiu após um conjunto de acontecimentos históricos como são exemplo a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria ou a Crise do Euro e das Dívidas Soberanas.
Ao invés de nós, europeus, fazermos qualquer consideração sobre o tipo ou a forma de governação realizada no outro lado do Atlântico, é o momento de agirmos na nossa capacidade em enfrentar um mundo cada vez mais polarizado e imprevisível, tornando-nos mais independentes.
A independência de uma economia, tem de ser sustentada em 4 grandes pilares: energia, o setor agroalimentar, a defesa e os setores estratégicos. A Europa ao não produzir a sua própria energia, ser dependente a nível alimentar, à incapacidade de se conseguir defender sozinha e não ter uma palavra a dizer em empresas consideradas estratégicas (quer pela sua atuação em setores considerados fundamentais por ajudarem a satisfazer as necessidades básicas da população como a água, telecomunicações ou redes de energia, quer pelo papel de players internacionais que podem desempenhar), tornar-se-á irrelevante no futuro do planeta.
É cada vez mais nítida a importância da implementação de um grande plano estratégico ao nível europeu, que crie mecanismos para investimentos massivos que garantam a nossa independência. No setor das energias renováveis os objetivos devem assentar em torná-las a principal fonte da energia ao mesmo tempo que aceleramos a eletrificação da economia, na diversificação dos nossos parceiros energéticos (priorizando os que comungam dos mesmos valores de sociedade, como é exemplo a Noruega) e na possibilidade de se atribuir uma nova vida à energia nuclear tornando-a uma fonte essencial para a economia do futuro.
A inevitável decisão da Europa em investir na sua própria capacidade de defesa e na sua indústria, revitalizando e expandindo uma fileira industrial que alavanque o seu crescimento económico. A necessidade de que os países europeus tenham uma palavra a dizer na estratégia empresarial de algumas empresas produtoras de bens e serviços básicos relevantes para a soberania de cada país. Ao que acresce, a concretização de investimentos no mundo agrícola de forma a mitigar a dependência europeia. No futuro, a Europa tem de repensar a sua estratégia e expandir a sua visão económica para além das suas próprias fronteiras.
A União Europeia tem de ser mais ágil e direta na capacidade de enfrentar os problemas presentes e a definir o seu papel para o futuro. O regresso à condição de maior economia do mundo e menos dependente, terá de ser vista como uma meta. Terá de existir coragem na tomada de decisões estratégicas, sem colocar em causa a liberdade e o modo de vida dos europeus, os valores que defendemos e que sempre defenderemos.