2025 inicia-se, no plano das expectativas, como um ano especial. É o ano para no campo político fazer-se o «teste do algodão» à AD no Governo e ao PS na oposição. Conseguirá a primeira consolidar-se, ainda mais, como solução governativa e o segundo, reforçar o seu papel, como principal alternativa de Esquerda à Direita no poder?
Num primeiro momento, com o diminuir do estado de graça do Governo, como irá a AD responder às questões prementes que continuam a persistir em muitas das áreas críticas da governação?
Os partidos políticos que compõem a coligação governamental (PSD/CDS/PPM) prometeram, durante a campanha eleitoral para as Legislativas antecipadas de 2024, resolver com «medidas-varinha de condão», os problemas existentes, afirmando, insistentemente, que estes tinham origem na governação anterior. O choque da realidade parece levar, volvido quase um ano desde o último acto eleitoral, a que o «sortilégio» invocado tenha surtido pouco efeito!
Igualmente, e convém ser honesto nesta apreciação, o Executivo não detém uma maioria parlamentar clara que possa sustentar, de forma inequívoca e robusta, a acção governativa. Terá, e assim são as regras e as dinâmicas do jogo parlamentar, de discutir, de debater, de dialogar e de negociar, sempre, o que propõe.
Num segundo plano, mas não menos importante, o PS terá de reforçar, ainda mais, a sua liderança à frente da oposição. O ano de 2025 é, também, o ano zero do próximo ciclo autárquico, assim como, a antecâmara das Eleições Presidenciais de Janeiro de 2026, de onde irá sair um novo Presidente da República sustentado numa nova maioria presidencial para um novo mandato como o mais Alto Magistrado da Nação.
Se da área política do PS não surgir um candidato ganhador, estarão os Socialistas disponíveis para desconsiderar, uma vez mais, esta disputa eleitoral, deixando a Direita e todo o campo das Esquerdas à Esquerda do PS em roda livre? Estará o PS em condições de desdenhar o valor político central dessas eleições? Deixar-se-á o PS, quanto a esta matéria, enredar e perder tempo em «intrigas palacianas»? Pode o PS continuar a fomentar, no seu interior, sobre este assunto, teimosas «guerras de trincheira»? Quer o PS nesta contenda eleitoral alienar o seu eleitorado?
Na certeza, porém, de que não ter um candidato que gravite na sua órbita política e ideológica pode ser desconcertante para o futuro, dando espaço ao raciocínio, por vezes, provocatório de que o PS caminha, passo a passo, para uma espécie de irrelevância histórica!
Vem nos livros e não será preciso, a manifestação de nenhum «Espírito do Natal Passado», que para voltar ao poder, ganhando a confiança dos eleitores, o PS terá de se apoderar da oposição, liderando-a em absoluto!
Será que tudo ir-se-á desenvolver como parece estar previsto ou o filme deste ano político terá um desfecho diferente do expectável?
A resposta é que, por vezes, em política, o Complexo de Cassandra revela, também, ter lugar. Surgem avisos, predições, interrogações premonitórias, ante-visões, opiniões proféticas e cenários de antecipação que nem sempre são aceites e, por norma, levam-nos a rejeitar a verdade revelada, interpretando-a como uma ficção delirante, como uma mentira maquinada!
Existe, também, espaço para jogos de luz e sombra, um claro-escuro barroco, onde quando se desvenda alguma coisa, não se conta tudo! Há gestos e posturas, surgem silêncios, marcam-se presenças e ausências. O que podia resultar numa leitura enviesada da realidade é, em si, um roteiro já definido, um guião pré-estabelecido.
O que importa é ser concreto e autêntico na análise que se pode fazer do tempo que corre e não confundir o real com o que é fruto de uma hiper-realidade.
Pode 2025 ser, um annus mirabilis para o Governo e para os partidos que o sustentam? Pode 2025 ser para o PS na liderança da oposição, o reverso da medalha, um annus horribilis? Ou para ambos os cenários, o contrário pode, também, acontecer?
Temo que parte das respostas que se buscam pode estar nas próximas Eleições Autárquicas, as quais poderão ser o «kick-off», o pontapé de saída para o surgimento de um «admirável mundo novo», não só no desenho político das autarquias locais, mas, também no quadro politico-partidário nacional.
Há uma percepção latente de que há pressa, em acelerar a delimitação, ou mesmo a refundação programática, de um novo espaço de propostas e de ideias políticas à Esquerda, como se isso fosse a réplica natural e meritória a uma outra intuição, a de que a Direita Democrática se tornou iliberal, deixando-se contaminar pelas tentações extremistas, populistas e reacionárias da Ultra-Direita.
Por conseguinte, o PS não pode, também, ceder ou, tão-só, ir cedendo, na práxis e na linguagem, a uma estridência esquerdista, enfim, à natureza imoderada e radical de um certo social-populismo.
Não pode, o PS, enquanto casa-mãe da esquerda progressista, correr o risco, na oposição, de se acantonar e de se colar à esquerda do exagero reivindicativo, que é mais vocal na propositura do que na proposta. Não se pode transmutar numa «Hiper-Esquerda» onde se instala e se congrega o largo espectro da esquerda toda e, na qual, são espargidos os vapores ácidos do pensamento woke.
Isso não é mais do que um processo de colonização doutrinária, um movimento «Cavalo de Tróia» que minará,o PS, por dentro. Um frentismo absoluto, que a prazo, só poderá fazer do PS o albergue comum das esquerdas, afastando-o do diálogo democrático, onde a moderação é a maior radicalidade possível e a pessoa humana a sua centralidade maior!