Seis meses após a tempestade Martinho ter provocado o abatimento do viaduto em Casais de São Martinho — na fronteira entre os concelhos de Sobral de Monte Agraço e Mafra — a população continua sem respostas, sem alternativas viáveis e com o seu quotidiano gravemente afetado. A variante, construída pela Infraestruturas de Portugal (IP) como solução para a supressão de uma passagem de nível devido às obras da Linha do Oeste, permanece cortada e em ruínas. Desde então, nem um prazo, nem um sinal de obra. A comunidade, cansada da espera e do silêncio, acusa a IP de abandono.
Vera Mónica, residente no concelho de Mafra, não tem dúvidas: “Esta obra é só da responsabilidade da Infraestruturas de Portugal. Foi esta entidade que construiu esta estrada como alternativa à anterior passagem. Agora, não há passagem oficial. A alternativa é um caminho de terra batida em total degradação. E pior: não há sequer uma previsão para o início das obras.”

A indignação é generalizada. Fátima Estêvão, moradora em Casais de São Martinho, reforça o sentimento de frustração com promessas que nunca se concretizam: “O projeto existe, dizem-nos isso há dois meses… depois outra vez há um mês, depois há 15 dias. Mas obras? Nada. O que queremos é informação concreta sobre o que vai acontecer — e quando.”
Entretanto, a estrada de terra improvisada tornou-se o único elo entre duas comunidades. Um trajeto onde circulam viaturas ligeiras e, por vezes, até pesados — apesar de ser proibido — agravando a sua condição. Rui Almeida, também morador, expressa a sua exaustão: “É muito complicado. Os carros já batem por baixo, qualquer dia estamos a pagar avarias. E ninguém nos diz nada.”
A situação está a afetar até a saúde pública. Débora Guerreiro expõe o caso dramático da sua família: “O meu marido é doente oncológico. Precisamos de ambulâncias com frequência. Mas elas recusam-se a passar por este caminho. Não é viável. Temos de esperar mais tempo, dar voltas enormes. Tudo se complicou.”
Além dos problemas de acessibilidade, há um impacto ambiental e de qualidade de vida crescente. Margarida Pereira, moradora nas imediações, fala do pó constante que invade a sua casa: “Não posso abrir janelas. O pó cobre tudo. É inútil limpar. Todos os dias estamos a respirar isto.”
A revolta é sentida em toda a aldeia. “O que mais chateia as pessoas é a volta que têm de dar para chegar a casa. É muito complicado, especialmente para os mais velhos ou quem tem mobilidade reduzida”, refere outro residente local.
Câmara do Sobral lamenta falta de resposta da IP
A Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço também já se manifestou. Luís Soares, vice-presidente, lamenta a ausência de resposta e ações por parte da IP: “É uma via com poucos meses de existência. Foi construída como solução. Com a tempestade, cedeu. Está cortada, isolando parte da população. A passagem de nível foi suprimida e a alternativa desapareceu. A informação que temos é que o projeto já está concluído. Mas nada foi feito.”
O jornal Valor Local contactou oficialmente a Infraestruturas de Portugal, solicitando esclarecimentos. Até ao fecho desta edição, não obteve qualquer resposta.
Sem estrada, sem alternativa e sem explicações, os habitantes de Casais de São Martinho continuam à espera. À espera de uma obra. De uma data. De uma resposta.








