Em entrevista ao Valor Local, João Tavares Correia, responsável da Sugal, fala sobre a aposta na sustentabilidade, na eficiência energética e na importância da fábrica de Azambuja nos mercados mais exigentes, como o japonês. A empresa é a segunda maior produtora mundial de tomate industrial, com presença na Europa e na América do Sul.
Valor Local – A Sugal é atualmente um dos principais produtores mundiais de tomate. Quais são as principais metas competitivas da empresa?
João Tavares Correia – A Sugal é o segundo maior produtor mundial. Tem uma capacidade diária de cerca de 30 mil toneladas, com fábricas no Chile, em Portugal (Azambuja e Benavente) e em Sevilha. Temos a particularidade de ser a única empresa no mundo que, durante o ano, consegue produzir duas colheitas – uma no hemisfério norte e outra no sul. Isso dá-nos uma vantagem competitiva.
No conjunto dos dois hemisférios, quantas toneladas foram produzidas no total da operação mundial?
Devemos ter produzido cerca de um milhão e 500 mil toneladas de tomate fresco, das quais 600 mil em Portugal. A fábrica de Azambuja é muito focada em produtos de alta qualidade e direcionada a mercados exigentes como o japonês.
Está a falar de que tipo de exigências nesse mercado?
O sabor é muito importante, bem como as propriedades do produto nos seus usos culinários. Temos um laboratório e os clientes japoneses acompanham todo o processo connosco no local e em tempo real.
O consumidor japonês é mais exigente do que o europeu?
Talvez seja mais consciente. Procura mais a frescura do produto, embora na Europa também haja essa tendência. Um exemplo é a linha “Colheita Fresca” da Guloso, em que o tomate é embalado em menos de 48 horas após ser colhido.
O que distingue a Sugal da concorrência?
O nosso processo passa apenas por retirar a água ao tomate, sem aditivos. Por isso não falamos em indústria transformadora, mas em concentração do fruto.
Quantos postos de trabalho tem a Sugal em Azambuja?
Em Azambuja temos cerca de 50 trabalhadores fixos todo o ano e, em altura de campanha, chegamos a 330.
A campanha continua a atrair jovens do concelho?
Sim. Temos uma tradição muito grande de jovens estudantes que vêm trabalhar connosco nas férias, tanto do ensino superior como secundário. Também há pessoas de mais idade que regressam todos os anos. A Sugal faz parte da vida social de Azambuja.
A colheita é cada vez mais mecanizada?
Atualmente é totalmente mecanizada. Isso permite uma eficiência muito maior e menos desperdício. O que cai dos tratores acaba por servir de composto natural.
Como é que a Sugal se posiciona no combate ao desperdício e às alterações climáticas?
Tentamos sempre minimizar a perda. O produto que fica no terreno serve de composto. Temos também investido na eficiência energética e em práticas agrícolas mais sustentáveis.
Há diferenças entre o tomate cultivado na Europa e o da América do Sul?
O tomate é um ser vivo com muitas variantes. O português tem grande qualidade, e a nossa região é reconhecida internacionalmente como uma das melhores zonas de produção.
E quanto à concorrência internacional?
Há empresas que não cumprem as mesmas regras ambientais da União Europeia e que acabam por ser mais competitivas. Isso preocupa-nos. Na nossa marca Guloso só usamos tomate português.
A Sugal fornece gigantes como a Heinz, McDonald’s ou Unilever. É um desafio adicional?
Sim. Trabalhar com grandes clientes obriga-nos a reinventar-nos constantemente e a manter padrões de qualidade muito elevados.
Que papel tem a investigação genética e a inovação na empresa?
Há uma aposta forte na criação de variedades mais robustas e resistentes a pragas, e na testagem constante dos solos para garantir o melhor desempenho da planta.
A escassez hídrica é uma preocupação crescente. Que medidas estão a ser tomadas?
Temos apostado em sistemas de rega mais eficientes e utilizamos cada vez menos produtos químicos, seguindo a regulamentação europeia. O objetivo é produzir plantas mais fortes e saudáveis.
Explique-nos em que consiste o vosso plano de mitigação da pegada ecológica.
Entre 2022 e 2030 temos previsto um investimento de 100 milhões de euros. Em Portugal, 49 milhões serão aplicados em Azambuja e Benavente. Apostamos em equipamentos energeticamente mais eficientes e na redução das emissões de CO₂, reforçando a competitividade da empresa a longo prazo.
Sugal em números
• Segunda maior produtora mundial de tomate industrial
• 1,5 milhões de toneladas de tomate fresco produzidas por ano
• 600 mil toneladas em Portugal
• Fábricas em Azambuja, Benavente, Sevilha e Chile
• 50 trabalhadores fixos em Azambuja e cerca de 330 em campanha
• Investimento global até 2030: 100 milhões de euros (49 milhões em Portugal)
Sustentabilidade e inovação
A Sugal tem vindo a reforçar a sua aposta na sustentabilidade. O grupo investe em sistemas de rega eficientes, variedades de tomate mais resistentes e tecnologias que reduzem o consumo energético.
Entre 2022 e 2030, prevê reduzir significativamente as emissões de CO₂ e melhorar a competitividade com equipamentos que utilizem menos energia no processo de concentração do tomate. A meta é crescer de forma sustentável, com base na inovação e no respeito pelo ambiente.








