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Universidade Sénior de Alenquer mantém viva a vontade de aprender

No concelho de Alenquer, a Universidade da Terceira Idade tornou-se um espaço central de encontro, aprendizagem e companhia para centenas de pessoas. Longe da ideia de uma velhice parada, este projeto mostra que o envelhecimento ativo se faz de rotinas, convívio, atividades e novas descobertas, numa altura da vida em que sair de casa pode fazer toda a diferença.

Na Universidade da Terceira Idade de Alenquer, Sérgio Valente, 75 anos, fala com a naturalidade de quem encontrou ali uma rotina que lhe faz sentido desde que se reformou, em 2014.  Trabalhou décadas em instalações elétricas de grande dimensão, “alta tensão”, como faz questão de frisar, e explica que a reforma abrupta o obrigou a procurar uma ocupação que não fosse apenas “passar o tempo”. Descobriu a Universidade da Terceira Idade e ficou. “Era um desafio completamente diferente do meu trabalho. Mas precisava disto.”

Não nasceu em Alenquer. É de Abrantes, viveu anos em Alverca, mas mudou-se para Alenquer em 1998, no ano da Expo, atraído sobretudo pela componente histórica do concelho. Fala das quintas senhoriais, do legado de Damião de Góis e das pequenas lendas locais que vai colecionando. Conta, por exemplo, a história de um combatente das tropas de D. Afonso Henriques que, ao conquistar Lisboa, trepou muralhas com a ajuda de cunhas – e de como essa história acabou por dar origem ao apelido “Cunha”. Assume que muitas destas narrativas podem ser lendas, mas para ele fazem parte da identidade do lugar. “Aqui a história está sempre presente. É o que mais me atrai.”

Sérgio sublinha também que encontrou em Alenquer algo que não tinha sentido em Alverca: pertença. “Aqui as pessoas vivem isto, são de cá. No sítio onde eu vivia, era tudo muito desenraizado.” A integração, garante, foi fácil.

Na universidade, preenche praticamente todos os dias da semana. Frequenta Teatro, Inglês, Francês, História da Arte, História Local e participa ainda em atividades físicas como ginástica e hidroginástica. “Ajuda muito ter a cabeça ocupada”, diz. O entusiasmo é evidente quando recorda um dos projetos que mais o marcou: a criação de um pequeno guia em francês sobre tradições e locais de interesse em Alenquer, feito pelos próprios alunos. A proposta foi apresentada à Câmara Municipal, aprovada e hoje está disponível no posto de turismo. “É um orgulho ver aquilo ali”, afirma.

O universo da universidade no concelho ronda os 900 alunos, um número que, segundo Sérgio, revela bem a necessidade do projeto, sobretudo nas freguesias mais rurais, onde a solidão é mais frequente. “Nota-se muito. As pessoas precisam mesmo disto”, reforça. Fala de uma senhora que deixou de aparecer com regularidade por estar num lar durante o dia. Quando a voltou a ver, aproximou-se para a cumprimentar. “Ela tremeu toda. Disse-me: ‘é isto que me faz viver’.” Para ele, é um exemplo claro da importância de manter estas portas abertas.

Casado, partilha o gosto pelas atividades com a mulher, que também participa, embora nem sempre consiga acompanhar o ritmo. E deixa um conselho direto a quem ainda pondera inscrever-se: “Mesmo que venha contrariado, venha. À segunda vez já vem bem. E às vezes até traz um amigo.”

Sérgio resume a ideia de envelhecimento ativo de forma simples: ocupar os dias, aprender coisas novas e, sobretudo, não perder o contacto com os outros. “É isso que mantém uma pessoa de pé.”

Maria Francisca é professora e aluna ao mesmo tempo

Ensinar para não parar: o percurso de Maria Francisca

Maria Francisca, 67 anos, é daquelas pessoas que chegou à Universidade da Terceira Idade de Alenquer quase por acaso, mas que acabou por ganhar ali uma rotina que já não dispensa. Começou por se propor para dar aulas de yoga. Tinha formação na área e achou que podia ser útil. Na altura, o coordenador explicou-lhe que já tinham professor, mas sugeriu outra coisa: informática. “Eu disse-lhe: informática? Sei lá o que é que querem de informática”, recorda. Bastou perceber que procuravam alguém que ajudasse os alunos a lidar com o básico do computador — criar pastas, organizar ficheiros — para aceitar o desafio. Tinha usado computadores no trabalho ao longo da vida e isso foi suficiente para arrancar.

Começou pela informática, depois pelo yoga em Aldeia Gavinha, e hoje dá cinco aulas semanais: três em Alenquer e duas no Carregado. Ao mesmo tempo, é aluna. Todas as sextas-feiras frequenta dança, integrando o grupo que apresentará coreografias de folclore português e três danças internacionais: mexicana, polaca e francesa. É uma participação que lhe dá prazer e que a mantém ligada ao grupo e à instituição.

Maria Francisca não é natural do concelho. Viveu em Lisboa até casar, em 1995, e mudou-se para Alenquer por ser “a meio caminho” entre o trabalho dela, na capital, e o do marido, que na altura trabalhava em Santarém e Rio Maior. Fixaram-se nos Casais Novos, onde continuam a viver, e nunca se arrependeram. Procuravam uma moradia e espaço para ter cães, e encontraram ali o que queriam. “Adoro viver aqui. A zona é muito simpática”, descreve.

A ligação à comunidade começou apenas quando deixou de trabalhar. Em 2011 foi despedida, e recorda esse momento como um ponto de viragem. “Não sou pessoa de ficar em casa de perna cruzada.” Fez formação em yoga, tirou um curso de massagem ayurvédica e decidiu inscrever-se no banco de voluntariado da Câmara Municipal enquanto recebia o subsídio de desemprego. A partir daí, começou a ajudar nas escolas, durante as refeições, e mais tarde integrou a Loja Social, onde ainda colabora, embora hoje com menos regularidade. Em 2017 ou 2018, chegou a vez da Universidade: primeiro como voluntária na informática, depois como professora e aluna.

A experiência com os alunos mais velhos foi marcante. “É preciso muita paciência”, admite. A falta de contacto prévio com computadores é evidente em muitos casos, e o ritmo de aprendizagem é mais lento. Mas nunca viu isso como obstáculo. “Se fosse preciso explicar cinquenta vezes, explicava cinquenta. Se fosse preciso mil, explicava mil.” Notou também uma mudança: com o tempo, o interesse começou a deslocar-se dos computadores para os telemóveis. Nos últimos anos passou a ensinar apps — WhatsApp, Facebook, Instagram — e até edição simples de fotografias. Alguns ficaram fãs, outros mantêm reservas e receios, sobretudo por causa de fraudes e histórias associadas ao uso da internet.

Questionada sobre o que prefere — ensinar ou aprender — responde que as duas coisas se complementam. “Para ensinar, tenho de aprender.” Pesquisa antes das aulas, prepara conteúdos e reconhece que isso a mantém ativa.

Sobre os impactos da pandemia, lembra que houve um período difícil, de tristeza visível e isolamento mais profundo. Mas diz que, passado algum tempo, a situação normalizou. Também discorda da ideia de que as zonas rurais do concelho concentram mais solidão. “Há muita gente solitária aqui na vila”, garante. Para ela, a universidade funciona como uma porta que se abre para quem precisa de contacto humano, sobretudo quando a família vive longe ou simplesmente não consegue acompanhar o dia a dia dos mais velhos.

Maria Francisca resume a experiência de forma simples: a universidade tornou-se um espaço de convivência e utilidade, onde pode ensinar, aprender e manter uma ligação ativa à comunidade. E afirma que continuará enquanto tiver capacidade para isso.

Isabel Lombo não se cansa de ter uma vida preenchida

Isabel Lombo: energia para dar e vender aos 71 anos

Isabel Castanho Lombo, 71 anos, fala da Universidade da Terceira Idade de Alenquer como quem descreve uma estação central onde os dias começam e acabam. “Comecei muito devagar… e agora estou em todas”, explica, rindo. Reformou-se há cerca de dez anos e só depois disso começou a procurar atividades que a tirassem de casa e lhe preenchessem as manhãs e as tardes. Hoje, só falta quando tem consultas.

Trabalhou vários anos no setor financeiro, “rodeada de computadores, gráficos e números por todo o lado”. A reforma trouxe-lhe duas frentes: ajudar a cuidar dos netos e acompanhar a mãe doente até ao seu falecimento. Apesar disso, nunca perdeu o ritmo acelerado. Conta que, entre jantares, encontros com amigos, teatro e idas regulares a Santarém, Vila Franca, Azambuja ou Lisboa, dificilmente passa um dia inteiro em casa. “Só quando estou mesmo doente.”

Isabel viveu toda a vida em Lisboa. Teve uma quinta na zona do Pedrulho, já no concelho de Alenquer, que acabou por vender. Acabou por comprar uma casa própria no centro da vila, onde vive atualmente. “Tenho tudo à mão.”

A adaptação foi simples, embora lamente a perda de comércio e animação que, diz, Alenquer já teve. “Quando só vinha cá aos fins de semana, comprava tudo aqui. Agora não há nada. As lojas fecharam. Qualquer dia isto é um dormitório.”

Na universidade, descobriu áreas que nunca imaginou experimentar. Frequenta pintura — algo que sempre suspeitou ter jeito, porque a mãe pintava muito bem —, artes decorativas, hidroginástica, ginástica e, mais recentemente, costura. “Nunca tinha feito uma bainha na vida”, admite, lembrando o contraste entre mercados financeiros e a máquina de costura.

As turmas são muito participadas. Em pintura inscreveram-se 21 pessoas, mas o professor teve de reduzir para metade. Na hidroginástica são frequentemente 20 ou 30. Na ginástica, o cenário repete-se. Isabel descreve um ambiente sempre animado, com pessoas empenhadas e pontuais. “Ninguém anda lá chateado. É tudo bem-disposto.”

Reconhece que, ao contrário de muitos colegas, teve uma vida social ativa desde nova. “A maioria das pessoas não teve a vida que eu tive.” Por isso considera o projeto essencial: ajuda quem está mais sozinho, organiza o dia e cria rotinas que combatem o isolamento.

Para si, a universidade significa movimento, contacto com outras pessoas e oportunidade de continuar a aprender. “Eu adoro viver. Acho tudo divertidíssimo.” Depois de décadas fechada em escritórios, garante que não quer voltar a parar.

Cláudia Luís dá conta que estão inscritas 900 pessoas na universidade

Universidades Sénior reforçam papel no combate ao isolamento e no envelhecimento ativo na região

A Universidade da Terceira Idade tem-se afirmado como uma das respostas sociais mais relevantes no concelho de Alenquer. A vereadora Cláudia Luís sublinha que o impacto é evidente, sobretudo num território marcado por forte diversidade entre zonas urbanas e rurais e por um envelhecimento crescente da população. “Estes projetos combatem o isolamento, o envelhecimento passivo e dão às pessoas um motivo para se levantarem de manhã”, afirma.

O concelho conta este ano com cerca de 900 pessoas inscritas nas várias disciplinas — um número que Cláudia Luís prefere não limitar ao conceito de “idosos”, dado que a faixa etária é cada vez mais heterogénea. As ofertas vão desde hidroginástica a pintura, artes decorativas, atividades físicas, canto, línguas ou trabalhos manuais. Só a hidroginástica reúne cerca de 100 participantes, enquanto a atividade física descentralizada soma mais de 50 alunos distribuídos por Alenquer, Carregado, Merceana, Ventosa e Vila Verde dos Francos.

A autarca destaca que muitas destas atividades funcionam como “uma espécie de horário escolar”, que estrutura o dia e incentiva à participação. “Há pessoas que, se não fosse a universidade, não tinham motivação para sair de casa”, diz. A integração social, o convívio e a aprendizagem ao longo da vida são vistos como pilares do projeto, permitindo que muitos descubram aptidões novas ou retomem interesses antigos.

Um dos desafios tem sido a descentralização. Apesar de existir oferta em todas as freguesias, há disciplinas — como bordados ou trabalhos manuais — que apenas podem ser disponibilizadas quando existem professores voluntários. Atualmente são 30, número que a vereadora considera insuficiente: “Precisávamos de mais alguns para levar as atividades a mais locais. É um dos grandes desafios.”

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