Azambuja continua a registar um número preocupante de utentes sem médico de família, cerca de 90 por cento. Neste momento o único clínico a tempo inteiro é André Severino, adstrito ao centro de saúde da sede de concelho. A Câmara de Azambuja realizou durante o ano passado um inquérito à população sobre o seu estado de saúde, via email e através da Rede Social do município, sendo que foi possível perceber que 56 por cento dos habitantes do concelho, face à escassez de médicos, optou por se deslocar ao privado para ter uma consulta. Este é um dos dados que salta à vista no diagnóstico de saúde do município.
Face à falta de médicos, no horário noturno, no Centro de Saúde de Azambuja, funciona há um ano uma consulta. Doze médicos fazem parte do programa Bata Branca, onde cada clínico aufere 40 euros à hora, 27 através da Administração Central do Sistema de Saúde, e 13 pagos pela Câmara. Ana Coelho, vereadora com o pelouro da Saúde, confessa que já tentou aliciar esses médicos a fixarem-se no centro de saúde fora do programa, e desta forma passariam a prestar consultas durante o dia, mas nenhum se mostrou interessado. “Não lhes compensa porque acabam por ganhar uma diferença de mais de mil euros em relação às unidades de saúde familiar onde estão a trabalhar”. Mesmo com a Câmara a pagar o complemento mensal para a fixação de médicos no valor de 400 “não se tornaria mais apelativo”. Recorde-se que está previsto que o centro de saúde atualmente Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados passe a Unidade de Saúde Familiar, com possibilidade de dar outras condições salariais aos médicos.
Ana Coelho avalia o trabalho da ULS como positivo
Recentemente foram introduzidas as vídeoconsultas no concelho, que estão a registar uma taxa de adesão muito significativa, permitindo já a consulta em horário normal e durante todo o dia aos utentes. A autarca reconhece o esforço da Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo nestas vídeoconsultas, mas não acredita que o programa Bata Branca seja descontinuado a menos “que metam cá os 12 médicos”. Questionámos a vereadora acerca da necessidade de um número tão alargado de clínicos em horário noturno, face à circunstância de o centro de saúde já dispor de consultas, ainda que à distância, durante o período normal, a que acresce o facto de o município ter investido no espaço de um ano e à sua parte 30 mil euros. Ana Coelho concorda que estas variáveis podem ser colocadas na balança e se fizerem diminuir o peso financeiro do município no projeto por força de mais oferta será positivo. “Penso que é questão de se avaliar. A ULS até ao momento nada disse. O programa das vídeoconsultas é complementar, é da ULS, e o da Bata Branca é com o privado (neste caso com uma IPSS), essencial para atenuar esta falta de médicos que temos”.
Ana Coelho avalia esta nova reorganização dos cuidados de saúde primários com a entrada em funcionamento da ULS como positiva. “Temos visto um esforço significativo para encontrar soluções”. Recentemente o presidente da Câmara de Azambuja disse numa reunião do executivo que o trabalho da ULS é mau, entrando em contradição, desta forma, com a vereadora. Confrontamos Ana Coelho, que dá a entender que ficou um mal-estar quando Carlos Andrade Costa não se mostrou confortável com a indicação de Duarte Sousa Tavares para vogal do conselho de administração, numa sugestão dos municípios. “Caiu mal a todos”. Nesta altura Sousa Tavares já abandonou a ULS. Questionámos no sentido de perceber até que ponto essa nomeação era tão importante assim para o município e sobretudo para o interesse das pessoas do concelho e para aquilo que é a sua saúde, Ana Coelho responde apenas que “era a pessoa que serviria de interlocutor com a ULS”.
Já quanto ao diagnóstico de saúde propriamente dito, a Câmara não ficou surpreendida com os dados que foram demonstrados, e que no fundo derivam da questão maior, a falta de médicos de família. Um dos dados que salta à vista é o recurso a privados por parte de mais de metade da população. Este setor é sobretudo procurado com o objetivo de consultas, tratamentos de reabilitação, exames e análises. Já o setor público, regista as seguintes médias- os hospitais de Santarém e de Vila Franca de Xira são a escolha de 39 por cento, e o centro de saúde de 29 por cento. As áreas que estão em causa são as do internamento, urgência e intervenções cirúrgicas.
Doenças mais prevalentes na população do concelho são hipertensão, obesidade, dores lombares, doenças respiratórias e doenças do aparelho circulatório
Ana Coelho concorda que muitos munícipes, desde a pandemia que vinham a descurar a sua saúde, até por questões financeiras e apenas regressaram às consultas no projeto Bata Branca e agora mais recentemente através das vídeoconsultas. As doenças mais prevalentes na população do concelho são hipertensão, obesidade, dores lombares, doenças respiratórias e doenças do aparelho circulatório, segundo dados inseridos no diagnóstico aos quais o Valor Local teve acesso. Em 2021, 52 por cento dos óbitos deveram-se a problemas cardíacos e cancros. Apurou-se ainda que 71 por cento da população não participa nos rastreios do cancro da mama, colorretal ou do colo do útero.
No que respeita aos hábitos de vida saudáveis, 60 por cento diz praticar exercício físico, sendo que 77 por cento escolhe caminhar ao ar livre. Também a saúde mental é preocupante. O Conselho Local de Ação Social de Azambuja,(CLASAZ) na sua avaliação do estado de saúde mental da população residente é significativamente mais negativa do que a avaliação do estado de saúde física, com 54 por cento dessas entidades a considerar que o estado de saúde mental da população é “muito mau” ou “mau”, valor que compara com 26 por cento no caso do estado de saúde física. Estes são dados que Ana Coelho espera vir a trabalhar, salientando, por exemplo, o programa Ginja destinado a crianças que intervém no domínio da deteção de situações potencialmente desequilibradoras do bem-estar mental dos mais jovens.