Vários cidadãos dos concelhos de Alenquer e Vila Franca terão sido lesados por uma agente imobiliária, que segundo as acusações de três pessoas ouvidas pelo Valor Local usou de esquemas diversos para prejudicar financeiramente os envolvidos. Dois deles já colocaram Ana Paula Martins em tribunal e aguardam um desfecho, já que em causa estão alguns milhares de euros.
Bruno Modesto é um dos que se diz lesado pela agente imobiliária que já percorreu diversas agências na região e foi demitida de algumas delas como a Remax e a Vendo o Mundo. Nas redes sociais podemos ler que essas agências fazem questão de divulgar que Ana Paula Martins já não as representa. Há três anos Bruno Modesto entrou em processo de divórcio e desejava comprar casa no concelho de Alenquer, visto que trabalha há 25 anos na fábrica da Matutano no Carregado. Recorreu à agente que à data estava na Remax da Expo. Foi ver com a agente uma casa “que custava 80 mil euros” em Alenquer. Bruno Modesto teve ocasião de conhecer o imóvel, bem como o proprietário “e até aqui tudo muito bem”. A dada altura Ana Paula Martins terá dito ao cliente que para reservar a casa deveria pagar 1000 euros, porque “a propriedade tinha quintal e estava a ser muito disputada”. De imediato fez a transferência, acreditando que a conta seria a da Remax, mas tratava-se de uma conta pessoal de Ana Paula e da filha. Mais tarde veio a saber que a agência estava completamente ignorante das práticas da sua agente. “Foi automaticamente despedida”. Bruno Modesto diz que atualmente conhece cinco a seis casos semelhantes ao seu.
Confrontada por Bruno Modesto, Ana Paula ainda chegou a dizer que lhe devolvia a verba, que isso nunca chegou a acontecer. “Andou muito tempo a afirmar que pagava nem que fosse a prestações, mas o máximo que devolveu foram 100 euros”. Quando o caso chegou a tribunal “já garantiu que não vai pagar nada”. A ação foi colocada há três anos, “mas dizem que o processo está a andar”. Entretanto Bruno Modesto já arranjou casa no concelho de Alenquer há um ano.
Sónia Alves é outras das lesadas. Este ano recebeu por parte do senhorio indicação de que deveria abandonar a casa onde se encontrava. Foi viver para casa dos pais enquanto não arranjava uma nova habitação. Já conhecia Ana Paula Martins que lhe sugeriu a sua própria casa. “Ela tinha uma casa em Ota e disse que não se importava de mudar para que eu ficasse na casa dela e que trataria de tudo com o senhorio”. Há relatos de que ao longo dos anos, a própria agente imobiliária enquanto inquilina deixava de pagar rendas e usava o mesmo esquema: Fingia que ia alugar a própria casa para receber as rendas de caução, em nome do suposto senhorio, e deixava de estar contactável a partir da altura em que as vítimas faziam a transferência bancária.
Ana Paula Martins pediu 3000 euros de adiantamento de rendas casa e rendas de caução. “Não estranhei porque estávamos a falar de uns prédios novos no Carregado perto de uma farmácia. Paguei 1500 euros numa semana e fiquei de fazer o restante na seguinte”. Entretanto começou a achar que algo estranho se passava “porque ela nunca mais desimpedia a casa. Ainda falei com o proprietário da casa em Ota, e fiquei a saber que não havia qualquer negócio. Confrontei a Ana Paula que me disse que já não tinha o dinheiro”.
De imediato colocou o caso em tribunal. Sónia Alves conseguiu alugar, entretanto, uma casa e tudo está a correr tranquilamente, mas diz não esquecer o que a agente imobiliária lhe fez “até porque era uma pessoa que tinha como amiga”. Desfalcada de 1500 euros, “e com duas crianças, tive de ir pedir dinheiro emprestado para dar entrada no novo arrendamento”. “Graças a Deus não me exigiram renda de caução porque viram a minha aflição”.
Paulo Soares, por seu turno, alugou uma casa em Castanheira do Ribatejo a Ana Paula em inícios da década de 2010. Não pagou todas as rendas de casa e na altura de sair não deu baixa do contador de água pelo que Paulo Soares, emigrando, já na altura na Inglaterra, teve de pagar cerca de 1000 euros nos SMAS de Vila Franca de Xira. Nunca conseguiu reaver as verbas em causa, e não avançou para a justiça. “Estou no estrangeiro e ia perder tempo e dinheiro, mas se tiver disponibilidade não me importo de dar o meu testemunho em tribunal para ajudar outros lesados”.
Contactada pelo nosso jornal, Ana Paula Martins preferiu não comentar as exposições das pessoas com quem falámos. “Não vou falar disso, porque as queixas não têm fundamento. O senhor Bruno está em contacto comigo (ao nosso jornal este disse precisamente o contrário, que não conseguia contactar Ana Paula Martins, que deixou de atender o telefone), o outro senhor foi meu senhorio há uma data de anos, e quanto a essa senhora Sónia nunca ouvi falar dela”. “Também já apresentei queixa por difamação contra essas pessoas tendo em conta o que escreveram no Facebook”, acrescentou, escusando-se a mais esclarecimentos.