Américo Brás Carlos, nasceu em Azambuja, em 1952, e apesar de ainda cedo, os pais terem partido para a cintura de Lisboa (nomeadamente Alverca) em busca de melhores condições de vida, nunca perdeu as suas raízes e quase todas as férias escolares, eram passadas naquela vila ribatejana, em casa dos avós maternos e segundo nos diz, desses tempos guarda memórias, que dariam um livro, mas que, entretanto, já inspiraram alguns escritos. Após a conclusão do curso industrial de eletricista, aos 15 anos, e como era habitual naqueles tempos, começou logo a trabalhar. Primeiro, como, normalmente, acontecia a muitos jovens da região, na Sugal, durante a campanha do tomate e mais tarde em Alverca na Nitratos de Portugal, nunca perdendo a ligação a Azambuja, onde jogava futebol.
Convidado do programa Rádio Show e de Ler é o Melhor Remédio Especial da Rádio Valor Local, Brás Carlos conta-nos também que foi um militar de Abril. Na primeira pessoa, aludiu a algumas vivências daquela madrugada. Fazia parte do primeiro esquadrão de Cavalaria 7, comandado pelo Alferes David e Silva, o primeiro das tropas afetas ao regime a passar-se para o lado dos revoltosos. Diz-nos que foram enviados para travar Salgueiro Maia, mas que antes de chegarem à Praça do Comércio, já tinham decidido que se juntariam a ele. Já depois do 25 de Abril, foi mobilizado para a guerra colonial e essa vivência, serviria de inspiração alguns anos mais tarde, quando se aventurou no campo do romance.
No final da década de 70, ganha os seus primeiros prémios no campo literário, nomeadamente na área da poesia. Mas apesar de ser um leitor compulsivo e sempre escrever, a sua vida profissional pouco tempo deixava livre. Em 1987, licenciou-se na Faculdade de Direito de Lisboa, ficando de imediato aí a lecionar. Em 1991, mudou-se para o ISCTE e foi Professor Coordenador das cadeiras de Fiscalidade das diferentes licenciaturas.
Ainda hoje leciona em Pós-Graduações desse Instituto Universitário. Em complemento a esta carreira no ensino, desempenhou outras funções de relevância na área fiscal, tanto a nível nacional como internacional. Durante este tempo, diz-nos, teve uma carreira literária bastante profícua, mas no campo da literatura fiscal. São 44, os livros que editou, sobre impostos e finanças públicas. Com a aposentadoria, aí sim, pôde dedicar-se em pleno a outras áreas da escrita, como a poesia, o romance e a investigação histórica.
Entretanto, já editou 4 livros de poesia, Adágio Romanza e Grave, As Flores Brancas do Frangipani, O Bebedor de Tisanas e Pais e Filhos, Avós e Netos, em Versos Discretos, este dedicado a um público infantojuvenil. No âmbito da investigação histórica, publicou o livro A Greve Camponesa de 8 de maio de 1944 em Azambuja e Baixo Ribatejo, que, trouxe para a luz a história da greve camponesa ocorrida naquela data em Azambuja, a qual determinou a prisão de sete camponeses azambujenses (um dos quais, o seu pai Luís Carlos) encarcerados na cadeia política de Caxias durante muitos meses (alguns deles durante mais de um ano). Em 2022 publicou o romance O Riso dos Dias, com o subtítulo O 25 de Abril, Angola 1974-1975 e Três Histórias de Amor. Segundo o autor, a inspiração veio dos seus tempos de militar em Angola e das histórias que por lá ouviu. Brevemente, lançará um novo romance cuja história se inicia durante a eleição para Presidente da República que opôs Humberto Delgado a Américo Tomás.
Nuno Vicente