Sobral de Monte Agraço iniciou oficialmente um novo ciclo político com a tomada de posse de Raquel Lourenço, eleita pela coligação Sobral Pode Mais (PSD). Aos 28 anos, torna-se a presidente de câmara mais jovem do país e sucede a 46 anos de governação da CDU. Perante uma sala cheia, assumiu a função como um compromisso de serviço público e de responsabilidade para com o concelho e os seus habitantes.
Na intervenção, agradeceu a confiança dos eleitores e deixou uma palavra de reconhecimento ao anterior presidente José Alberto Quintino, valorizando o trabalho realizado nas últimas décadas. Sublinhou que o futuro do concelho deve assentar numa continuidade institucional combinada com capacidade de mudança: “Aprender com o passado, consolidar o que está bem e corrigir o que se exige diferente”, referiu.
Raquel Lourenço destacou que governar é servir — não como promessa, mas como princípio orientador do mandato — com proximidade, escuta ativa e presença nas freguesias e aldeias do concelho. Entre as áreas que considera prioritárias estão a requalificação do espaço público, a melhoria da rede viária, passeios acessíveis e um sistema eficaz de recolha de resíduos, na perspetiva de um concelho mais organizado e funcional.
Na educação, defende a necessidade de modernizar escolas, valorizar professores, assistentes operacionais e garantir que os estabelecimentos de ensino sejam espaços de oportunidade e inclusão. Em matéria de saúde, assinala como essencial a criação de uma Rede Móvel que chegue aos mais idosos e isolados, bem como condições que atraiam e fixem médicos e enfermeiros, através de habitação funcional.
A habitação surge como eixo central da atuação, com a execução da Estratégia Local de Habitação, recuperação de imóveis devolutos, construção cooperativa e apoios para facilitar a fixação de jovens. Na área social, destaca a importância de reforçar respostas de proximidade, apoio à natalidade, cuidadores informais e um gabinete de apoio às famílias em situações de emergência ou vulnerabilidade.
A mobilidade e ligação territorial são apontadas como determinantes, com intenção de reforçar transportes entre freguesias, concluir ligações pedonais e defender junto do Governo a construção da variante à A8 e A10. No desenvolvimento económico, considera urgente simplificar licenciamentos, criar um gabinete de apoio ao investimento e avançar com um novo polo empresarial.
Ambiente, juventude, desporto e cultura permanecem como pilares estruturantes de governação, com aposta na sustentabilidade, participação cívica dos jovens, desporto para todas as idades e valorização das tradições e identidade local.
Raquel Lourenço reforçou que governar Sobral de Monte Agraço exigirá diálogo político, estabilidade e espírito de cooperação entre eleitos: “O Sobral é de todos e para todos.”
Governação sem maioria absoluta obriga a consensos
A nova liderança autárquica em Sobral de Monte Agraço assenta num quadro político exigente. A Câmara Municipal é composta por cinco eleitos: dois vereadores da coligação Sobral Pode Mais (PSD), dois da CDU e um do Partido Socialista. Esta distribuição impede qualquer maioria absoluta no executivo, obrigando a negociações permanentes para viabilizar propostas e decisões estratégicas.
Raquel Lourenço assume, assim, a presidência numa configuração inédita no concelho: vence as eleições sem deter maioria e torna-se a presidente de câmara mais jovem do país. A governabilidade dependerá da capacidade de diálogo com CDU e PS, com quem terá de construir entendimentos pontuais ou acordos de estabilidade. A autarca já deixou claro que vê esta configuração não como obstáculo, mas como exigência de maior responsabilidade democrática. “A governabilidade será um exercício de responsabilidade partilhada”, afirmou, lançando o apelo para que todas as forças políticas coloquem os interesses do concelho acima das diferenças partidárias.
Num concelho com tradição política dominada pela CDU, esta nova realidade representa uma mudança profunda na cultura de poder local, exigindo novas práticas de cooperação e uma gestão mais negociada das políticas municipais.
