A edição de 2025 da Feira Nacional da Agricultura arrancou com discursos fortes e alinhados por parte do Governo e dos agricultores, apontando para a necessidade urgente de execução de reformas estruturais.
O certame de 2025 foi inaugurado pelo comissário Europeu Christophe Hansen. Pela primeira vez, na vigência dos seus mandatos, o Presidente da República não inaugurou a feira. O Ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, e o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Álvaro Mendonça, destacaram a valorização do setor, a retenção de água e a simplificação administrativa como prioridades incontornáveis.
“Não há sobrevivência possível quando temos uma média etária de 64 anos na agricultura se não trouxermos jovens para o setor”, alertou Álvaro Mendonça, lembrando que “isso só se faz com aumento do rendimento, com água e com serviços de proximidade”. O líder da CAP mostrou-se firme ao pedir que se cumpra o prometido: “Nós agricultores hoje não pedimos muito mais do que, por favor, façam aquilo que anunciaram”.

O ministro corroborou a necessidade de renovação geracional, sublinhando que “a média de idades em Portugal é cerca de 64 anos” e que “duplicámos o apoio para o jovem agricultor em termos da instalação e do investimento”. Fernandes reforçou ainda a importância de combater a má imagem do setor. “Quando, num manual escolar, se coloca o agricultor com uma enxada na mão ou como responsável pela poluição, estamos a passar uma mensagem falsa”, disse, defendendo que “o agricultor é dos melhores amigos do ambiente”.
Um dos temas centrais foi a gestão da água. Mendonça apontou a sua escassez sazonal como um dos maiores desafios do setor: “Não temos falta de água como outros países. O que não temos é capacidade para reter a água que cai irregularmente”. E deixou claro: “Só há uma solução: reter a água e trazê-la para onde ela é necessária”. Para o presidente da CAP, “se tivermos água, mudaremos o panorama agrícola neste país”.
A burocracia foi outro dos alvos principais. “Os agricultores precisam de serviços ágeis, de serviços que os escutem”, afirmou Mendonça, criticando o excesso de papelada e lentidão administrativa: “Que não tenhamos de passar mais tempo no escritório do que no campo. Que não nos peçam o mesmo papel quatro vezes”.
O ministro José Manuel Fernandes abordou a proposta de simplificação em discussão na União Europeia, fazendo um alerta direto: “Se não tivermos este pacote aprovado em outubro, em 2026 não vamos ter esta simplificação disponível para os agricultores”. E reforçou que “esta simplificação é a favor da agricultura”, comprometendo-se a denunciar tentativas de instrumentalização política: “Procurarei desmascarar aqueles que utilizarem este pacote para jogos políticos”.
No plano europeu, Álvaro Mendonça pediu ao Governo firmeza na defesa do setor no contexto orçamental da União Europeia. “Não é possível continuar a acrescentar tarefas à União Europeia sem mais recursos próprios”, disse, exigindo que “as verbas da PAC não sejam diluídas noutras rubricas”. O ministro respondeu com confiança: “No Conselho perseveramos e espero que outros também não entrem em jogos que atrasem esta reforma essencial”.
O ambiente de convergência entre Governo e CAP não escondeu o tom de exigência generalizado. “É execução. É só isto que os agricultores pedem. É só isto que os agricultores exigem para podermos continuar a crescer”, sintetizou Mendonça.
A edição deste ano da FNA arranca, assim, com um recado claro: é tempo de cumprir. E como afirmou o ministro, “cada um tem de fazer a sua parte sem se desculpar com a outra parte”