Trinta e quatro por cento dos operacionais ligados aos bombeiros voluntário são mulheres no concelho de Benavente Foi uma mulher que fez a diferença no parto dos Bombeiros Voluntários de Samora Correia há 50 anos. Ana Assunção Rocha foi a primeira de dezenas de mulheres que marcaram a associação. As presidências da direção, assembleia geral e conselho fiscal estão nas mãos de mulheres e elas são um terço dos bombeiros no ativo. Estes foram alguns dos dados apresentados no dia 8 de março, dia da Mulher, durante um debate promovido pelos soldados da paz de Samora Correia sobre a importância do sexo feminino naquele tipo de associações.
Segundo nota de imprensa da organização, o concelho de Benavente tem 33 bombeiras que representam mais de 32% dos operacionais registados. Os homens ainda estão em maioria com 70 dos 103 bombeiros no ativo. A percentagem de mulheres em Benavente, é superior à média nacional de 24%.
Os dados foram apresentados pelo Presidente da Escola Nacional de Bombeiros, lídio Lopes no colóquio “Ser Mulher nos Bombeiros” que decorreu na tarde de sábado, 8 de março, Dia Internacional da Mulher em Samora Correia. A ASASC-Associação Social Amigos de Samora Correia organizou o colóquio integrado nos 50 anos dos Bombeiros Voluntários de Samora Correia.
A presença feminina fez a diferença desde o “parto complicado” da primeira ambulância há 50 anos. Em março de 1975, Ana Assunção Cardoso Rocha foi uma das sete fundadoras da Associação de Assistência de Samora Correia criada para gerir a primeira ambulância. Uma Peugeot 504 adquirida por subscrição pública pelo valor de 205 contos (pouco mais de mil euros) que na época representava uma fortuna pois o Salário Mínimo Nacional era de 4.000 escudos (20 euros).
João Rocha, 80 anos, viúvo da fundadora recorda que a esposa integrou o grupo para desempatar as votações e colocar ordem na comissão de seis homens: António Romão, Cândido Carolino, Miguel Bodinho, João Alemão (os quatro falecidos) e António Rosa Teixeira, que participou no colóquio. “Por vezes, cada um ia por um caminho. A minha mulher juntou-se ao grupo para nos unir. Reuníamos na minha casa porque não havia sede”, recordou o antigo farmacêutico.
Ana Rocha deu o mote para as mulheres de Samora que tiveram sempre um papel importante na vida da associação que deu colo aos bombeiros. Voluntárias com e sem farda que honraram o lema “Existimos para Servir” bem vincado no quartel dos bombeiros.
Mulheres comandam direção, assembleia geral e conselho fiscal
A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Samora Correia é liderada por Irina Noel Batista e tem uma forte presença feminina. “Só temos um homem nos órgãos sociais. Não foi de propósito, aconteceu”, explicou a educadora de infância que gere uma associação com mais de 25 profissionais e um orçamento superior a um milhão de euros.
Marlene Parracho, bombeira e formadora, chegou ao velho quartel de Samora Correia há 32 anos. O seu percurso de vida coincide com a evolução dos bombeiros. O “clique” aconteceu após observar uma operação de socorro num acidente. “Foi ali que pensei é isto que eu quero ser”., adiantou.
Marlene é mãe de duas bombeiras. Não se arrepende da opção que fez aos 17 anos, quando chegou aos bombeiros, mas admite que em alguns momentos foi mãe ausente. “Apesar do forte apoio da minha mãe, sinto que prejudiquei as minhas filhas com as ausências.”.
A técnica de emergência pré-hospitalar e formadora reconhece que no teatro das operações incorpora uma mulher fria que se abstrai das emoções para se concentrar no socorro. “Temos de colocar um coração em suspenso e focar-nos no que sabemos para aplicar as técnicas e protocolo com eficácia e salvar uma vida”, referiu.
Thays Freixo, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Azambuja, tem três filhos ainda crianças. “Um dos meninos detesta ouvir as sirenes porque associa às minhas saídas. Não gosta de ir ao quartel como a maioria das crianças”, revela emocionada.
Thays dedica em média 10 horas por dia aos BVA e está sempre alerta para qualquer chamada. Já passou dias sem ir a casa. “É difícil gerir o que sentimos com as ausências, mas estamos motivados para salvar vidas e bens. No final das operações sentimos um imenso orgulho misturado com um sentimento de culpa”, explicou.
O marido e a mãe da comandante apoiam nas suas ausências e incentivam o seu progresso. Um dos objetivos é concluir a Licenciatura em Proteção Civil e reforçar conhecimento e competências.
Escola Nacional de Bombeiros vai formar dirigentes civis
O Presidente da Escola Nacional de Bombeiros (ENB), Lídio Lopes anunciou no encontro que a ENB vai abrir ciclos de formação para órgãos dirigentes das associações de bombeiros. A formação será paga pela Liga dos Bombeiros Portugueses.
Os órgãos sociais das 434 associações de bombeiros existentes em Portugal são voluntários que exercem funções sem remuneração. A maioria não tem formação na área da gestão e socorre-se da Liga e das Federações Distritais de Bombeiros para aconselhamento.
Há associações com mais de uma centena de trabalhadores e com exercícios de valores superiores a alguns municípios. Entre os órgãos sociais das associações, os homens ainda estão em maioria, mas há cada vez mais mulheres na liderança.