Em Azambuja, o debate autárquico trouxe para primeiro plano a reorganização dos cuidados de saúde primários e, em particular, as diferenças entre as Unidades de Saúde Familiar (USF) de modelo B e o recente modelo C. O modelo B, com mais de uma década de experiência, assenta na autonomia técnica das equipas, na avaliação rigorosa do desempenho e em incentivos financeiros ligados a qualidade e acesso, sendo apontado como um instrumento eficaz para fixar médicos e enfermeiros. Já o modelo C, criado em 2023, abre a porta a que cooperativas, instituições sociais, autarquias ou entidades privadas possam gerir estas unidades. É apresentado pelo Governo como resposta a carências de cobertura e de recursos humanos, mas suscita reservas de associações profissionais que receiam uma prestação desigual de cuidados, menor escrutínio e fuga de profissionais do setor público.
Nos debates promovidos pela Rádio e Jornal Valor Local, os candidatos à Câmara de Azambuja cruzaram argumentos. Silvino Lúcio, do PS, destacou a necessidade de reforçar a USF local e de garantir médicos de família para todos, defendendo que qualquer novo modelo tem de assegurar a matriz pública do SNS. O autarca deu a conhecer que o município já reuniu condições para avançar com uma USF tipo B, de início com 4 médico e 4 enfermeiros, gorada que está para já a entrada da Cerci Flor da Vida na gestão do centro de saúde com uma USF tipo C. Inês Louro, candidata do Chega, acusou o atual executivo de lentidão e defendeu soluções rápidas, admitindo que o modelo C possa ser bem mais útil se bem fiscalizado, mas exigindo compromissos de contratação imediata. António Torrão, da CDU, insistiu na prioridade ao investimento direto do Estado e considerou arriscado entregar a privados a gestão de unidades de saúde, receando desigualdades entre freguesias. Margarida Lopes, do PSD, deu conta que vai arriscar e colocar 2500 euros por mês para cada clínico, colocando uma especial fatia do orçamento municipal ao serviço desta necessidade. Ilustrou com outros município no país com orçamentos semelhantes ao de Azambuja, como o de Mação, que também criou incentivos financeiros da mesma ordem de grandeza.

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Portugal conta com cerca de 657 USF modelo B e 280 Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, envolvendo mais de 13 mil profissionais e cerca de 7,3 milhões de utentes inscritos. O modelo C, em arranque, promete ampliar a cobertura e criar incentivos adicionais, mas a forma como será implementado e controlado permanece em aberto. Em Azambuja, onde a dispersão da população e a dificuldade em fixar médicos de família são problemas crónicos, a escolha do modelo a seguir ganha particular peso. Entre promessas de novas unidades, reforço de horários e garantias de fiscalização, os candidatos convergem na urgência de dar resposta às carências do concelho, mas divergem na via para lá chegar. A decisão, mais do que uma questão técnica, tornou-se um teste político à capacidade de cada proposta em garantir um serviço público de saúde próximo, acessível e de qualidade.