Fábio Amorim despede-se da junta de Cardosas e diz até já à política

O Presidente da Junta de Freguesia de Cardosas, Fábio Amorim, prepara-se para concluir o seu segundo e último mandato à frente dos destinos da freguesia, encerrando um ciclo iniciado em outubro de 2017. Em entrevista ao Valor Local, Amorim traça um balanço “extremamente positivo” do trabalho realizado nos últimos oito anos, destacando sobretudo a transformação estrutural e humana da autarquia. “Encontrámos uma junta completamente desfalcada, sem recursos humanos, sem serviços ou equipamentos. Hoje deixamos uma instituição preparada para os desafios do século XXI”, sublinha.

Entre as principais conquistas, Fábio Amorim destaca a renovação dos quadros da junta, o reforço do número de funcionários operacionais, e um investimento em maquinaria e equipamentos — desde carrinhas até pequenas ferramentas — que permitiram à freguesia melhorar a resposta às necessidades da população.

Com uma área de apenas seis quilómetros quadrados e cerca de 730 habitantes, a freguesia de Cardosas caracteriza-se pela dispersão habitacional, o que impõe desafios específicos em termos de manutenção de caminhos vicinais e gestão dos espaços verdes. Para o autarca, esse continua a ser um dos principais obstáculos operacionais. “A população está muito dispersa e cada núcleo habitacional tem as suas exigências. Tivemos de repensar a forma como gerimos os espaços verdes, tornando-os mais funcionais e com menor custo de manutenção”, referiu, apontando como exemplo projetos já concretizados no Casal Não-Há junto ao moinho da freguesia.

Telescópio já foi adquirido mas o projeto tem de ganhar outra consistência

Entre as intervenções emblemáticas, destaca-se o projeto do Moinho das Cardosas, que se tem vindo a afirmar como um espaço de educação e lazer, com o apoio da instalação de um novo telescópio e a criação de uma programação científica para diferentes públicos. “Adquirimos o telescópio por 2.500 euros, mas o objetivo é criar uma infraestrutura interpretativa e educativa, uma espécie de mini planetário. A Junta alocou cerca de 5 mil euros para esse fim”, explica Amorim, sublinhando que o modelo de gestão futuro poderá passar por parcerias com entidades privadas ou associativas.

Iniciativas com impacto social e económico

Durante os seus mandatos, Amorim introduziu projetos de caráter social como o “Cabaz Bebé Cardosense”, destinado a apoiar jovens famílias com recém-nascidos. Esta medida, pioneira no concelho, tem sido bem acolhida e teve, segundo o autarca, um impacto positivo no rejuvenescimento da freguesia. “É uma ajuda simbólica, mas fundamental, especialmente para famílias com menos de 30 anos. Notámos um aumento no número de eleitores recenseados, o que espelha esse rejuvenescimento”, afirmou.

Outro marco da gestão de Fábio Amorim foi a realização do Grande Prémio de Cardosas, uma prova de ciclismo que, segundo o presidente, “tem ganho cada vez mais expressão e contribuído para a dinamização turística e económica do território.” “Começámos com cerca de 125 participantes. Este tipo de evento ajuda a projetar a freguesia e estimula a economia local”, acrescenta.

Fim de ciclo e passagem de testemunho

Sobre a decisão de não se recandidatar, Fábio Amorim refere motivos pessoais e a necessidade de renovação interna no executivo. “Não é por falta de condições políticas. Mas é importante sair para permitir que novas ideias floresçam”, referiu, expressando total confiança na sua sucessora. “Tem capacidades e tem agora uma base que nós não tínhamos em 2017. Os próximos anos devem ser de inovação”, acrescentou.

A sua saída não significa, no entanto, o afastamento da política local: “É apenas uma pausa dos cargos. Continuarei ativo na comunidade e disponível para ajudar”, garantiu. Não esconde que gostaria de poder aplicar o que considera ser o seu sentido prático para arranjar soluções para as pessoas, como futuro vereador do candidato Carlos Alves, pelo PS, mas esse convite não surgiu, expressa com alguma tristeza.

Fábio Amorim não esconde que André Rijo, presidente da Câmara do PS que governou os destinos do concelho de 2013 a 2024, é sua grande referência autárquica na política arrudense pela obra feita e pela governação que imprimiu ao concelho que espera que tenha continuidade.

Ao longo de dois mandatos marcados por profundas alterações na capacidade operacional da Junta e pela introdução de novas dinâmicas sociais e culturais, Fábio Amorim encerra o seu percurso autárquico com o sentimento de dever cumprido. “O mais gratificante foi sentir que demos às pessoas algum alento e fizemos a freguesia avançar. O reconhecimento das pessoas, mesmo sem unanimidades, foi a maior recompensa.”