Francisco Guerra é o rosto da coligação “Todos”, que reúne PSD, CDS, Iniciativa Liberal, MPT, Nós Cidadãos e PPM, na corrida à presidência da Câmara Municipal de Alenquer. Em entrevista à Rádio Valor Local, o candidato explicou os contornos do seu surgimento político, criticou o estado atual do concelho e delineou algumas das propostas-chave para mobilidade, ambiente e desenvolvimento económico.
A escolha de Francisco Guerra para liderar esta coligação surge, segundo o próprio, de um processo de reaproximação à terra natal após o falecimento do pai. O candidato admite que esteve “distante fisicamente” mas “sempre ligado emocionalmente” a Alenquer, e sublinha que a sua candidatura resulta de um movimento cívico transversal a diversas sensibilidades políticas. “A única condição que impus foi que os meus companheiros estivessem disponíveis para assumir o projeto comigo. Não seria apenas eu a dar a cara.” Isto depois de um período de grande turbulência no PSD local após o surgimento do nome de Pedro Afonso que rapidamente desistiu como candidato à Câmara.
Guerra assume que a escolha do seu nome também responde ao desgaste interno do PSD local e à rejeição de candidaturas anteriores, como a de Nuno Henriques. Sem entrar diretamente nas “tricas partidárias”, deixa claro que “não reescreve a história” e que pretende uma rutura com o “fracasso crónico da oposição nos últimos 49 anos”.
No que toca às diferentes temáticas no município e na área da mobilidade, propõe a criação de vias alternativas para pesados, nomeadamente no eixo Carregado-Castanheira, criticando a “incompetência acumulada do poder socialista”, que nunca soube articular urbanismo, transportes e espaço público. Quanto ao transporte público, diz que o atual modelo “não resolve os problemas de Alenquer” e admite que a Câmara poderá ter de intervir diretamente, se não houver vontade dos atuais operadores ou da CIM.
A Chemina é outro dos dossiês quentes. Guerra critica a passividade da Câmara face aos sucessivos incumprimentos da empresa que ganhou a hasta pública em 2019, que anunciou a sua desistência do projeto em 2024. Defende a aplicação das cláusulas penais previstas. Para o edifício, aponta uma solução mista de habitação e comércio, inspirada em teses académicas, salientando a importância de respeitar o património e dar resposta à falta de habitação e estacionamento na vila.
Em resposta aos receios dos residentes da zona do Carregado – sobretudo dos Casais Novos – relativamente ao Plano Diretor Municipal (PDM), Francisco Guerra admite que “não há uma solução ótima neste momento”. “A única solução passaria por não ter permitido instalar ali uma empresa de logística com aquela dimensão e com aquele volume de tráfego”, afirma, reconhecendo que quaisquer medidas futuras serão “soluções de mitigação frágil”.
(Ouça a entrevista na íntegra a Francisco Guerra, candidato do Movimento Todos)
Guerra critica, ainda, a postura do executivo socialista quanto à participação cidadã: “Eu não percebo, sinceramente não percebo, em pleno século XXI, depois do licenciamento ter sido autorizado e da empresa entrar em funcionamento, com a criação de uma comissão de moradores que é pública e notória, e a Câmara, de um modo fechado, autista a esta realidade, não convida elementos da comissão de moradores para integrar um grupo de trabalho que possa encontrar a solução.” Como diz, “é mais uma vez a Câmara a dizer-nos que a Câmara é que sabe tudo. Infelizmente a realidade mostra-nos o contrário.”
Quanto ao PDM e à possibilidade de urbanização industrial prevista para aquele terreno, Guerra promete: “Eu não vou, garanto-lhe, sendo eleito, não vou agravar nenhum dos problemas que lá estão.” E acrescenta: “Há empresas de pesados que têm um impacto no solo, carros amontoados, não existe uma zona industrial em Alenquer.” Reconhece que “existem custos incomportáveis para o município para reverter esta situação”, mas defende que “é uma zona que precisa de requalificação” e que haverá de traçar soluções “por uma questão de respeito pelas empresas” e pelos moradores.
No setor da saúde, o candidato do Movimento Todos destaca que “a construção das unidades locais de saúde em Olhalvo e na Abrigada demonstram que este é um caminho que é preciso continuar”. Reforça contudo e face à carência de médicos de família no concelho, que “os incentivos económicos não são suficientes” para atrair médicos, realçando que os jovens profissionais valorizam também habitação, mobilidade, escolas, serviços. Para curto prazo, propõe “criar uma unidade móvel de saúde, com um médico e um enfermeiro, que se possa deslocar às populações com maior dificuldade de mobilidade, levando cuidados básicos de diagnóstico evitando a sua deslocação.”
Quanto à gestão do dossiê das águas, Guerra afirma que “o contrato foi objeto de adendas e é altamente prejudicial para o nosso concelho”. Anuncia que, se for eleito presidente de Câmara, vai mandar fazer “uma auditoria jurídica ao contrato e às adendas, onde todos os cenários são possíveis”. Acrescenta que “a relação da Câmara Municipal de Alenquer com a empresa Águas de Alenquer vai mudar no dia em que for eleito”.
Finalmente, quanto à transparência, Guerra promete que vai instituir “reuniões de Câmara descentralizadas por todas as freguesias do concelho”, garantir “acompanhamento de todas as medidas ou das chamadas promessas eleitorais”, e colocar “gabinetes em permanente ligação comigo”, para que “todos os compromissos que assumi publicamente, sejam efetivos”. Reclama que até agora os cidadãos têm “um muito reduzido” grau de confiança no executivo, e considera imperativo restabelecer essa confiança com ações concretas.