O Centro de Promoção e Desenvolvimento dos Ensaios Clínicos -CPDEC da Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo, está envolvido num estudo internacional que estuda novas abordagens farmacológicas aos doentes com Doença Renal Crónica (DRC), no qual está envolvida a especialidade de Nefrologia do Hospital de Vila Franca de Xira. O estudo chama-se Alpine dirigido por um laboratório farmacêutico internacional. Bruno Rodrigues, médico daquela especialidade, diz que está a ser testada uma nova molécula patenteada pela Bayer que pode dar frutos no futuro, na senda de outras inovações do género na área do tratamento daquela doença. Se será algo disruptivo a seu tempo se verá. As equipas do hospital congratulam-se por estar um passo à frente na investigação de uma doença que afeta 800 milhões de pessoas em todo o mundo.
De forma simplificada, o nefrologista refere que o principal objetivo é que este novo fármaco possa ser mais um passo no atraso da evolução da doença renal crónica, e consequente envio do doente para diálise, com todas as implicações que esse procedimento acarreta para a sai qualidade de vida. O estudo que o hospital está a fazer é de avaliação da eficácia terapêutica (fase 2). “É um ensaio que ainda está a tentar validar quais as doses ideais do fármaco para o doente, em que são feitos estudos de farmacologia, digamos assim, que são exigentes. Geralmente, os hospitais distritais e de menor dimensão não costumam receber este tipo de ensaios. Portanto, estamos muito orgulhosos em o termos conseguido”, expressa o profissional.
Nova molécula com potencial para mudar o tratamento
Este é um ensaio trabalhoso e que envolve o comprometimento do doente que ainda não chegou à fase da diálise, que envolve várias recolhas de sangue ao longo do dia em contexto hospitalar, primeiro de duas em duas semanas, e depois uma vez por mês, “no qual temos tido um excelente apoio da equipa de enfermagem, equipa de farmácia, e da nossa coordenadora de estudo que faz toda a diferença”.
O fármaco apenas chegará à comercialização após passar a terceira fase dos ensaios. A equipa de Vila Franca em articulação com outras de todo o mundo, começou a efetuar os testes no final do ano passado. Os resultados são para já animadores. Quanto ao que novos fármacos no futuro, incluindo este, poderão significar no avanço no tratamento da doença é difícil avaliar, segundo o nefrologista, porque a doença renal crónica está diretamente relacionada com diversas comorbilidades, todas elas com evoluções diferentes de paciente para paciente, sendo a principal a nefropatia diabética, mas também a hipertensão.
“Tudo depende se tiver uma patologia grave, de vários foros, que pode levar a que o doente tenha necessidade de ficar insuficiente renal terminal. Agora, nestes doentes que têm patologias indolentes, que levam à progressão lenta e indolente da função renal, o que conseguirmos atrasar nessa progressão é ganho para o doente.”
Comercialização depende da fase 3
Bruno Rodrigues acredita que o novo fármaco em perspetiva se concretizará em mais uma terapêutica a juntar a outras do mesmo tipo que nos últimos anos surgiram no mercado com vários ganhos. Os próprios injetáveis para a diabetes têm um efeito reconhecido também no atraso da doença renal crónica, mas há ainda um horizonte em aberto com outras abordagens a nível das células tronco e quem sabe, um dia, do rim artificial.
“Houve um período em que não tivemos muito para oferecer aos doentes no ponto de vista da prevenção e do controle da progressão da doença. Felizmente, nos últimos 3, 4, 5 anos, têm aparecido moléculas novas que têm sido promissoras”
“Esperemos que esta molécula, como outras que estão a ser estudadas na Nefrologia, venham a fazer parte do arsenal de armas terapêuticas que nós temos, efetivamente, para reduzir a velocidade de progressão da doença.”
