Os ânimos aqueceram numa das últimas sessões da assembleia de freguesia de Azambuja. O eleito do PSD, António Filipe, acusou a autarquia de esbanjar verbas em eventos e festas, descurando outras áreas de intervenção e outros grupos populacionais. A estratégia da junta tem sido a de promover diversos espetáculos vocacionados para as camadas mais jovens.
Em entrevista ao Valor Local, António Filipe acusa André Salema, presidente da junta de Azambuja, de gastar cerca de 100 mil euros num total de 600 mil euros do orçamento anual em eventos como o Azambuja CultFest, o festival que passou a substituir as festas da freguesia, de cariz mais popular, que juntavam o religioso e o profano– “As pessoas dizem que este é um evento de nicho, até elitista, sem ligação ao comércio e à generalidade da população”, diz o eleito.
Na reunião da assembleia de freguesia, André Salema instou o PSD a apresentar quais os eventos que pretende eliminar do conjunto daqueles que a autarquia leva a cabo – Se o CultFest, a feira medieval, as comemorações do dia da criança, ou as sessões de stand up – “Não queremos acabar com nenhuma, apenas que haja uma política de contenção de custos em cada uma delas”. “Faz falta a junta ouvir mais as pessoas e não deixar morrer a tradição taurina como acontecia nas festas da freguesia, porque esta junta, nesta altura, até se pode dizer que é antitaurina”, face à escassez de oferta neste domínio. “As verbas devem ser distribuídas de forma equitativa e paralelamente ao CultFest levar a cabo espetáculos relacionados com as nossas tradições tauromáquicas como houve no passado”.
Autarca diz que gasta menos do que Inês Louro, presidente da junta entre 2013 e 2021, em festas
Ao Valor Local, André Salema, quando questionado sobre os gastos no Cultfest que de acordo com o portal base, no ano passado, implicou custos no valor de 58 mil euros (em 2023, 38 mil 800 euros e 2022, 25 mil euros) – fora os valores que não ultrapassam os cinco mil euros e que não constam nesta plataforma do Estado – refere que a junta conseguiu economias de escala muito apreciáveis ao conseguir patrocínios e um conjunto de lucros substanciais, relacionados por exemplo “com a venda de bebidas” que permitem dizer que este festival não ultrapassa os 37 mil euros de gastos para a autarquia.
O autarca ficou de apresentar essa tabela de lucros e gastos do evento. Acrescenta que numa candidatura ao IEFP para promoção do artesanato durante o festival, encaixou um valor de 15 mil 373 euros. Entre entradas, patrocínios e outros apoios, 78 mil 488 euros. Feitas as contas, diz André Salema, que são menos 37 mil euros em relação às festas da freguesia do ano 2020, ainda com Inês Louro à frente da junta.
Já quanto às críticas de que a junta está de costas voltadas para a cultura e tradição tauromáquicas, contrapõe com os apoios que são dados ao grupo de forcados e à União de Tertúlias de Azambuja. Já quanto a incluir eventos tauromáquicos na gestão do cartaz de eventos da autarquia, remete para o Mês da Cultura Tauromáquica da alçada do município.
António Filipe diz ainda ao Valor Local, por outro lado, que esta multiplicação de verbas nos eventos levados a cabo é tanto mais incompreensível porquanto esta gestão de André Salema não é melhor do que outras quando falamos em limpeza e higiene urbanas, que no entender do eleito, deveriam ser a principal pedra de toque da gestão da junta, e não o CultFest e outros eventos. “Está a ser bastante descurada essa componente, a junta está sempre a pôr fotografias no Facebook, mas quando ouvimos a população de Azambuja essa é claramente uma das componentes que está a falhar”.
André Salema considera a crítica injusta porque “quando chegámos à junta tínhamos 9 funcionários e hoje são 18. A limpeza urbana nunca teve um grau de satisfação tão elevado. Temos uma equipa permanente de cinco senhoras na rua”. O Valor Local contrapôs com algumas zonas da vila onde a insalubridade é evidente em pequenas ruelas da parte mais velha e antiga da vila, ou mesmo junto às denominadas torres onde abunda lixo e dejetos de animais. “Não podemos ter um funcionário em cada rua. Haverá sempre uma folha ou um papel no chão. Cada um tem de fazer também a sua parte”, elucida.
Junta investe milhares de euros em eventos para jovens e “obriga” idosos a pagar 25 euros para um passeio com almoço em restaurante no Cadaval
Sendo esta uma junta que se tem assumido desde a primeira hora como grande organizadora de eventos vocacionados para jovens, questionámos o autarca sobre a diminuta aposta nas camadas populacionais mais idosas. Ainda recentemente a junta realizou um passeio para idosos a um restaurante no vizinho concelho do Cadaval, na Serra de Montejunto, em que cada um teve ainda de pagar 25 euros.
Confrontado com esta questão e tendo em conta que noutras freguesias do país, os idosos não pagam este tipo de valores e os passeios até são a locais que não propriamente um outro concelho logo ali ao virar da esquina, André Salema defende-se – “Se soubesse quanto é que o custo do passeio dos idosos, com seis autocarros cheios de pessoas !?”. Se a junta podia ou não ter desembolsado um valor que permitisse cobrir estes custos com o almoço, responde – “Poder até podia. Mas são escolhas que se fazem, até porque aumentámos a qualidade. Temos os custos com o seguro, o transporte. Os que participaram tiveram ainda direito a almoço e lanche ajantarado, bem como uma lembrança em jeito de oferta. Cada pessoa tem ainda um custo de mais 50 euros cada, por isso acho plausível esse valor de 25 euros”.
Tesoureiro da junta bate com a porta a nove meses das eleições
Na reta final do mandato, João Simões, tesoureiro da junta, decidiu abandonar o barco, e pediu renúncia de mandato. Numa carta à qual o Valor Local teve acesso evoca questões de saúde e da vida profissional, mas deixa escapar – “Tenho encontrado dificuldades em aceitar determinadas decisões tomadas no âmbito do mandato. Algumas delas contra a minha forma de estar e de viver, o que tem gerado desconforto que considero incompatível com o exercício pleno e satisfatório das minhas responsabilidades. Como diz o provérbio ‘quem está mal que se mude’, eu mudei. A insatisfação é um incentivo para a mudança”. Sobre esta demissão, André Salema não tece comentários. O Valor Local tentou o contacto com João Simões mas sem sucesso.