O Pais viveu na última semana mais uma tragédia e um horror com a ocorrência de fogos florestais que ceifaram vidas, destruíram património e lançaram o desânimo em muitas comunidades rurais. Ciclicamente vemos o Pais ser afetado por estas tragédias que dizimam vidas e destroem habitações, infraestruturas públicas e privadas, locais de trabalho e projetos duma vida, deixando muitas pessoas absolutamente desoladas e sem vontade de reerguer habitações, empresas ou outras infraestruturas, com a perda de vidas e muitas vezes do trabalho duma vida. Os governos empenham meios e recursos públicos no combate, mas nada parece capaz de conter o fogo e o seu caudal cada vez mais destrutivo. As imagens que chegam a nossas casas através das televisões provocam-nos uma angústia e uma aflição tremendas e nem sequer sonhamos o que provoca nas pessoas vítimas desses mesmos incêndios. E depois lá vão os bombeiros, sempre eles, chamados a combater este monstro que também ceifa as suas vidas deixando um rasto de destruição nas famílias e camaradas dos soldados da paz. E isto parece não ter fim de tal modo que o País assiste, ano após ano, à chamada época dos fogos florestais com aparente normalidade. Consultei o inventário Florestal Nacional para tentar perceber daquilo que estamos a falar.
“A Floresta Portuguesa ocupa 3.2 milhões de hectares, o que corresponde a 36% do território nacional. Em oposição ao que se observava desde 1995, a área florestal aumentou em 60 mil hectares entre 2010 e 2015 (IFN 6). Assim, a floresta continua a ser o principal uso do solo (36%), segue-se 31% de ocupação agrícola e 24% de áreas de incultos. A floresta nacional tem uma composição maioritariamente constituída por espécies autóctones (72%), sendo os montados (povoamentos compostos por sobreiro e azinheira) a principal ocupação florestal, com cerca de 1 milhão de hectares. Os pinhais (constituídos por povoamentos de pinheiro-bravo e pinheiro-manso) são a segunda maior ocupação florestal, com uma área pouco inferior a 1 milhão de hectares. As folhosas caducifólias (carvalhos, castanheiros e outras) são a formação florestal menos representativa (10%). Ainda assim, das espécies predominantes, o eucalipto é a espécie florestal que ocupa 26,2 % da área florestal, equivalente a 845 mil hectares. Segue-se o sobreiro com 22,3% de ocupação, o que corresponde a 719 mil hectares e o pinheiro-bravo com 22,1 %, o que corresponde a mais 713 mil hectares de floresta.”
Este é o retrato de um País que arde cada vez mais e de forma mais brutal e devastadora nos últimos anos e é imperioso fazermos alguma coisa para invertermos este estado de coisas. Andou muito bem o 1º Ministro Luis Montenegro ao assumir diretamente o acompanhamento e controle da situação dos fogos florestais e colocando de imediato no terreno o seu Ministro Adjunto e da Coesão para articular junto das comunidades e autarquias as respostas que as pessoas precisam desde já. Também é necessário rever o quadro legal e começar a tratar os temas da investigação e da criminalização dos incendiários com maior atenção.
O País mudou estruturalmente nos últimos anos com uma fortíssima deslocação de pessoas para as cidades com enormes consequências na desertificação rural e no abandono dos campos que até aqui eram áreas de cultivo e de pastagens, e que tem perdido milhares de hectares para proliferação do eucalipto com as consequências que se conhecem. Conjugando este cenário com as alterações climáticas julgo que é tempo de agarrar este tema com frontalidade e tomar decisões difíceis no futuro imediato sob pena de não conseguirmos por fim a este flagelo dos fogos florestais !!