Eleito presidente da junta de Aveiras de Baixo nas últimas eleições autárquicas, José Fortunato Martins, revela que quando chegou à autarquia, depois de uma longa carreira nas forças de segurança e encontrando-se já reformado, veio a conhecer uma junta com muito por fazer. “A junta por exemplo não tinha seguros contratados, nem medicina no trabalho para os colaboradores, nem uma empresa que fizesse a limpeza das instalações, as administrativas é que tinham de fazer esse trabalho”, conta ao Valor Local. Questões básicas e obrigatórias que urgia resolver. No seu mandato, conta, decidiu ainda alargar o atendimento aos fregueses durante a hora de almoço. Até final do mandato, e entre outras promessas eleitorais, está a inauguração de um monumento já no ano que vem de homenagem a Santa Maria das Virtudes, sendo que este é um investimento de 25 mil euros.
Uma das principais dificuldades desta junta de freguesia prende-se, atualmente, com a contratação de assistentes operacionais para os lugares de cantoneiros ou outros trabalhos de manutenção na freguesia. Mesmo através do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) a junta não consegue manter os trabalhadores “porque não lhes interessa este tipo de trabalho, regra geral ficam um ou dois dias”. Esta é uma dificuldade, as normas da contratação pública para colocar assistentes no quadro também não ajudam, e Martins refere que já andou de vassoura a varrer ruas, numa determinada ocasião.
Espírito de comunidade é cada vez mais inexistente na localidade de Virtudes
O presidente da junta lamenta que o espírito de comunidade se esteja a perder em localidades como Virtudes ou Casais da Lagoa. Nesta última há cada vez “menos gente” interessada em ficar à frente das coletividades, mas em Virtudes este estado de coisas ainda é mais pessimista – “É praticamente um dormitório, onde as pessoas vivem, mas onde não fazem qualquer tipo de vida na aldeia”. A coletividade local também está mergulhada num marasmo apesar das várias tentativas de revitalização. Ali vivem 600 pessoas. Há dois mandatos ainda se realizava uma feira medieval, mas rapidamente caiu no esquecimento. “A junta de freguesia não tem arcabouço para levar por diante esse evento, mas a associação que está com uma comissão administrativa também não tem vontade. Tenho ideia que a dada altura houve um desentendimento entre quem fazia parte da associação e um antigo presidente de junta, Carlos Valada”. “Fico bastante entristecido com a falta de sentido de pertença à comunidade existente em Virtudes. As pessoas não convivem entre elas”. O encerramento do último café da localidade também para isso contribuiu. Nem os vários eventos que a Câmara leva a cabo por ano no Convento têm o condão de chamar as pessoas da terra. “Acabam por ir a esses espetáculos, pessoas de Azambuja ou de outras freguesias do concelho. Até andei recentemente a distribuir folhetos de um concerto pelas caixas de correio, vamos lá ver se alguém aparece”.
José Fortunato Martins orgulha-se ainda de ter lançado mão do projeto “Envelhecer Melhor” que consiste na disponibilização de um transporte por parte da junta com o objetivo de levar os mais idosos da freguesia, uma vez por semana, a Azambuja para compras, entre outros afazeres. “Gostava de os levar ao centro de saúde, mas infelizmente continuamos adstritos à extensão de saúde de Aveiras de Cima, o que não faz sentido nenhum.” A falta de médicos de família no concelho é premente, e neste aspeto José Fortunato Martins revela que a grande maioria dos fregueses se desloca a um médico no privado através da Cruz Vermelha do Cartaxo – “É a pagar mas o valor é pequeno”.
Nos edifícios da junta também houve mudanças – “Fiz mudanças porque aqui em cima onde estamos, isto era um monte de lixo. As paredes estavam todas húmidas. Ninguém vinha aqui para cima”. O presidente da junta não tem dúvidas em referir que o seu antecessor, Carlos Piriquito, do PS, não soube zelar pelo património comum. Até os balneários tiveram de sofrer uma intervenção. Hoje pode ler-se na fachada – “Vi, não gostei requalifiquei”, com a assinatura de José Fortunato Martins por baixo.
A menos de um ano das próximas eleições, José Fortunato Martins ainda não tomou uma decisão quanto a uma possível recandidatura. Apesar de ser um dos dois presidentes de junta do PSD no concelho, reconhece que a relação com o presidente da Câmara, Silvino Lúcio, é tranquila, mas que se sente prejudicado por não ser da mesma cor política e isso nota-se a nível de muitas decisões – “Andamos há meses a pedir para que a Câmara pinte umas passadeiras na freguesia, porque a sinalização horizontal é da responsabilidade do município. Também já pedi uma ilha ecológica e nada, bem como um circuito de manutenção nas Virtudes. A resposta é sim, mas até hoje nada foi feito”. O presidente da Câmara também prometeu que ia “alargar os cemitérios, sendo que isso também não se concretizou”.
“Dizem-me sempre que sim, só que as coisas depois não avançam tão rápido quanto desejaríamos. E isso aí tem-se notado. Para colocarem um abrigo de passageiros demorou-se um ano, por exemplo”.
Para a frente vai mesmo a promessa eleitoral, na reta final do mandato, de custear o passe da CP aos habitantes de Virtudes, de forma que paguem os mesmos 40 euros de Azambuja. Serão cerca de 65 pessoas beneficiadas da freguesia. O município já construiu um regulamento e o tema foi levado à última reunião de Câmara para aprovação.
Melhoria do serviço de recolha de resíduos sólidos urbanos
O presidente da junta de freguesia reconhece que o serviço de recolha de lixo melhorou “bastante” nos últimos meses, graças a uma aplicação disponibilizada pela Ecoambiente. A empresa encarregue desse serviço com a qual a Câmara fez um novo contrato este ano lançou a ferramenta que consiste na sinalização de contentores que necessitem de uma recolha urgente. “Algo que tem estado a correr muito bem”, salienta.
“Temos acesso a essa plataforma nas juntas de freguesia. O administrador da Ecoambiente apresentou-nos essa ferramenta numa reunião na Câmara. Assim que as pessoas telefonam para dar conta de algo que esteja menos bem, como, por exemplo, a deposição de um colchão ou de monos junto a um contentor. Introduzimos essa informação e a Ecoambiente tem acesso a ela de imediato. Não posso dizer que o serviço tenha ficado excelente, mas melhorou bastante, porque antes, o concelho e a freguesia pareciam uma lixeira a céu aberto”.
“Quis entregar o meu cartão de militante do PSD quando Margarida Lopes ganhou as eleições da concelhia”
Apoiante de Rui Corça desde a primeira hora, nas últimas eleições para a concelhia do PSD de Azambuja, José Fortunato Martins salienta que ficou desiludido com a forma como se processou o ato eleitoral que deu a vitória a Margarida Lopes. No seu entender nem tudo correu da forma “mais transparente” por parte de Margarida Lopes, que ao que tudo indica será a candidata à Câmara – “Apoio-a porque é do meu partido, mas não é do meu agrado que seja ela. Não foi com o meu voto que foi eleita presidente da concelhia. Na altura pensei mesmo em entregar o meu cartão de militante”. Recorde-se que a então candidata foi acusada de ter cometido irregularidades nas eleições da concelhia, contudo nada foi decidido no sentido de se repetir o ato eleitoral.