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Quando a moda muda de pele: jovens de Azambuja dão nova vida à roupa em mercados de segunda mão

Em Azambuja, um dos sábados de setembro encheu-se de cores improváveis. No Jardim Dr. Joaquim Ramos, cabides, expositores e malas deram corpo a um mercadinho que parece simples à primeira vista, mas que traduz uma mudança profunda: a moda já não é o que era. O encontro reuniu dez bancas de roupa usada e, sobretudo, uma geração que se recusa a medir estilo pelo preço da etiqueta.

Entre elas, Sara Lança, 23 anos, estudante de mestrado em Comunicação de Moda, que é a alma deste movimento local. A sua história começou em Lisboa, em 2021, quando vivia ao lado de uma loja Humana. “Ia duas vezes por semana ver peças boas e baratas. Comecei por abrir uma lojinha no Instagram, a Playlook, e depois passei para a plataforma Vinted. O meu objetivo era reduzir o consumo e dar mais vida às roupas.” Sara confessa que a experiência de ter trabalhado na Zara lhe abriu ainda mais os olhos. “Recebíamos quantidades absurdas de roupa três vezes por semana. Bastava uma pequena mancha para muita coisa ir para o lixo. E o custo de fabrico de uma peça que se vende a 25 euros pode ser de cêntimos. É um sistema de desperdício que me incomoda.”

Adriana Carvalho e Marta Silva mostram as suas peças

A seu lado estavam Adriana Carvalho e Marta Silva, ambas na casa dos 20 anos. Elas também trouxeram roupa própria, peças de família e achados comprados em segunda mão. Para Adriana, é natural que uma peça possa ir já na “terceira mão”, porque “a qualidade de certas roupas antigas é maior do que a das novas” e “não há qualquer vergonha” em usá-las. Marta reforça que “não vale a pena descartar roupas que ainda têm muita vida” e que o mais difícil, por vezes, é a divulgação destas iniciativas: “Precisamos de mais publicidade e mais espaços para este tipo de mercado.”

Para estas jovens vestir roupa usada é uma afirmação ética e estética

O fenómeno vai muito além da poupança. Para estas jovens, vestir roupa usada é uma afirmação ética e estética. “Comprar em segunda mão é uma forma de estar”, diz Sara. “Não me interessa se uma peça tem dez anos. Se estiver em bom estado, uso sem problema. Prefiro pagar 30 euros por uns botins de marca com história do que dar 80 por algo de fast fashion que vai durar pouco.” Adriana completa: “Já não é uma necessidade, é uma escolha consciente. A questão ambiental pesa, mas também a vontade de ter peças únicas.”

Esse é um dos pontos que distingue esta geração da dos seus pais. Para muitas pessoas mais velhas, “usar roupa usada ainda soa a carência”, admite Sara. “A minha mãe, por exemplo, é mais reticente. Para ela, roupa de segunda mão é quase lixo. Mas para mim e para as minhas amigas é normal: todas usamos e trocamos.” Adriana acrescenta que a relação com as marcas também mudou. “Claro que ainda se olha para as marcas, mas a qualidade fala mais alto. Há roupas de assinatura de há vinte anos com melhor corte e tecidos mais duráveis do que peças caríssimas de hoje.”

As bancas mostravam desde casacos vintage a blusas simples, com preços que variavam entre os 2 e os 10 euros

O mercado de Azambuja ilustra esta viragem cultural. As bancas mostravam desde casacos vintage a blusas simples, com preços que variavam entre os 2 e os 10 euros. “Vale a pena, porque quase não há iniciativas assim no concelho”, nota Marta. E, no entanto, o sucesso não depende só do preço. É também a caça ao tesouro que atrai: encontrar um casaco de lã feito para durar ou um vestido intemporal que não existe nas lojas rápidas.

Filósofos da moda poderiam dizer que estas jovens estão a devolver tempo às roupas. “Se a peça for de qualidade, não me importo que já tenha tido várias vidas. É até melhor: significa que resistiu”, sublinha Adriana.

O jardim municipal de Azambuja tornou-se assim um palco de novas práticas de consumo. Ali, comprar é um gesto com consciência ambiental, mas também um ato de estilo. “É encontrar algo que ninguém mais tem, dar-lhe a nossa história”, resume Sara.

No fim da tarde, quando o sol descia sobre o Tejo, muitas peças mudaram de mãos — e de destino. Mais do que roupas, circulou uma ideia: a moda, para esta geração, não é descartável nem refém de coleções de estação. É uma construção pessoal, lenta e crítica, em que cada peça usada é também um pedaço de futuro.

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