Silvino Lúcio, atual presidente da Câmara da Azambuja e recandidato pelo PS, defende que cumpriu 70% do seu programa eleitoral. Contudo, a análise do Valor Local ao documento de campanha de 2021 revela discrepâncias com os números avançados. (A sua adversária do PSD, Margarida Lopes, afiançou que não foi além dos 38 por cento). Várias promessas estruturantes continuam por concretizar, como a requalificação da escola secundária da sede de concelho, a escola primária de Vale do Paraíso ou o posto da GNR em Aveiras de Cima.
Na entrevista concedida à Rádio Valor Local, o autarca argumentou que a elaboração de projetos e candidaturas também deve contar para o balanço do mandato, mas essa perspetiva não é partilhada por parte da oposição ouvida ao longo desta semana de entrevistas.
Na área da saúde, Silvino Lúcio reiterou o esforço feito pela autarquia na tentativa de atrair médicos, com incentivos como os 400 euros mensais. Ainda assim, reconheceu que os resultados estão aquém do desejável e que não existem médicos disponíveis para fixação no concelho. Questionado sobre propostas mais agressivas, como o apoio de 2.500 euros de Margarida Lopes (PSD) por clínico, considerou a ideia “excessiva” para as contas municipais, mas admitiu rever o atual regulamento.
(Clique na seta acima para ouvir a entrevista na íntegra a Silvino Lúcio)
Sobre a requalificação da escola secundária, o atual autarca e recandidato, apontou atrasos relacionados com alterações ao projeto inicial, resultantes de pedidos da direção da escola. O processo foi reformulado para incluir mais salas de aula e um novo pavilhão. O autarca garante que o projeto está concluído e pronto a avançar, aguardando decisão do Ministério da Educação. Admitiu que os serviços camarários poderiam ter sido mais céleres, mas recusa críticas de inação.
E quanto a uma nova aliança com a CDU?
Relativamente à parceria com a CDU, com quem o PS governou em coligação, Silvino Lúcio afirmou que a relação correu bem, destacando a seriedade e o trabalho da vereadora comunista, Mara Oliveira, apesar de algumas divergências na área da saúde. Recusa antecipar cenários pós-eleitorais, caso não atinja maioria absoluta.
Perante promessas por cumprir e obras ainda por arrancar, o autarca garante que, se for reeleito, avançará com os dossiês pendentes.
Candidato defende estratégia económica e responde a críticas à gestão municipal
Silvino Lúcio destacou a aposta da Câmara na formação e desenvolvimento económico. Em parceria com o Instituto Politécnico de Santarém, foi criado um curso técnico superior na área da logística, um setor com forte presença no concelho. O autarca considera tratar-se de uma mais-valia, permitindo a trabalhadores e jovens uma formação com aplicação direta no mercado. “Os alunos estão satisfeitos e houve assiduidade elevada”, afirmou, referindo ainda que a formação já vai na segunda edição.
Quanto ao Hubs Lisbon – infraestrutura vocacionada para o acolhimento empresarial – Lúcio rejeita que o investimento de meio milhão de euros tenha sido mal aplicado. Apesar de a maioria das empresas incubadas operarem em regime virtual, o presidente sublinha a importância da ligação criada com grandes grupos económicos e aponta resultados: “Só em derrama, o município arrecadou mais 1,2 milhões de euros em 2023”. Garante ainda que o edifício do antigo Inasi tem projeto aprovado para instalação física de empresas, embora admita que a execução foi adiada por questões orçamentais.
Questionado sobre suspeitas de favorecimento na promoção de negócios locais por parte do responsável do Hubs, Lúcio desvaloriza: “Todos têm vida para além da Câmara. Não vejo problema.”
Confrontado com a fraca execução orçamental, Silvino Lúcio aponta as limitações impostas pelas transferências de competências. Só na educação, afirma que a autarquia recebe 2,6 milhões de euros do Estado, mas gasta cerca de 5 milhões, assegurando medidas como bolsas, apoio à alimentação e aulas gratuitas. “O Estado transfere responsabilidades, mas não transfere os meios”, denuncia, acrescentando que o mesmo se aplica à saúde e à ação social.
“É durante a Feira de Maio que as associações conseguem verbas para as suas atividades anuais”
A oposição critica ainda os 500 mil euros gastos na última Feira de Maio. Defende que se trata de investimento, não despesa, argumentando que o evento dinamiza o comércio e gera receitas para as coletividades. Sobre a contratação de artistas caros, justifica com a necessidade de atrair público: “O cartaz ajuda a projetar o concelho”.
Face a alegações de adjudicações a empresas “próximas do PS”, nomeadamente na área da comunicação, o presidente rejeita qualquer irregularidade: “Os concursos são públicos e cumprimos a lei.”
Sobre imigração e sobrelotação habitacional, Silvino Lúcio reconhece casos pontuais, mas nega um problema generalizado. Garante que o município atua através do Balcão de Apoio ao Imigrante e aposta na integração. Apesar de relatos vindos de freguesias como Aveiras de Cima ou Vila Nova da Rainha, o autarca e candidato diz estar atento e recetivo a averiguar situações sinalizadas.
No final da entrevista, assume que o diálogo com o atual Governo tem sido mais difícil, sobretudo na saúde, mas rejeita inação: “Estamos a trabalhar. A oposição que conheça primeiro antes de criticar.”