A Covid-19 veio mesmo para ficar, mas agora é uma espécie de familiar afastada da Gripe. Os sintomas confundem-se e neste verão tem-se assistido a um aumento dos casos de Covid. No início deste mês a média diária andava na ordem dos 400 novos casos por dia, e 12 óbitos também diários. O Valor Local falou com a diretora do Serviço de Pneumologia do Hospital de Vila Franca de Xira, Paula Rosa, que nos esclareceu sobre as tendências desta doença. Com o verão e um maior número de realizações ao ar livre, sejam festas, espetáculos, competições desportivas, entre outras o vírus “acaba por circular mais rapidamente”.
Por outro lado, os sintomas nem sempre se manifestam da mesma forma em cada um, e isso acaba por ser intrigante para a maioria das pessoas que já passaram mais do que uma vez pela doença. O próprio vírus “vai sofrendo mutações e apresentando características um pouco diferentes”. A variante atual, KP3, da linha Ómicron “é mais resistente à imunidade” e pode levar “a um aumento do número de casos”. De qualquer das formas, hoje são as pessoas com comorbilidades associadas, especialmente as mais idosas, que acabam por morrer vítimas desta doença, dado que as vacinas e a imunidade de grupo acabaram por condicionar fortemente a evolução do vírus. “Aquele fenómeno de pessoas saudáveis, jovens, que acabavam por falecer já praticamente não existe”. Hoje a Covid-19 segue a mesma lógica da Gripe, “em que agrava as situações de base do doente”.
A grande maioria dos casos de Covid-19 também já não incluem situações em que o doente perde o sentido do gosto e do olfato. “É cada vez menos frequente, até porque a doença é parecida com a Gripe, com sintomas essencialmente sistémicos como febre, dores no corpo, tosse, mal-estar, cansaço”. De tal forma as duas doenças acabam por se assemelhar que atualmente o doente tem de fazer o teste para perceber se está ou não infetado com a Covid-19.
A pneumologista reflete que a vacinação atualmente contra a Covid faz sentido nos grupos de risco, porque a imunidade de grupo foi atingida, mas é de equacionar que num determinado período se possa reforçar a vacinação na restante população, porque no fundo o sistema imunitário de cada um vai perdendo a memória de como se combate a doença, “e poderão regressar as suas formas mais graves”.
No Hospital de Vila Franca de Xira foi desenvolvido um estudo que acompanhou as tendências do vírus durante a pandemia, tendo-se verificado que “surgia muitas vezes associado a casos de obesidade com formas mais graves de doença”- Registram-se “também muitos casos de asma após infeção viral”. Atualmente aquela unidade acompanha vários doentes com casos de Covid longo, ou seja, que ainda apresentam sequelas da doença. “Temos doentes com Covid longo que recuperaram, mas ainda temos alguns que mantêm sintomas como cansaço, e alterações importantes do ponto de vista pulmonar”. “É difícil trabalhar estes impactes do ponto de vista psicológico porque afetaram famílias inteiras”.