A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arruda dos Vinhos veio a público clarificar o processo de venda do imóvel da empresa Cenafogo à Câmara Municipal, no valor de 150 mil euros. O esclarecimento surge depois de alguns comentários nas redes sociais terem suscitado dúvidas quanto à operação.
Num comunicado assinado pela Direção e pelo Comando, a corporação recorda que detém 13 % do capital da Cenafogo, estando o restante do capital distribuído pela Liga dos Bombeiros Portugueses, a Escola Nacional de Bombeiros, a Contrafogo e o próprio município. “A venda deste imóvel trará uma rentabilidade aos nossos bombeiros, algo que logicamente também nos satisfaz”, refere o texto. Os responsáveis sublinham que a transação se arrasta há vários anos, remontando ao anterior executivo camarário, e que só agora foi possível desbloquear pendências de registo. “Não houve qualquer manobra de agendamento político, apenas a resolução de procedimentos legais”, acrescentam.
Contudo, a comunicação oficial dos bombeiros, surge na sequência de uma polémica decorrente da campanha eleitoral. A comunicação da Direção e Comando dos Bombeiros de Arruda trouxe a debate público questões bem mais profundas do que a simples alienação de património.
“É com muita tristeza que vejo a Direção e o Comando efetuar o comunicado da venda da Cenafogo. Dou por mim a pensar o porquê de não comunicarem outras situações muito mais preocupantes que a população do concelho de Arruda deveria saber, pois o socorro à população e aos seus visitantes é que está em causa”, escreveu o subchefe Luís Pinheiro nas suas redes sociais.
Pinheiro, que a par da esposa fazem parte de uma das forças concorrentes às eleições autárquicas em Arruda dos Vinhos, elencou um conjunto de fragilidades internas, começando pela escassez de efetivos “atualmente cerca de 30 elementos” e pelo “afastamento de filhos da terra e não só bombeiros”, que, segundo afirma, se encontram no quadro de reserva. Aponta ainda a incapacidade de garantir, em certos períodos do dia e da noite, a resposta a um segundo pedido de socorro com ambulância, bem como situações em que “a primeira ambulância não é tripulada com um TAS (Tripulante de Ambulância de Socorro)”.
O subchefe destaca o período entre as 16 e as 21 horas como particularmente crítico, dada a intensa circulação de alunos e famílias no concelho.
O alerta abrange também deficiências de infraestruturas, nomeadamente “falta de condições sanitárias (balneários masculinos e femininos)”, e um parque automóvel envelhecido: “viatura de primeira intervenção VUCI com mais de 30 anos, VSAT (Veículo de Socorro e Assistência Tático) com mais de 25 anos e excesso de peso, e viaturas tanque com mais de 40 anos, inoperacionais durante todo o verão”.
Para Pinheiro, estas limitações colocam “todos os operacionais e utentes das vias em perigo” e faz um apelo aos decisores locais “para que todos, mesmo todos, façam alguma coisa em prol dos bombeiros e da população, pois têm estado completamente a borrifar-se nestes últimos anos”.
Rui Silva, em nome da direção, considerou que a publicação “não tem rigorosamente nada a ver com o assunto em referência” e garantiu que será analisada “na próxima reunião da direção”, podendo ser convocada uma Assembleia Geral para “esclarecer verdadeiramente” a população.
De acordo com Rui Silva, na mesma publicação “o clima de quase terror que identifica é inexplicável e inadmissível. A Assembleia é soberana e saberá quem pode ficar à frente da associação”, frisou.
Com este braço-de-ferro, a Direção e o Comando procuram afastar as questões politico/partidárias sobre a venda da Cenafogo e, ao mesmo tempo, são desafiados a dar respostas sobre meios humanos, viaturas e condições de trabalho que, segundo um dos seus subchefes, limitam a capacidade de socorro num concelho em crescimento.
Novo desenvolvimento sobre o imóvel da Cenafogo
A Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos confirmou, entretanto, que o imóvel do Cenafogo está em vias de aquisição definitiva. O contrato-promessa de compra e venda prevê um valor global de 150 mil euros, a pagar faseadamente em 3 anos. O executivo municipal justifica a operação com a necessidade de integrar o terreno e as infraestruturas no domínio público, de forma a garantir a sua utilização futura em projetos de interesse municipal e a evitar a degradação de um espaço que, pela localização estratégica, poderá vir a acolher equipamentos ou serviços relevantes para o concelho.
O Valor Local tentou ouvir o subchefe Luis Pinheiro, mas até ao fecho da edição, não foi possível, ainda assim, espelhamos a opinião do subchefe dos bombeiros de Arruda, tendo em conta o que explicou nas suas redes sociais.
O que é o Cenafogo
Cenafogo era o nome abreviado de um projeto para a criação do Centro Nacional de Luta contra o Fogo, um centro de formação único em Portugal para o combate a incêndios e outras ocorrências relacionadas com a proteção civil. O projeto, que visava a construção de um centro de treinos inovador em Arruda dos Vinhos, foi iniciado mas nunca concluído, tendo parado