Foi hoje o dia- Está inaugurado o maior parque fotovoltaico do país. Depois de muitas peripécias e polémicas desde que o anúncio surgiu em 2020, o complexo com agora 638 mil 400 painéis tenta encaixar-se na paisagem da maior quinta murada da Europa, a Torre Bela, no concelho de Azambuja. Sobram várias zonas de clareiras que tentam atenuar algum do impacto visual do parque, que não deixa de ser a perder de vista. A cortina arbórea de eucaliptos foi mantida, e quem passa junto à 366 vê vários conjuntos de painéis entrecortados por eucaliptos.
No seu discurso, Xavier Barbaro, CEO do grupo Neoen, mostrou a sua satisfação por finalmente este projeto ver a luz do dia. “Foi sem dúvida um percurso notável que fizemos em conjunto (…) um momento forte e simbólico entre os nossos países (Portugal e França)”. “Temos planos ambiciosos para Portugal. Estamos já a desenvolver vários novos projetos e o nosso objetivo é fazer de Rio Maior (Azambuja) um verdadeiro Hub de Energia Verde, como temos vindo a fazer noutros países”.

O responsável sublinhou ainda que a Neoen é inovadora na área, pois em 2017 construiu a primeira grande bateria do mundo na Austrália, tendo-se tornado dos “maiores operadores independentes de baterias a nível mundial”. Um Know-How que a empresa quer agora colocar ao serviço da rede elétrica portuguesa.
No seu discurso, o presidente da Câmara, Silvino Lúcio, fez questão de salientar que o município sempre apoiou o projeto da Neoen no concelho, mas não deixou de reafirmar que a empresa apenas tem de passar a fazer referência a Azambuja e não a Rio Maior, dado que todo o parque está neste concelho e não no município vizinho.
Empresa já apoiou o setor social no concelho com 500 mil euros
Numa entrevista exclusiva ao Valor Local, Matilde Azevedo, gestora de projeto, afirma que nos últimos anos a empresa tem mantido a sua vertente de responsabilidade social junto do terceiro setor e instituições de socorro do concelho de Azambuja, através da celebração de protocolos com vista à “oferta” de painéis solares, bombas de calor ou janelas. Conta que lhe chegou ao conhecimento que no caso de uma das instituições, o que se conseguiu poupar na fatura da eletricidade, deu para acrescentar mais um posto de trabalho na instituição. A responsável diz-se orgulhosa nesta colaboração que será para continuar. No caso dos bombeiros de Azambuja beneficiaram também de equipamentos de proteção individual destinados ao combate a incêndios. O próprio município foi também beneficiário para o seu complexo de piscinas, e escolas através de equipamentos de eficiência energética fornecidos pela Neoen.

Painéis não comprometeram a Águia de Bonelli
Ambientalmente, os painéis solares têm sido associados à extinção de espécies de aves a nível local. A dada altura soaram as campainhas para a possibilidade de a Águia de Bonelli característica desta região poder sofrer o impacte da presença da infraestrutura. Matilde Azevedo explica à nossa reportagem que a empresa está a proceder a uma monitorização desta espécie como de outras, tendo adaptado a construção e a disposição dos painéis em função dos possíveis ninhos da ave. “A águia não deixou de estar presente nestes locais. Estamos muito satisfeitos com o facto. Temos uma empresa que faz esse controle duas vezes por mês para verificarmos se está tudo bem com esta espécie”.
Já quanto aos animais característicos desta propriedade, veados e javalis, Matilde Azevedo explica que se encontram numa zona de montado de sobro que foi preservada e delimitada em relação aos painéis solares. “Claro que por vezes deslocam-se para as zonas de painéis, mas foram construídas rampas para permitirem que passem de um lado para o outro”. Quanto à alimentação destes animais é assegurada pela sociedade agrícola, proprietária dos terrenos.
Ainda na componente ambiental mais de 6.000 sobreiros foram preservados nessas áreas protegidas, para garantir a integração paisagística e reduzir o impacto visual.
Vida útil é de 30 anos e o seu desmantelamento está já acautelado
O parque tem uma vida útil de 30 anos. Em 2055 poderá encerrar ou não, consoante os materiais poderem fornecer, ainda, um acréscimo de produção. “Está tudo preparado até a nível financeiro para que depois se proceda ao desmantelamento”, que pode demorar cerca de um ano. No total espera-se que o parque tenha cerca de 11 trabalhadores a tempo inteiro, conforme anunciado no início.

Parque solar produz energia suficiente para abastecer 110 mil lares
Com uma capacidade de 272 MWp, o parque é composto por duas centrais solares contíguas — a Central Solar de Rio Maior (204 MWp) e a Central Solar da Torre Bela (68 MWp) — ambas detidas integralmente pela Neoen. O parque está localizado no concelho da Azambuja, e com ligação à subestação da REN, em Rio Maior, através de uma linha aérea de 400 kV. As duas centrais começaram a injetar eletricidade na rede no final de 2024 e encontram-se agora totalmente comissionadas. Cerca de 80% da energia renovável produzida será adquirida pelo Estado Português, ao abrigo de dois contratos de aquisição de energia (PPA) com duração de 15 anos, atribuídos no leilão de capacidade renovável de 2019. A energia remanescente, bem como os certificados de origem, serão comercializados no mercado elétrico. A produção anual deste parque ultrapassará os 500 GWh de energia verde, o que equivale ao consumo de mais de 110.000 lares (cerca de meio milhão de habitantes).
O parque solar inaugurado hoje pela Neoen, um dos principais produtores independentes mundiais de energia exclusivamente renovável, passa a ser o quarto maior ativo da empresa em operação a nível global. Contabilizando as centrais solares de Rio Maior e Torre Bela, a Neoen tem uma capacidade total de 326 MWp em operação ou em construção em Portugal. Os outros ativos são a Central Solar de Coruche (8,8 MWp) e a Central Solar do Seixal (2,2 MWp), ambas em operação, e a Central Solar do Foral (43 MWp), que está em fase de construção.