Foi oficialmente apresentado, esta segunda-feira, o projeto do Terminal Fluvial de Castanheira, num evento que contou com a presença do Secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Espírito Santo, e do presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira.
O projeto, com um investimento inicial de 11 milhões de euros, representa uma nova aposta na intermodalidade do transporte de mercadorias, sendo apontado como uma futura porta de entrada e saída do Porto de Lisboa. O terminal pretende afirmar a região como um hub logístico estratégico, conjugando os modos rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo.
Em declarações ao Valor Local, Andreia Fernandes Ventura, administradora do Grupo ETE, responsável pela infraestrutura, sublinhou que “o terminal é um projeto diferenciador, não apenas para a região, mas para o país”. Destacou ainda que a infraestrutura traduz “sustentabilidade social e ambiental”, ao permitir a retirada diária de até 400 camiões das estradas da Grande Lisboa, o que pode representar “uma redução anual de mil toneladas de CO2 equivalente”.

Com uma área total de 2 hectares, o terminal inclui um cais de atracação com rampas de acesso, uma grua elétrica, equipamentos portuários, e um parque com capacidade para 300 contentores, além da previsão de instalação de serviços de manutenção e reparação naval.
O projeto prevê ainda a criação de cerca de 250 postos de trabalho diretos e indiretos, tanto na fase de construção como na operação da infraestrutura. “Desde mestres de embarcações e marinheiros até engenheiros e técnicos de manutenção, haverá uma dinâmica regional muito significativa”, referiu Andreia Ventura.
O investimento de 11 milhões inclui 6,18 milhões de euros de obras adjudicadas à Mota-Engil, 3 milhões para a aquisição de uma grua elétrica, e 2 milhões para equipamento adicional. A responsável confirmou ao Valor Local que, nesta fase, “o investimento é totalmente privado, sem apoio do Governo”.

Sobre a ligação ferroviária, considerada determinante para o sucesso do projeto, Andreia Ventura reconheceu que está “um bocadinho mais atrasada”, mas garante que se encontra em curso. A linha férrea está a 100 metros, e segundo o Governo, encontra-se numa fase de estudo. “Estamos perfeitamente convencidos de que vai avançar”, afirmou.
A cerimónia de apresentação reuniu entidades do Governo, do Porto de Lisboa e das autarquias locais, que saudaram unanimemente o projeto como um passo estratégico para o futuro da logística nacional.
Governo vê terminal fluvial como projeto-piloto para novas soluções logísticas

O Secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Espírito Santo, considerou o Terminal Fluvial de Castanheira do Ribatejo como um “projeto inovador” e potencial modelo para o desenvolvimento de outras plataformas logísticas ao longo do território.
“O terminal representa uma inovação no setor. Temos de saudar a capacidade de certos operadores em testar novas soluções logísticas, especialmente num país com limitações de navegabilidade fluvial”, referiu o governante.
Questionado sobre a ligação ferroviária, cuja ausência foi apontada pela administração da empresa promotora como um entrave à plena intermodalidade do projeto, o secretário de Estado admitiu que a quadruplicação da Linha do Norte é uma condição essencial:
“É uma zona profundamente congestionada, tanto para passageiros como para carga. A quadruplicação tem de acontecer e será o primeiro passo. Depois disso, podemos avançar para o ramal de ligação ao terminal, que faz todo o sentido dada a sua proximidade à linha.”
Relativamente à questão da abolição das portagens entre Alverca e Vila Franca de Xira, diversas vezes reivindicada pelos vários atores políticos de Vila Franca, Hugo Espírito Santo foi perentório ao afastar essa possibilidade: “Neste momento, não há qualquer ponto de situação a reportar. Defendemos que as portagens são indispensáveis para financiar o sistema rodoviário. A Infraestruturas de Portugal tem um défice acumulado de investimento na ordem dos 800 milhões de euros. Não podemos continuar a investir e, ao mesmo tempo, abdicar das receitas que sustentam essa manutenção.”

O responsável governamental acrescentou que o Governo pretende continuar a reforçar o transporte marítimo de curta distância e plataformas intermodais como parte de uma estratégia nacional para a logística e os portos: “Este eixo entre Loures, Azambuja e Carregado é central na área metropolitana. O terminal de Castanheira deve ser assumido como prioritário e pode servir de referência para futuras infraestruturas do género.”
Presidente da Câmara destaca impacto do terminal fluvial na afirmação económica de Vila Franca

O presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, considerou o novo Terminal Fluvial da Castanheira do Ribatejo um projeto decisivo para consolidar o concelho como zona central da logística e da tecnologia na Área Metropolitana de Lisboa.
“O principal contributo do município foi compreender e alavancar esta estratégia absolutamente fundamental. Não só para Vila Franca, mas para toda a região metropolitana, ao nível da multimodalidade dos transportes e da organização logística”, referiu o autarca.
Para além disso, sublinhou o papel da autarquia como interlocutor junto da Administração Central, no sentido de desbloquear e viabilizar o investimento. “Foi preciso intermediar com várias entidades do Estado. O trabalho feito permitiu que hoje estivéssemos aqui a lançar esta importante primeira pedra”, acrescentou.
Fernando Paulo Ferreira destacou que o novo terminal reforça uma zona já dotada de forte presença empresarial e tecnológica: “Na Castanheira do Ribatejo temos uma plataforma logística robusta e uma zona de expansão já em operação. Está aqui em construção o segundo maior Data Center do país. A existência do cais fluvial permite alargar esta infraestrutura e consolidar uma verdadeira zona de investimento económico a norte de Lisboa.”
O edil defendeu que Vila Franca de Xira passou a ser uma referência nacional no acolhimento de grandes investimentos. “Qualquer decisão empresarial de grande escala considera hoje Vila Franca como hipótese real. Temos conseguido atrair investimentos significativos nas áreas da logística, da indústria e das novas tecnologias. Estamos claramente no mapa da Península Ibérica.”

Município exige mudança da praça de portagens para a Castanheira
Interpelado sobre a situação da A1 entre Alverca e Vila Franca, nomeadamente a possibilidade de abolição de portagens, Fernando Paulo Ferreira esclareceu que o Governo está numa fase inicial de renegociação da concessão com a Brisa, mas garantiu que o município já definiu um conjunto de exigências.
“Defendemos quatro pontos essenciais: a construção de dois novos nós — um na Póvoa de Santa Iria e outro em Alverca —, a conclusão do nó 2 de Vila Franca e, de forma muito clara, a transferência da praça de portagens de Alverca para a Castanheira do Ribatejo.”
Segundo o autarca, esta alteração permitirá maior equidade no acesso à autoestrada para todos os residentes do concelho.
“A Castanheira é hoje a verdadeira porta de entrada logística em Lisboa. Faz todo o sentido que seja também a entrada rodoviária. Ao fazer essa mudança, passamos a garantir o mesmo tratamento a todos os residentes de Vila Franca, que ficariam abrangidos pela gratuitidade no acesso à A1.”