Foi em julho de 1975 que na aldeia da Chã, concelho de Sobral de Monte Agraço se acendeu a luz pela primeira vez. Este ano, durante as festas da aldeia, a população vai assinalar a efeméride e os seus 50 anos com uma recriação daquele momento histórico e o descerrar de uma placa comemorativa. Sónia Alfazema da Associação Cultural e Recreativa Chã confidencia ao Valor Local que há surpresas na manga, mas que a população está a acarinhar de forma especial a data este ano. À época a eletrificação da aldeia foi notícia na imprensa nacional e internacional no Der Spiegel, num artigo sobre o pós-revolução, o progresso e o facto de terem sido militares a efetuarem esta operação na localidade.
A localidade foi das últimas do concelho de Sobral de Monte Agraço a ser eletrificada, a par de Abadia e Pinheiro. Foram militares que se encarregaram dessa tarefa e estes também serão homenageados. Viveram na aldeia de março a junho de 75 com a missão de dotar a aldeia de luz elétrica. Ficaram instalados na quinta do senhor Milícias. A população partilhou refeições com eles e ajudou na colocação de postes e na abertura de buracos”. Tratou-se, à época, de uma equipa chefiada pelo aspirante Faustino. À meia-noite do próximo sábado, dia 28, para domingo, dia 29, “tentaremos ficar às escuras o mais possível, apagando todas as luzes do arraial”, de forma a se conseguir “dar o máximo de ênfase possível ao acontecimento”. Depois acender-se-ão as luzes de forma simbólica para assinalar o momento vivido há 50 anos. O momento deverá ser acompanhado por fogo de artifício.
No dia seguinte e depois da inauguração da placa comemorativa, será oferecido um almoço e segue-se um momento de diversão com uma cavalhada de burros, que já não se faz na aldeia desde os anos 70. A associação requisitou os animais em Ferrel, localidade do concelho de Peniche onde se fazem normalmente corridas de burros – “Estou muito expectante”.
Quando a televisão passou a preencher os serões na aldeia
Recuando ainda aos anos 70, e à eletrificação da aldeia, este foi um acontecimento tão marcante na vida da população, que depois vieram outros “luxos” aos quais a população ainda não tinha tido acesso – casas de banho, saneamento básico, recolha de lixo. Claro “quem tinha possibilidades económicas começou a comprar eletrodomésticos como as televisões”. José Matias que geria uma loja na aldeia foi o primeiro a comprar uma televisão. O pai de Sónia foi o segundo. “Depois de eletrificada a aldeia, os militares trouxeram uma televisão para a quinta onde estavam, e as pessoas juntavam-se para assistir aos programas”. Recorda que antes, os serões eram passados no café a jogar às cartas e ao rebuçado e a conversar com a luz dos candeeiros de petróleo. O banho era uma vez por semana numas banheiras de zinco em que a água era aquecida em caldeiras nos fogões a lenha.
Antes dos primeiros sinais de progresso, não havia casas de banho e os dejetos eram transportados dentro de baldes para depois serem enterrados. Sónia Alfazema recorda que depois da eletrificação veio a construção de sanitários públicos.
Cinquenta anos passados, ainda faz sentido para a Chã celebrar a sua Festa da Luz, não em honra de uma qualquer padroeira, mas do acontecimento em si. Aqui a rede de internet não é boa, e essa é uma queixa, mas no próximo fim de semana a luz vai brilhar mais na Chã. “A vinda da luz elétrica trouxe aquela magia inicial, assim como, todo o desenvolvimento e benefícios associados”, conclui Sónia Alfazema.