Existe uma velha teoria que o interior tem de ser povoado e, por consequência, estas tragédias deixam de acontecer. O que não posso mais discordar. O repovoamento do interior por si só não resolve nada. Se um indivíduo mudar de vida para o interior sem que faça algo ligado à terra ou à floresta, nada mudará. A vida do campo é dura e não é difícil perceber o porquê. Acordar de madrugada para regar, o esforço de limpeza e manutenção dos terrenos e dos animais, a dureza psicológica de se perder tudo por chuva ou sol a mais ou a menos e onde o rendimento retirado da terra é muitas vezes reduzido. Se no mesmo local existir uma fábrica, onde o horário de trabalho e o esforço são menores quando comparado com a vida no campo, não é difícil adivinhar para onde vai a escolha de vida da maioria. Ninguém está preparado para a enfrentar este tipo de vida, muito menos depois de abandonar a cidade, a não ser que seja altamente recompensado por isso.
Todos temos de ser responsáveis por esta tragédia que nos assola anualmente. É impossível que continue tudo na mesma e é necessário mudar. Os prazos de limpeza devem ser flexíveis tendo em conta a estrutura populacional (devido aos emigrantes e à população idosa) e as próprias condições climatéricas previsíveis para o ano. Deve existir um reforço substancial da fiscalização e da cobrança efetiva das coimas relativamente ao incumprimento das normas de limpeza. A par de um aumento substancial dos valores das coimas. É necessário ponderarmos a criação de zonas especiais de intervenção em concelhos que regularmente ardem, como são exemplo Arganil, Arouca, Pampilhosa da Serra, Cinfães ou Castro Daire, onde a fiscalização e a intervenção de limpeza terão de ser musculadas e permanentes.
Ninguém percebe como é que a plataforma que nasceu para a identificação das propriedades, o BUPi, ainda não está alargada a todo o país e desde 2017 ainda não há resultados palpáveis a não ser, segundo o próprio site, estarem identificadas 33% das propriedades nos municípios onde está disponível a plataforma. Um projeto que tem 740 técnicos alocados.
Enquanto país, temos de pensar se devemos avançar para a isenção total de impostos e taxas na compra de terrenos com objetivo de emparcelamento e na subsidiação direta a todos os que vivem da floresta, de forma a tornar a atividade mais aliciante para a fixação de pessoas no interior.
Temos de uma vez por todas fazer mais pelo interior e pelas florestas do nosso país.