Com 45 nacionalidades recenseadas, a União de Freguesias do Carregado- Cadafais não esconde ter trabalho redobrado face aos fluxos de imigração intensos, com o acolhimento de muitos cidadãos provenientes, na sua maioria e atualmente, do subcontinente indiano (Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal e Butão). São indivíduos que não falam português nem inglês e que chegam à junta acompanhados por um elemento da comunidade que ajuda a facilitar o diálogo tendo em vista a emissão de atestados de residência por parte das juntas de freguesia.
José Martins, presidente da união de freguesias, destaca que os cidadãos oriundos de Cabo Verde e Brasil ficam automaticamente legalizados desde que tenham contrato de trabalho e habitação, ao contrário das demais nacionalidades que ainda têm de passar pelo ex-Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. A união de freguesias tem ainda 15 nacionalidades não recenseadas.
Com cidadãos de várias proveniências no mundo, a freguesia do Carregado tem 14 mil 622 habitantes, segundo os Censos de 2021, incluindo os cidadãos nacionais e estrangeiros. O autarca não esconde que há sobrelotação no Carregado, pois na Urbanização da Barrada existem 170 números de polícia para 5000 cidadãos eleitores. Foi possível perceber esta realidade quando parte das mesas de voto existentes na antiga escola P3 foi transferida para aquela zona da freguesia. O fenómeno da imigração está intimamente ligado a esta realidade a par do exponencial aumento do preço das casas e do arrendamento.
José Martins vai mais longe e acredita que a informação que chegou aos Censos de 2021 não é completamente fidedigna pois acredita que grande parte das pessoas “esconde a sua permanência aqui”. Por isso aponta, antes, para um número bem superior de “22 mil residentes na freguesia”, até porque “as deslocações das mesas de voto obrigaram ao envio de cartas a cada um dos cidadãos e descobrimos que em determinadas casas viviam cerca de 18 a 20 pessoas”. Houve prédios que “receberam mais de 200 cartas quando o suposto seriam cerca de 100”.
“Este é um fenómeno que nos preocupa em termos sociais, até porque havendo sobrelotação dos fogos isso cria problemas de habitabilidade. Para além de que estamos equipados e temos meios para, por exemplo, limpar o lixo de 12 mil eleitores e temos 22 mil e isso traz-nos um grande problema”. Haverá muita população incógnita que não entrou nas contas dos Censos, mas que por via do processo de pedido de atestado de residência na junta acaba por engrossar o número de habitantes da freguesia. O autarca sabe que já houve intervenções por parte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras no Carregado antes de ser extinto em situações em que “podíamos estar perante crimes de tráfico humano possivelmente”.
“Sei que ainda ontem chegaram ao Carregado cinco agregados, porque foram à escola para matricularem os filhos”.
José Martins lembra que ainda há pouco tempo, “os táxis vinham com estrangeiros diretamente do aeroporto para a junta de freguesia”. “Agora já não se vê tanto, acabou por se tornar algo mais subtil. Havia uma pessoa dentro dessas comunidades dos países asiáticos que trazia indivíduos das várias nacionalidades para pedirem atestado de residência”, mas nesta altura “o fenómeno parece ter contornos menos dramáticos”. “Sei que ainda ontem chegaram ao Carregado cinco agregados, porque foram à escola para matricularem os filhos”. Nesta altura começa a dar-se o fenómeno do reagrupamento familiar. Ainda vêm muitos homens à frente, mas as famílias começam a chegar também ao país. Por isso e quando falamos de sobrelotação “temos desde vários homens a viverem na mesma casa ou várias famílias com os respetivos filhos”. José Martins evidencia que isto acontece com cidadãos estrangeiros quer asiáticos, quer brasileiros. “Quando fomos nós a emigrar também ficávamos depois na casa de outros cidadãos, aqui passa-se o mesmo”, salienta.
O autarca sublinha que nunca detetou casos relacionados com a comunidade imigrante idênticos aos que se passam no Alentejo com claras situações de abuso, “em que as pessoas não recebem ordenado, e vivem em beliches”, até porque se fosse o caso já os teria “denunciado”, embora não desconsidere o fenómeno da sobrelotação.
O Carregado e o país conheceu também um pico de imigração na primeira década dos anos 2000, proveniente do Brasil. Uma grande fatia dessa população abandonou o país na segunda metade deste século, mas agora regressou e “nós vemos isso porque existe esse histórico de residência anterior no Carregado”.
O presidente da junta diz estar habituado às críticas da população quanto ao engrossar dos números da imigração no concelho, sobretudo “porque a construção estancou e não há casas”, mas ao mesmo tempo evidencia que a nova população não está sem fazer nada o dia inteiro porque “há muita procura de mão de obra”. “Não se vê grupos durante o dia a deambular por aí”. No Carregado há imigrantes a trabalhar na agricultura, na logística “e até nos ubers” na entrega de comida, principalmente. Não reconhece também fenómenos de criminalidade ligados aos imigrantes, excetuando-se aqui o facto de “muitos deles conviverem na rua até altas horas, junto a cafés, e isso acabar por ser um motivo de perturbação, mas não é exclusivo dos estrangeiros”.
José Martins evidencia que não têm existido muitas dificuldades aquando da passagem dos atestados de residência “porque temos pessoas que falam inglês na junta, e quando não é assim, eles vêm com um tradutor”. Por outro lado, evidencia que quem chega ao Carregado “é porque já cá tem um primo, ou um conhecido, ninguém cai aqui do nada”. O Carregado, terra de Encontros, tornou-se um eixo fundamental da imigração na região desde o início dos anos 2000 com o surgimento de novas empresas e de novas plataformas logística na região nesta que é localidade com maior densidade populacional no conjunto de todos os concelhos da Comunidade Intermunicipal do Oeste. “Sente-se uma necessidade urgente de mais e melhores equipamentos e infraestruturas com necessidade de criação de zonas deslocalizadas, também de fruição e afastadas da zona de dormitório. Necessitamos com urgência de um parque verde que possa proporcionar bem-estar”.
Rosa Cristóvão é funcionária da junta de freguesia do Carregado e cabe-lhe a si e a mais algumas colegas rececionar os pedidos de atestado de residência. Os cidadãos indianos e paquistaneses normalmente não falam inglês nem português e “é mais difícil” proceder-se à emissão dos atestados “embora cheguem muitas vezes acompanhados de interlocutores que podem traduzir”. Como a comunidade desses países já tem uma certa dimensão “conhecem sempre alguém que pode ajudar”. Já quanto aos brasileiros “estão mais familiarizados com aquilo que é preciso e também vêm acompanhados de outros imigrantes compatriotas”. Tal como o presidente da junta, Rosa Cristóvão, percebe que os mais recentes fluxos migratórios são de cidadãos “que chegam para ficar em Portugal, talvez menos os brasileiros”. Já os cidadãos do denominado subcontinente indiano “falam menos, são mais fechados e não desenvolvem muito sobre aquelas que são as suas expetativas”.