A candidata da CDU à Câmara de Vila Franca de Xira, Cláudia Martins, entrou na corrida com um mote que repete nas ruas: “fazer a mudança”. Rejeita “trunfos” pessoais e apresenta-se como a face de um projeto coletivo. “A CDU não tem cabeças de cartaz. Temos um projeto comprometido com a população. Fomos nós que construímos o concelho e é isso que queremos voltar a fazer”, afirma, sublinhando que os contactos de campanha lhe devolvem “memórias boas do tempo da CDU” e um descontentamento visível: “O concelho está ao abandono: sujo, degradado e sem identidade”.
Cláudia Martins não dramatiza a quebra de votos nas legislativas nem a deslocação do eixo político nacional. “Não nos preocupa o lugar nas sondagens. Preocupa-nos o bem-estar das pessoas. É para isso que cá estamos”, frisa. A candidatura aposta numa ideia de coerência: “Dizem que temos a `cassete´. Não. Batemos nas mesmas teclas porque os problemas continuam por resolver.”
“Nos licenciamentos, uma quota das novas urbanizações deve ser destinada a habitação a custo acessível. Esta Câmara não usou essa ferramenta mas nós vamos usá-la”
Na habitação, admite que o grosso das soluções depende do Estado, mas cobra à autarquia a utilização de instrumentos que, diz, têm sido ignorados. “Nos licenciamentos, uma quota das novas urbanizações deve ser destinada a habitação a custo acessível. Esta Câmara não usou essa ferramenta e nós vamos usá-la.” Lembra que “há cerca de mil fogos municipais e, nestes quatro anos, só 64 foram entregues”, com “centenas de pessoas em lista de espera”. Defende reabilitar parque devoluto e falhado e critica atrasos em programas como o 1.º Direito: “Deixaram passar o tempo.” Sobre megaprojetos, atira: “Não queremos guetos de ricos nem de pobres. Queremos cidade mista, com oferta acessível.”
(Ouça na íntegra a entrevista à candidata da CDU à Câmara de Vila Franca de Xira, Cláudia Martins)
O destino dos terrenos da antiga Armada em Alhandra/Vila Franca é, para a CDU, caso-teste. “Foram comprados por 8,1 milhões de euros e podiam ter vindo a custo zero meses depois. São de todos e têm de servir todos. Não podem ser entregues à especulação”, avisa. Entre as ideias, um centro de alto rendimento ligado ao rio e a instalação de ensino superior público. “Privado não é a prioridade. Acreditamos que o público é possível e vamos canalizar esforços para isso.”
Defende ainda baixar o passe intermodal para 30 euros e gratuitidade para maiores de 65 anos.
A mobilidade surge como outra linha vermelha. “Póvoa de Santa Iria e Alverca estão caóticas. Levamos mais tempo a atravessar o concelho do que de Lisboa até cá”, aponta, citando a pressão criada por novas zonas comerciais e logísticas. Exige ao Governo a construção dos nós dos Caniços e de Sobralinho e acusa falta de coerência: “Aprovam na Câmara e chumbam na Assembleia da República.” Da Carris Metropolitana, critica a conceção das redes e a falta de articulação com o comboio: “Há lugares sem resposta e corredores onde passa tudo. É ir ao terreno e corrigir.” Defende ainda baixar o passe intermodal para 30 euros e gratuitidade para maiores de 65 anos.
Na saúde, é taxativa contra o regresso da PPP ao Hospital de Vila Franca: “Não vamos alimentar o negócio da doença. O SNS trata todos por igual.” Rejeita modelos que “contratam médicos à peça” e diz que a prioridade é “valorizar salários e carreiras no SNS”, em vez de “canalizar fundos públicos para privados”. Sobre carências de médicos de família, considera ilusórias soluções de casas de função: “O que os profissionais querem é condições de trabalho e salário.”
Ecocentro para resíduos e aumentar o número de trabalhadores na recolha de resíduos é prioridade
A limpeza urbana é apresentada como “primeira urgência” caso vença. “Vamos sentar-nos com quem põe a mão na massa e conhece as soluções: os trabalhadores.” Propõe reforçar equipas (duas por ano até 2029), criar um ecocentro municipal para monos e resíduos de pequenas obras e estreitar a articulação com as juntas. Rejeita a ideia de desorganização nos serviços: “Faz-se muito com pouco. Falta valorização e meios.” Paralelamente, critica o peso do orçamento municipal em festas e cartazes: “Em maio, cerca de 1,2 milhões em festivais. Enquanto houver lixo nas ruas, as prioridades têm de ser outras. Não somos contra festas; queremos critério e mais ‘prata da casa’.”
Na educação, a candidata descreve um parque escolar “desajustado do século XXI”: “Aulas com calor ou frio extremos e recreios sem estímulo.” Saúda a escola de Vialonga “tardia”, mas exige requalificações em estabelecimentos como Bairro do Paraíso (VFX) e Alpriate. Denuncia insuficiência das verbas transferidas pelo Estado e pede “pulso reivindicativo” da autarquia.
Promete reabrir o parque de estacionamento do Vila Franca Centro
Quanto ao Vila Franca Centro, adquirido em 40 por cento por um novo investidor, a CDU quer “centralizar serviços municipais” para dinamizar o coração da cidade: “Com cem trabalhadores, o comércio respira, abrem cafés, cabeleireiros. Só habitação entope ainda mais.” Defende reabrir de imediato os 188 lugares de estacionamento. Sobre processos judiciais e inquéritos no urbanismo, prefere distanciamento: “Transparência total, mas deixemos a justiça trabalhar.” Ainda assim, admite uma reforma organizacional com centralização de balcões e desburocratização.
No ambiente, defende encerrar e selar o aterro de Mata Cruz e transformar a área em parque urbano, mantendo a pressão sobre indústrias para cumprimento de normas. Sobre a Cimpor, reconhece melhorias “aparentes”, mas diz que “persistem queixas em A-dos-Melros” e que a autarquia deve acompanhar “de perto”.
Por fim, a quadriplicação da Linha do Norte: modernizar, sim; “destruir bairros, não”. “Faltam estudos e alternativas. O que nos mostram não serve. A Câmara tem de estar ao lado das populações e exigir soluções que não rasguem a vida das pessoas.”