Manuel Júnior, residente em Vila Franca de Xira, faz diálise peritoneal há 10 meses. Tem 59 anos e foi há cinco que descobriu ser portador de Doença Renal Crónica. Este ano o Dia Mundial do Rim assinalou-se a 13 de março e a Rádio Valor Local esteve em direto do Hospital de Vila Franca de Xira (Ouça abaixo no souncloud). Por enquanto, este utente ainda consegue fazer o tratamento no seu domicílio, sem necessitar de recorrer várias vezes por semana ao hospital. A especialidade de Nefrologia foi introduzida com o regresso da unidade ao Estado, e prepara-se agora para dar mais um passo com a inauguração de um centro cardiorenal.
A Doença Renal Crónica é motivadora de diversas restrições alimentares decorrentes deste quadro, e respeitam essencialmente à moderação no consumo de alimentos ricos em fósforo como cereais, leguminosas, refrigerantes, carne e peixe. Manuel Júnior conta que foi desde logo seguido por uma nutricionista no início do seu quadro. Durante cinco anos conseguiu controlar a doença com comprimidos, mas desde o início que lhe indicaram a diálise como o caminho a seguir mais cedo ou mais tarde. Mais difícil de lidar foi com os efeitos psicológicos da doença. “Não é fácil para quem tem uma vida normal e de repente ter de se readaptar”. Manuel Júnior está igualmente à espera da doação de um rim. O tempo médio de espera é de cinco anos.
Uma doença que atinge 20 por cento da população portuguesa
Em casa cumpre religiosamente a diálise peritoneal de 8 em 8 horas, fazendo com que não haja muito espaço de manobra para outras atividades. Cada procedimento demora cerca de 20 a 30 minutos. Principalmente, a doença afetou em muito a sua atividade profissional ligada à informática, devido à imposição dos horários dos tratamentos. Concorda que o rim é muitas vezes um órgão esquecido e o quão limitadora pode ser a Doença Renal Crónica. Uma morbilidade que atinge 20 por cento da população portuguesa. “É uma doença silenciosa. Não nos apercebemos quando já não tem retorno”. O utente elogia ainda a equipa de Nefrologia do hospital que considera inexcedível- “Deixam-me sem palavras para agradecer todo o cuidado que têm comigo”.
No Dia Mundial do Rim, o Hospital de Vila Franca de Xira assinalou a efeméride com uma série de atividades desde ginástica a uma sessão informativa numa escola do concelho de Vila Franca, passando pela inauguração de um mural.
Dia Mundial do Rim com várias atividades
Em entrevista à Rádio Valor Local, Catarina Abrantes, médica nefrologista sublinha a importância de se alertar para a necessidade de desde cedo cada um de nós cuidar dos seus rins. Não apenas nas idades em que as doenças renais acabam por aparecer. “Por isso fomos junto das crianças dar a conhecer este órgão. Ficaram despertas para a fisiologia do mesmo. Perceberam perfeitamente as técnicas dialíticas. Tivemos um feedback positivo”.
Catarina Abrantes dá conta que o novo centro cardiorrenal é mais um passo em frente nesta especialidade que é das mais dinâmicas do hospital. No programa de hemodiálise são seguidos atualmente 45 doentes e no programa de diálise peritoneal 5 doentes. Em 2024 tiveram lugar 689 novas consultas e 3162 consultas subsequentes. A Doença Renal Crónica, considera a médica, é atualmente “uma epidemia”, e o cenário não é diferente na área de abrangência do hospital. “Muito à custa da alteração dos hábitos de vida, com cada vez mais sedentarismo, e fatores de risco associados como o excesso de peso, a hipertensão, a diabetes e cada vez mais em fases precoces da vida, infelizmente”.
