A Escola de Dança Alunos de Apolo de Azambuja soma pódios nacionais e presenças internacionais há 13 anos, mas diz esbarrar num “murro de silêncio” sempre que pede ajuda à Junta de Freguesia de Azambuja. “Enviámos e-mails todos os anos, e nos últimos dois não tivemos resposta”, acusa Miguel Nabeto, responsável da escola, que contabiliza apoios “que nem chegam a mil euros em vários anos” por parte da Junta — entre 150 euros para um evento, alguns fatos de treino e troféus, nos últimos quatro anos. O contraste com o que se passa na pista é gritante: no último fim de semana, Miguel e a parceira Cláudia fecharam um Mundial disputado em Portugal no 15.º lugar, entre 53 pares de vários continentes, voltando a colocar o nome de Azambuja no mapa.
“Desde 2015 não há uma época sem um pódio para trazer a Azambuja”, resume Nabeto. Pelo caminho, ficaram títulos ibéricos, finais constantes em internacionais e a memória do 20.º lugar no Mundial de Miami, em 2017. As ambições não abrandam com passagem pelo Europeu de Roterdão.
Nabeto fala de desamparo institucional
O retrato desportivo contrasta com um quotidiano feito de contas apertadas, falta de espaço e uma sensação de desamparo institucional. A escola compete hoje com dois pares seniores e uma atleta em solo — cinco atletas no total. A base de treino já não é na vila: “Estamos no ADR de Vale do Paraíso, por muito menos custo. Queríamos estar na freguesia de Azambuja, mas não há condições.” A mudança esvaziou a vertente social — “chegámos a ter uma força grande em aulas abertas” — porque “as pessoas não se querem deslocar para fora de Azambuja”. Tentativas para ocupar infraestruturas disponíveis, como o antigo espaço da Bolina, “esbarraram em entraves”, diz.
No orçamento, cada euro conta. “Em 2022, organizámos um campeonato e o apoio camarário foi de 1.000 euros — nem cobre o staff técnico federativo”, exemplifica. Em 2024, a comparticipação anual do município subiu para 4.100 euros — “foi a primeira vez acima dos 3.000; ajuda, mas não chega”. Só em inscrições na Associação Distrital e na Federação a escola gasta “cerca de 1.000 euros por época”. Depois há deslocações internacionais — “600 euros apenas em viagens para o Europeu de Roterdão” — e equipamento específico: sapatos entre 100 e 150 euros, camisas que chegam aos 280, vestidos com “milhares” de pedras. “É uma modalidade de ricos praticada por pobres”, sintetiza.
O foco crítico recai na Junta de Freguesia: “Não responde aos e-mails e os apoios têm sido residuais.” Miguel contrapõe com experiências passadas: no mandato de Inês Louro, recorda, houve apoio a deslocações (combustível e portagens para um Mundial em Bilbao) e iniciativas como a “Color Night”, em que as receitas revertiam para a escola. Noutras freguesias do concelho, surgem gestos “simbólicos mas úteis”: 250 euros de Vila Nova da Rainha; 50 euros de Aveiras de Baixo em 2024 e 2025. E fora do concelho, aponta exemplos em que “o município paga inscrições, deslocações a nacionais e internacionais”.
Sem diabolizar o futebol, o dirigente pede equidade: “Se o município paga inscrições às modalidades do futebol, deve pagá-las a todas as modalidades federadas. O nome que levamos é Azambuja.” A reivindicação é antiga — “desde 2021” — e foi reiterada este ano em reunião com o vereador António José Matos. “Foi-nos dito que em 2025 isso mudaria. Estamos em outubro e ainda não vimos nada”, aponta.
Aulas com treinador espanhol não são baratas
O recrutamento masculino continua a ser um desafio — “há estigmas; quando entram, os rapazes já não saem” — e o ritmo de treino fica aquém do ideal profissional: “Treinamos cinco dias por semana, entre uma e duas horas; o ideal seriam quatro a cinco por dia.” Muitas vezes há viagens relâmpago a Madrid para aulas intensivas com o treinador espanhol. “Tudo do nosso bolso”, sublinha.
Quanto ao futuro, a dúvida instala-se. “Estamos cansados. Quem sabe se os ‘Alunos de Apolo de Azambuja’ não deixarão de ter ‘Azambuja’ no nome”, admite, reconhecendo desgaste e deixando o aviso: “Tenho a certeza de que seria indiferente para quem hoje pouco nos apoia.” Ainda assim, a escola continua a formar: quatro alunas iniciaram o percurso rumo à competição, à espera do “sim” dos pais.
Do lado da comunidade, o carinho não falha. “As pessoas pedem vídeos, aplaudem, acompanham.” Do lado das instituições, Miguel pede “um compromisso estável” e até propõe um gesto simbólico com substância: “Um evento anual de homenagem aos atletas federados que representaram o concelho em patamares altos.”
Miguel Nabeto faz parte das listas do PSD à junta de Azambuja nestas autárquicas, confrontado com o facto de poder estar a tirar aproveitamento político com esta polémica, face ao executivo PS de Salema, diz que já se queixou noutras ocasiões, mas deixa escapar que desta vez “o copo encheu de vez”