António Pito, recandidato do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal de Azambuja nas Autárquicas 2025, há quatro anos ficou em último lugar com 428 votos. Está consciente das dificuldades até porque nas mais recentes legislativas o Bloco de Esquerda afundou-se e tem apenas uma deputada contra os 19 que em tempos conseguiu na Assembleia da República. Pito critica a atuação do executivo socialista nas mais diferentes áreas, desde a saúde à educação, passando pela economia. Desleixo; imobilismo e falta de iniciativa são apenas algumas das ideias que deixa sobre o mandato de Silvino Lúcio, que acusa ainda de ter promovido o Jobs for The Boys ao melhor estilo dos socialistas.
Sobre a saúde, Pito considera insuficiente a resposta que tem sido dada pelo protocolo Bata Branca, ainda que este tenha permitido realizar mais de 11.500 consultas desde a sua criação. Aponta que muitas dessas consultas são feitas remotamente, o que levanta dúvidas sobre a sua eficácia real, sobretudo para utentes deslocados de freguesias mais distantes. O candidato do BE rejeita o modelo das Unidades de Saúde de Tipo C, geridas por IPSS, defendendo uma resposta pública robusta, com atração de médicos por via de incentivos mais significativos — como majorações salariais e apoio à fixação — em vez dos atuais 400 euros mensais, que classifica como ineficazes.
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Na educação, António Pito lamenta que Azambuja continue sem qualquer garantia de financiamento para a requalificação da Escola Secundária, apesar da disponibilização de 300 milhões de euros no âmbito de um empréstimo europeu gerido pelo Ministério da Educação. Acusa a atual gestão de falhar na apresentação atempada de candidaturas ao PRR e outros fundos, permitindo que oportunidades valiosas escapem ao concelho.
Câmara arrecada somas chorudas com a instalação de armazéns mas não consegue aplicá-las ao serviço dos munícipes
O bloquista reforça que os lucros provenientes da instalação de grandes empresas logísticas — como um recente armazém que gerou uma mais-valia de 900 mil euros — devem ser canalizados para infraestruturas públicas, e não apenas absorvidos pela máquina administrativa. Aponta ainda falhas na área da habitação, proteção animal e uso de verbas públicas disponíveis, mas não acionadas.
A sua visão é esta: o problema não está na falta de recursos, mas na falta de ambição e organização da autarquia.
Um dos principais temas abordados foi o encerramento do aterro da Triaza, cuja gestão tem originado longos processos judiciais. António Pito reiterou a sua posição de há quatro anos: o encerramento imediato do aterro era necessário, mesmo prevendo-se um conflito legal. Para o candidato, a prioridade sempre foi a defesa dos interesses ambientais e da saúde pública. Mostra confiança de que o desfecho judicial será favorável à população, denunciando ainda violações do caderno de encargos por parte da empresa, incluindo o depósito ilegal de resíduos perigosos.
No plano da gestão dos resíduos urbanos, Pito manifesta insatisfação com o atual contrato com a empresa Ecoambiente e admite estudar a remunicipalização do serviço, caso se justifique, sempre com base na qualidade da prestação. Deixa claro que o Bloco de Esquerda não defende a municipalização por dogma ideológico, mas sim em função do interesse público.
A habitação surge como outro eixo prioritário. Pito critica o desleixo da autarquia em relação ao programa “1.º Direito”, cujos atrasos e ineficácia penalizam fortemente os munícipes. Denuncia a morosidade dos licenciamentos urbanísticos, que afetam diretamente os investimentos privados e o acesso à habitação. Ao mesmo tempo, reforça a urgência de investir na reabilitação do parque habitacional e acusa a Câmara de prometer soluções que raramente se concretizam.
Se vencer a Câmara, o Bloco de Esquerda vai acabar com a avença de Rui Pinto
Na área da inovação e desenvolvimento económico, é crítico da atual política da incubadora municipal, que considera ser usada como “caixa de correio” para empresas sem real impacto económico. Recusa renovar avenças milionárias com gestores que, na sua ótica, pouco ou nada trazem ao concelho, propondo canalizar os recursos para apoiar diretamente pequenos empresários e comerciantes locais.
Relativamente à imigração, Pito tenta adotar uma abordagem mais equilibrada, até em comparação com outros membros do seu partido. Reconhece os problemas de sobrelotação e falta de habitação, mas rejeita a criminalização dos imigrantes. Aponta para a responsabilidade dos senhorios e da falta de políticas públicas de habitação. Defende a integração, o reagrupamento familiar e critica o discurso xenófobo que tem ganhado força no espaço público.
Em tempos, a Águas da Azambuja eram combatidas ferozmente pelo BE mas agora o partido acha que a empresa melhorou o serviço
Finalmente, sobre os serviços de água e saneamento, reconhece melhorias na atuação da empresa Águas da Azambuja, salientando que a remunicipalização só será ponderada caso o serviço se degrade. Reitera que o essencial é a qualidade do serviço e o preço justo para os consumidores, independentemente da natureza pública ou privada da gestão.