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EXCLUSIVO: Pais da criança que agrediu colegas com uma faca pedem desculpa à comunidade de Azambuja

O dia 17 de setembro não será esquecido tão facilmente pela comunidade de Azambuja. Nesse dia e sem que nada o fizesse prever um aluno da Escola Básica de Azambuja usou uma faca para golpear os colegas. Seis crianças do sétimo ano tiveram de ser hospitalizadas. A criança que cometeu aqueles atos com 12 anos feitos há pouco tempo foi, entretanto, encaminhada para um centro educativo em Lisboa. Foi a medida tomada pelas autoridades. O ataque inesperado numa escola de Azambuja ficará na memória da comunidade durante muito tempo. Ficará à guarda do Estado por um período mínimo de seis meses, após os quais será reavaliada a sua condição. O Valor Local ouviu em exclusivo os pais daquela criança que escolheram o nosso jornal para dar o seu testemunho e emitirem um pedido de desculpas à população de Azambuja. Trata-se de uma entrevista única, como os próprios afirmam, pois não desejam expor o seu estado futuramente.

Alice e João (nomes fictícios a pedido dos envolvidos), pais da criança, começam por contar que o filho sempre foi um aluno excelente e muito curioso perante o mundo. Nunca se sentiu isolado. Tinha amigos na escola, e chegou a ser delegado de turma. A mãe é professora e o pai segurança. Esta é uma família como outra qualquer a viver numa terra como Azambuja, igual a muitas outras do país. A vida sempre correu tranquilamente, e apesar de os colegas chamarem “gordo” ao filho na escola, “porque de facto estava acima do peso”, prefere não apelidar essa ação de bullying nem culpa os demais colegas. “Procurava que o meu filho relativizasse isso, apesar de o afetar. Entretanto, também o coloquei na nutricionista e nas férias fizemos muitas caminhadas e exercício físico”.

Os pais acreditam que o filho poderá ter algum nível de sobredotação, o que poderá indicar uma elevada sensibilidade por outro lado. “Ele é um excelente aluno e tem um discurso que não parece o de uma criança com 12 anos. Conversávamos bastante sobre o que se passava na escola, ele dizia compreender, mas possivelmente no subconsciente ficava aquela dor.” Alice considera que deveria haver mais acompanhamento nas escolas por parte de psicólogos, porque os que existem são escassos. Sempre que tinha reuniões com o professor diretor de turma, no ano passado, também não lhe era relatado qualquer tipo de comportamento anormal por parte do filho. “Os professores diziam que ele era um miúdo atento ao que lhe diziam”.

O ataque com a faca que trouxe de casa deu-se no primeiro dia do regresso às aulas, ao que se sabe foi buscar esse objeto depois do intervalo. A mãe conta que dias antes o filho estava com expetativa positiva de regressar à escola. A turma tinha colega novos e alguns que já vinham da turma do sexto ano. Toda esta aparente normalidade desembocou no desfecho conhecido. Alice conta que o filho até hoje não consegue explicar a sua atitude. “Teve um surto e está em estado de choque. Não consegue explicar”. Nesse dia simplesmente pegou numa faca de cozinha e no colete à prova de balas do trabalho do pai. “Isto foi tudo tão rápido, ele não se apercebeu de quem tinha magoado”. 

A avaliação clínica feita pelos psicólogos ainda não é conhecida. Alice dá conta que o filho seria submetido este mês “a um processo avaliativo-cognitivo por suspeita de sobredotação”. “Pelo que li esse tipo de crianças quando alvo de alguma coisa que os magoa podem sofrer um impacto maior”. A mãe que é também professora é da opinião que as escolas devem também aprender a lidar com este tipo de alunos, já que este tipo de incidência está muitas vezes ligado a fenómenos de alheamento social das crianças.

Alice está em contacto com o filho, este não pode sair do centro educativo, mas as visitas são permitidas- “Ele está a compreender tudo muito bem, percebe que errou e tem de estar ali, não se sente revoltado”. Alice não tem pressa que o filho volte para casa, prefere, se for o caso, que ele fique institucionalizado mais do que os seis meses iniciais, que poderão chegar a dois anos. O necessário para que uma vez de volta à família, os três possam mudar em definitivo esta página. Alice e João consideram que para já o filho está em boas mãos. “Estão a ser muito atenciosos. Ele esteve envolvido esta semana em atividades de jardinagem e gostou muito”.

Depois do acontecimento estes pais a conselho da Polícia Judiciária saíram das redes sociais e deixaram de ler notícias relacionadas com o caso. Estão os dois de baixa dos seus trabalhos. Sabem que há comentários nas redes sociais de compreensão, mas também de ódio para com o filho por parte de quem vive em Azambuja, mas relativiza. Já da parte da direção do agrupamento só tem elogios para Madalena Tavares e para a sua direção – “Foram cinco estrelas, de uma humanidade sem precedentes. Pedi desculpa a todos”. Como professora não tem dúvidas de que mais cedo ou mais tarde se deverá fazer um debate e uma reflexão sobre o que aconteceu, e pensar-se nos casos de sobredotação das crianças e numa tolerância entre todos, bem como do impacto do bullying e as questões psicológicas.

Alice ainda não falou com nenhum dos pais das seis crianças vítimas do ataque do filho, mas deixa um pedido de desculpas através do Valor Local – “Estamos de coração dilacerado e aflitos por tudo o que essas crianças e os pais estão a sofrer. O meu único desejo seria retroceder no tempo e que nada daquilo tivesse acontecido. Foi um ato de loucura e que não conseguimos explicar. Tivemos de ganhar força, alguns desses pais são nossos amigos. Podíamos ser nós do outro lado. Não há nada que possamos fazer infelizmente.” Estas são declarações dos pais às vítimas e à comunidade. Quanto ao filho “não consegue explicar o que aconteceu, acha que os colegas nunca mais o vão perdoar, assim que acabou o surto ele teve consciência de tudo, principiou a chorar e ficou em choque. Sempre lhe transmitimos os valores da empatia. Mas também lhe dissemos que agora vai ter de sofrer as consequências de tudo o que fez”.

Estes pais vão tentar colocar o filho um dia mais tarde numa outra escola noutra localização, “mas para já está a contas com as consequências do que aconteceu”. O filho também deixou à nossa reportagem uma mensagem aos colegas e aos pais ditada à mãe pelo telefone a partir do centro educativo – “Peço perdão por todo o sofrimento que causei aos pais e aos meus colegas, peço perdão também aos professores e auxiliares. O que mais queria era andar no tempo e mudar tudo o que aconteceu. Devia ter pedido ajuda”.

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