A falta de vagas em creche na freguesia de Samora Correia já fez com que algumas mães optassem por despedir-se dos seus trabalhos rumo ao o fundo de desemprego porque acaba por ser um mal menor. Muitos jovens casais a residir na freguesia são oriundos de outras zonas do país e não têm família de retaguarda que resida por perto e que lhes fique com os filhos. Depois de ter adiantado várias datas para a reabertura da creche Miúdos e Companhia, o presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho, chegou a um ponto em que não se compromete com novas datas. Entretanto a Segurança Social já deu luz verde ao município para que inicie as obras.
Érica Catarino é uma das mães que tem liderado um movimento que reclama pela reabertura do espaço, e conta ao Valor Local que nove meses passados desde o nascimento do filho, fez as contas e acaba por lhe compensar mais ficar em casa a usufruir do subsídio de desemprego, do que ter de se deslocar para o concelho de Vila Franca de Xira, onde chegou a encontrar vaga numa creche, mas entre viagens, combustível e a perda de tempo acabou por desistir. “Cheguei a acordo com a minha entidade patronal e vim-me embora. É triste o que está a acontecer. Preferia estar a trabalhar, como é óbvio. Só estive desempregada uma vez na vida e não chegou a um mês, e agora por falta de soluções tenho de ficar em casa”, lamenta-se à nossa reportagem.
Érica Catarino dá conta que só vai ter condições para arranjar emprego, após a reabertura da creche, isto se conseguir vaga para o filho. Agora como desempregada, terá mais possibilidades do que, no ano passado, quando falámos com esta mãe pela primeira vez, dado que pode passar diretamente para a lista dos agregados com menores recursos financeiros do programa Creche Feliz, que têm prioridade. São circunstâncias da lei que no seu entender enviesam a realidade. Não tendo com quem deixar o filho e não querendo arriscar uma ama ilegal das muitas que existem em Samora, refere que esta é a solução mais prática de momento pois a não ser assim teria de continuar a correr entre trabalho, casa, e creche no concelho de Vila Franca, e com todo o desgaste “físico, mental e financeiro” associado. Érica Catarino não tem dúvidas- “Neste país compensa ser subsidiodependente, que é algo que muitos fazem, mas que eu não pretendia”. Quanto ao município: “É triste que não arranje uma solução e que tenha andado a empurrar isto até, dada altura, com a barriga”. “O que está a acontecer no nosso concelho é vergonhoso. Já tentámos saber junto da Segurança Social como é que isto se resolve, mas empurram de um lado para o outro e acusam a Câmara de não se ter mexido a tempo e horas, o que não deixa de ser verdade”.
Em outubro do ano passado, Carlos Coutinho deu conta, numa sessão da Assembleia Municipal de Benavente, que a Miúdos e Companhia foi adquirida com licença de utilização, “mas sempre que muda a entidade exploradora, neste caso para a Câmara, essa licença caduca e é necessária uma nova autorização, porque a legislação agora é mais exigente”. O município reuniu-se com a Segurança Social diversas vezes ao longo deste processo, mas a burocracia teimou em atrasar uma decisão. Nesta altura ainda não há datas concretas para a reabertura do espaço que será gerido pela Fundação Padre Tobias, que tem, ainda, em mãos um projeto para a abertura de uma creche de raiz em terrenos situados entre o Centro Escolar de Samora e o Centro Cultural.