Valor Local- Em traços gerais que balanço faz deste seu segundo mandato como vereador da oposição CDU na Câmara de Alenquer?
Ernesto Ferreira- Distinguimo-nos neste mandato como um partido de crítica, mas também de proposta. O balanço do nosso mandato é positivo porque debatemo-nos, entre outros temas, por um melhor acordo na concessão das águas. Agora até o PS concorda que tem de regressar à gestão pública.
Neste mandato e na oposição PSD que conta, tal como a CDU, com apenas um eleito na Câmara, tivemos o vereador Nuno Henriques, uma pessoa bastante exuberante. Foi mais difícil para si ser notado?
Não vou tecer comentários sobre a pessoa do vereador Nuno Henriques. Somos amigos, embora sejamos de partidos diferentes. Convergimos nalgumas matérias, noutras não. Portanto, essa é uma questão que não se coloca.
Tinha vontade de ser candidato pela terceira vez à Câmara? O que tem de novo para apresentar aos munícipes do concelho?
Talvez pudéssemos ter outro candidato, mas não foi possível. O que me levou a querer encabeçar de novo este projeto foram questões que continuam válidas e na ordem do dia, como o custo da fatura da água no concelho, a habitação no município, as escolas, a mobilidade. Os problemas que o concelho tinha em 2017, nalguns casos agravaram-se.
“Os problemas que o concelho tinha em 2017, nalguns casos agravaram-se.”
O candidato do PS à Câmara, João Nicolau, também defende o retorno da gestão da água em 2033 à esfera da autarquia, logo aqui não há muito que o separe dos socialistas, como é que em campanha eleitoral, vai fazer para sobressair ou demarcar-se?
O que o candidato do PS fez foi pedir a retirada da proposta de aumento da água – que culminou nos 6 por cento ao abrigo do reequilíbrio financeiro –, apresentar um memorando de entendimento, mais um segundo aumento em cima do anterior ao abrigo da lei (4,66 por cento). Ele tem também de apresentar um estudo que ainda não apareceu. Acresce ainda o pagamento de 500 mil euros que a Câmara tem de efetuar à Águas de Alenquer do qual a Câmara não pode ser responsabilizada.
Contudo houve aqui algumas concessões de parte a parte. De recordar que a concessionária chegou a apresentar um pedido de reequilíbrio de 53 por cento. Inicialmente a Águas de Alenquer queria ser indemnizada pelos prejuízos com o calcário. No seu entendimento a Câmara deveria ter pugnado pelo benefício total nesta negociação e não abrir mão de nada, sob pena de a concessão ir parar a um tribunal arbitral?
Apenas dizemos que a Câmara de Alenquer aceitou pagar um valor à concessionária que não é da sua responsabilidade, e por isso propusemos e foi votado favoravelmente para que juridicamente se conseguisse indagar se nos podemos livrar deste pagamento. Se não der aceitamos o que for proposto.
“Alguém disse: Quem manda aqui no PS sou eu, e essas pessoas (Rui Costa e Dora Pereira) tiveram de sair”
Este mandato foi particularmente tenso, pois saíram da Câmara os vereadores Rui Costa, Dora Pereira e até se chegou a falar em Paulo Franco, como é que assistiu a estes episódios?
Ficou patente uma desorientação, com situações de guerrilhas internas do Partido Socialista que acabaram por prejudicar a atividade normal do município. Alguém disse: Quem manda aqui no PS sou eu, e essas pessoas tiveram de sair…Depois tivemos aqui uma série de peripécias em matérias como as luzes de Natal, a disponibilização de frutas para as escolas.
Está a falar dos pelouros de Rui Costa, cuja gestão posterior não foi a melhor?
Gosto imenso da vereadora Cláudia Luís, assim como de todos os outros. Não tenho problemas com ninguém, mas tivemos o caso das luzes de Natal, e depois a fruta, mais o das crianças da escola de Cheganças, mas independentemente de tudo isso, a gestão é do PS, corporizada agora na candidatura do Novo Impulso e na pessoa de João Nicolau.
Falando agora dos eventos levados a cabo pelo município, acha que trazem mais retorno ou despesismo, nomeadamente, a Alma do Vinho e o Natal?
No que toca à Alma do Vinho o valor do bilhete é caro, tendo em conta que o evento não apresenta apenas os vinhos do concelho de Alenquer, mas da região de Lisboa. A Câmara estar a financiar na totalidade um evento que tem vinhos de fora…
Pensa que os vinhos do concelho ficam perdidos entre os muito que estão representados no certame?
Sim ficam perdidos no meio daquilo tudo. Não estou contra a presença dos demais vinhos. Penso que seria importante as empresas do concelho estarem representadas de outra forma, possivelmente durante a Feira da Ascensão.
No dossier da Chemina, o parceiro que a Câmara encontrou através de hasta pública abandonou o projeto. O presidente da autarquia referiu que pretendia avançar com um pedido de indemnização. Tem informação sobre este ponto de situação.
Não sabemos de nada, mas nunca fomos a favor de entregar o projeto a privados. Defendemos algo que dê vida àquela parte da vila, com vários espaços de restauração, cultura, centro de congressos, e talvez hotelaria. A Câmara deve fazer algo de per si, aproveitando fundos europeus, por exemplo.
Foram apresentados os primeiros esboços do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS). (A ideia deste documento é traçar algumas linhas sobre o futuro do concelho de Alenquer para alcançar uma mobilidade intermodal e sustentável e que fomente a utilização de mais transportes públicos por parte da população, levando em conta a criação de incentivos à utilização de veículos mais sustentáveis, diminuindo assim, a emissão de gases poluentes e melhorando a qualidade do ambiente urbano). Qual a apreciação que faz do que foi dado a conhecer até a momento?
É um estudo para já que surge com muito atraso. Temos problemas muito graves a esse nível como por exemplo no Carregado e as questões do trânsito, não só de pesados, mas também de ligeiros, agora temos o candidato do ‘Velho Novo Impulso” socialista a dizer que é desta que vai resolver os problemas desta vila. Este plano vem com 50 anos de atraso, ainda por com a o vereador responsável por este plano não vai continuar. O que defendemos é uma variante no Carregado.

Está mais interessado em falar no seu novo opositor político nas autárquicas do que no atual presidente de Câmara?
O atual presidente está de saída, só vai estar até setembro ou outubro.
Têm sido recorrentes queixas de munícipes relativamente à forma como são tratados por funcionários da autarquia, tanto por uma funcionária do canil como por técnicos encarregues da fiscalização de obras particulares. Até publicamente um presidente de junta foi crítico em relação aos trabalhadores da Câmara no seu geral. A CDU como força política que defende os trabalhadores reconhece que existem problemas?
Como em todo o lado há melhores e piores trabalhadores. A Câmara de Alenquer tem 740 trabalhadores. A autarquia regista 11 por cento de absentismo. Agora, acho as declarações do presidente da junta do Carregado deploráveis ao dizer que se fosse presidente da Câmara despedia 50 por cento dos funcionários. Não votem nele no próximo ato eleitoral.
Outra das problemáticas diz respeito à limpeza e higiene urbana, sempre com muitas críticas quanto à recolha do lixo pela empresa Ecoambiente.
A empresa não faz bem o seu serviço, mas também há o outro lado: o cidadão que não tem em conta que vive numa sociedade e que tem obrigações e isso nota-se muito a nível do despejo de monos. O que o município tem de fazer é criar rotinas ajustadas com a empresa, de forma a que a higiene urbana seja o mais eficiente possível, eventualmente com mais dias de recolha em determinados pontos e isso é trabalho da Câmara também que deveria fiscalizar o trabalho da Ecoambiente. Por outro lado, a renovação do contrato anda a ser empurrada com a barriga há seis ou sete anos. Acho que o município deve pensar em agregar a recolha dos resíduos sólidos urbanos à gestão da água e saneamento no futuro, numa espécie de SMAS como tem Vila Franca e Torres Vedras, que até dão lucros na casa do milhão de euros.
Nas questões da Saúde, a Câmara aceitou a transferência de competências, contudo os centros de saúde e não só continuam a apresentar problemas.
No Carregado, não temos médicos, em Abrigada também não, onde parece que as coisas estão menos mal é na USF de Alenquer. A transferência de competências não acompanhou o resto.
“O Grupo Mello abriu uma nova unidade em Alcântara, depois de ter ganhado dinheiro com a nossa Saúde.”
E agora temos o anúncio do regresso da PPP ao Hospital de Vila Franca feita por este Governo. O PSD pode ou não ganhar as próximas eleições, mas se assim for a PPP também ficará responsável pelos centros de saúde. Teremos médicos com fartura nos centros de saúde ou não. O PCP é contra as PPP.
O problema não é sé é público ou privado, porque se o gestor é bom sê-lo-á das duas maneiras ou então está a fazer um frete a alguém. Se é público não resolve, se é privado dá dinheiro, então há algo aqui que não está a funcionar. Se a saúde é um bem primário tem de ser pública. O Grupo Mello abriu uma nova unidade em Alcântara, depois de ter ganhado dinheiro com a nossa Saúde.
Nunca vai ao privado?
Sim claro que vou. Não tenho outro remédio. Desde há poucos meses que tenho médico de família, mas ainda não o conheço.